Um estudo realizado ano passado pela empresa de consultoria norte-americana BCG (Boston Consulting Group) estima que em 2030 metade da frota de carros do mundo será movida a energia elétrica ou híbrida (que utiliza motores elétricos e a combustão no mesmo conjunto).
De olho nesse mercado potencial, a empresa mineira CSEM Brasil, com sede em Belo Horizonte, está com uma novidade para lançar no mercado: um estacionamento que vai servir também para gerar energia para o veículo.
Trata-se do Carport, projeto que está sendo desenvolvido em parceria com a multinacional de energia AES, que vem criando produtos de baixo impacto ambiental. De acordo com os idealizadores, a solução, além de sustentável, será de fácil integração aos centros urbanos e vai produzir energia de baixo custo. Ainda não há previsão de quando o novo produto será comercializado.
Rodrigo Vilaça, líder do projeto no CSEM Brasil, afirma que não faz sentido ter um carro elétrico se o usuário tiver, por exemplo, que usar a energia que vem de uma termelétrica (substituindo o óleo do automóvel pelo óleo da usina) ou mesmo outras fontes energéticas poluentes. “Não há nada mais lógico do que investir em um sistema que gera energia, sem nenhum dano ao meio ambiente, para carregar o carro que não polui”, afirma o executivo.
Na verdade, estacionamentos que usam energia solar não chega a ser novidade, nem mesmo no Brasil. Os que existem hoje, entretanto, usam os painéis tradicionais, que são mais pesados (cerca de 20 kg por m² – e por isso exigem uma estrutura mais pesada), além de mais caros, o que dificulta a sua popularização.
A novidade do projeto Carport está no uso dos chamados painéis solares orgânicos ((OPV – Organic Photovoltaic), desenvolvidos pela CSEM em Belo Horizonte. Eles são mais práticos, tem menor custo e oferecem grandes possibilidades de design, por conta de sua maleabilidade. Cada metro quadrado de um painel de OPV pesa apenas 400 g.
Energia verde
Hoje, os painéis de OPV são considerados como a energia solar mais verde existente. Sua produção, que é comercializada pela spin-off Sunew, utiliza materiais orgânicos a baixas temperaturas. Suas características, de acordo com o líder do projeto, Rodrigo Vilaça, vão permitir que o Carport seja um estacionamento futurista, barato e prático, que o consumidor poderá comprar numa loja de departamentos, levar para casa e instalar onde desejar.
O painel OPV é fruto de dez anos de pesquisa realizada pela CSEM Brasil, um centro de pesquisa aplicada, privado e sem fins lucrativos, afiliado ao CSEM suíço, também um reconhecido centro de pesquisa. É constituído de um filme plástico em que tintas à base de carbono impressas têm a capacidade de transformar a luz solar em energia elétrica.
É feito em prensas similares às de jornais. Elas imprimem cinco camadas de tintas no filme plástico: duas intermediárias, responsáveis pela criação de elétrons, uma em cima, para conduzir as cargas positivas, uma inferior, que transporta as cargas negativas, e um terminal metálico que fecha o circuito.
Se comparado aos tradicionais painéis fotovoltaicos existentes no mercado, feitos à base de silício, o OPV apresenta uma série de vantagens. É bem mais leve, flexível, relativamente transparente, fácil de ser aplicado em diferentes superfícies, produzido apenas com materiais orgânicos e, consequentemente, mais sustentável.
Seu uso é múltiplo. Ele pode ser aplicado em fachadas de edifícios, coberturas, em veículos, em capinhas de celular, em equipamentos urbanos, como pontos de ônibus, gerando energia limpa e sustentável.
Quem foi à última edição do Rock in Rio deve se lembrar de ver algumas “árvores” diferentes, cujas “folhas” eram placas de OPV. Batizadas de OPTree, nada mais eram que geradores fotovoltaicos em formato de árvores, que transformavam luz solar em energia elétrica. Nelas o público podia, por exemplo, carregar seus smartphones.
A fábrica da CSEM/Sunew em Belo Horizonte tem capacidade para produzir até 400 mil metros quadrados de filmes por ano.