Um dia desses, ao ouvir uma verdadeira sinfonia vinda da mangueira do quintal, Papai nos surpreendeu à mesa do almoço com um verdadeiro tratado sobre o sabiá.
- Ele tá cantando: “Sinhô, sinhô, quero chuva!!”. É sempre assim quando o tempo tá desse jeito, comentou o Velho Osvaldo Rezende, emendando logo com uma pergunta que ele mesmo se encarregou de responder:
- Vocês sabiam que há dois tipos de sabiás? O laranjeira e o barranqueiro. O que diferencia um do outro é a cor do peito e o habitat. O peito do laranjeira é roxo. Ele vive nos pomares. Já o barranqueiro é pardo e prefere as matas. Mas, tá tudo mudado. Não vou estranhar se qualquer dia a gente encontrar o barranqueiro em algum pé de fruta.
E ai foi pergunta que não acabava mais. Beto, meu irmão, conhecedor que também é das coisas da natureza, só espiava e ria com o canto da boca. E lá veio mais informação:
- Essa cantoria aumenta quando a fêmea tá chocando. Êta passarinho ciumento! Nunca sai de perto e fica o tempo todo rodeando a fêmea.
Eu, na minha ignorância mezzo roceira, mezzo urbana, fiquei matutando: num é que a cantoria do sabiá é bonita mesmo? Certamente foi esse canto que inspirou Luiz Gonzaga e Zé Dantas a criarem a canção preferida:
“A todo mundo eu dou psiu, psiu,
Perguntando por meu bem, psiu.
Tendo um coração vazio, psiu,
Vivo assim a dar psiu
Sabiá vem cá também
Tu que andas pelo mundo, Sabiá,
Tu que tanto já voou, sabiá,
Tu que fala aos passarinhos, sabiá,
Alivia a minha dor, sabiá.
Tem pena d´eu, sabiá.
Diz por favor, sabiá
Tu que anda no mundo, sabiá.
Onde anda meu amor, sabiá.”
Amo essa canção. Na voz do Gonzagão é um deleite. Com Luci Alves e Vanessa da Mata, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e do Alceu Valença também são lindas.
Há outras canções sobre os sabiás. A da Roberta Miranda o Papai adora:
“Ah, tô indo agora
Pra um lugar todinho meu
Quero uma rede preguiçosa pra deitar
Em minha volta sinfonia de pardais
Cantando para a majestade, o Sabiá,
A majestade, o Sabiá.”
O sabiá também inspirou “Saudades do Jeca”, “Saudades da minha terra” e mais uma infinidade de canções e de causos.
Indo ali ouvir mais um. Ah, não há como escrever sobre sabiás sem que junto venham as fotos do Nicodemos Rosa.
Que vontade de estar debaixo dessas árvores e ouvir o canto dos sábias. Saudades da minha infância perdida.
Nada como ouvir os causos com a sabedoria de quem está entre nós a 90 anos. Papai sempre nos ensinando.
E tem Sabiá,, de Tom e Chico, ganhadora do Festival Internacional da Canção, que levou uma vai imerecida por causa de “Pra não dizer que não falei das flores – Caminhando). Aí o Sabiá é o símbolo do Brasil aos olhos de um desterrado. Mas seu pai é que entende dessas coisas da terra.
E tem Sabiá,, de Tom e Chico, ganhadora do Festival Internacional da Canção, que levou uma vai imerecida por causa de “Pra não dizer que não falei das flores – Caminhando). Aí o Sabiá é o símbolo do Brasil aos olhos de um desterrado. Mas seu pai é que entende dessas coisas da terra. Beijo. Marcus
E tem Sabiá,de Tom e Chico, ganhadora do Festival Internacional da Canção, que levou uma vai imerecida vaia por causa de “Pra não dizer que não falei das flores – Caminhando). Aí o Sabiá é o símbolo do Brasil aos olhos de um desterrado. Mas seu pai é que entende dessas coisas da terra. Beijo. Marcus
Que delícia de texto! E apesar da devastação e das queimadas da nossa flora o sabiá ainda nos encanta com o seu canto.
Saudade da cantoria…
Texto que nos enche de saudade…
Que lindo!!! E aqui em Conceição do Pará, temos essa oportunidade de ouvir o canto dos pássaros!!!
Lindo texto! Parabéns por colocar tanta simplicidade e lindeza na escrita!
Aqui em casa, nesse momento, tem dois sabiás-laranjeira morando debaixo do telhado aqui da edícula. São dois ninhos sendo cuidados por dois turdos rufiventris, nome científico do sabiá-laranjeira, que tem um lindo canto melancólico, sempre de manhãzinha e no final da tarde. A Lulu fica emocionada com o canto deles. Todo ano eles aparecem pra fazer pelo menos um ninho por aqui. Esse ano são dois. E teve um ano que foram quatro. Um teve os filhotes na varanda da sala. Todo dia eu punha um pedaço de mamão pra mamãe sabiá alimentar seus filhotes. Aqui no quintal, temos colocado mamão, banana e alpiste no restaurante. E as frutas estão exuberantes. Tem jabuticaba, mamão, cagaita, acerola, pitanga, amora e coquinho, todos caindo pelo chão de maduros. E sempre tem água limpa na fonte. Os sabiás gostam daqui de casa e a gente adora essa troca. Tudo por aquele canto lindo todo dia no quintal. Não tem preço. Ah, e o sabiá barranqueiro também tá sempre por aqui. E não fazemos distinção, é claro. Todos são bem vindos.❤