Você, certamente, já ouviu dizer que “quem come de tudo tá sempre mastigando”. Ou que por aí “tem muita gente comendo o pão que o diabo amassou”. E quem nunca ouviu dizer que fulano de tal “come angu e arrota caviar? Iguais a esses há muitos outros ditos populares que associam o comportamento humano ao ato de comer.
Alguns têm até explicação histórica. Quer um exemplo? “Comer na gaveta”. A origem desse ditado está nas antigas mesas de refeição que na época do Brasil Colônia vinham com gavetas. Conta-se que quando as visitas chegavam era para as gavetas que iam as comidas, hábito que muitos ainda creditam à avareza dos anfitriões. Será? Há divergências.
Alguns historiadores desmentem essa versão. Nelson Omegna é um deles. Na obra “A cidade Colonial”, o autor afirma que os donos da casa escondiam a comida na gaveta para não expor ao visitante a pobreza de suas refeições. Isso porque no Brasil Colônia os alimentos atestavam a condição social do cidadão.
Eduardo Frieiro, no livro “Feijão, Angu e Couve”, concorda com essa tese. Frieiro conta que na mineira Mariana, os moradores, tendo em vista os poucos recursos dos quais dispunham, não escondiam o prato por sovinice, mas por vergonha do que ele continha. Mônica Chaves Abdalla, autora de “Receita de Mineiridade: a cozinha é a construção da imagem do mineiro”, e Caloca Fernandes, que escreveu “Viagem Gastronômica através do Brasil”, endossam essa tese.
Mas de onde veio essa lenda de que “gaveteiro” é sinônimo de avarento? Parte da culpa credita-se ao comércio de antiguidades. Senhores antiquários, queiram-me bem. Fiquei sabendo disso porque ando saboreando “O país das bananas”, um delicioso livro de crônicas escrito por J.A Dias Lopes. Na obra, o autor afirma com todas as letras que “colocar à venda uma antiga mesa de jantar equipada com gavetas e dizer que ela existe graças à sovinice do povo é algo que cutuca o interesse público. Será? Pode ser.
Você deve estar aí se perguntando:
– Mas que comida é essa que envergonhava o anfitrião e acabava escondida na gaveta?
Uai, em se tratando da cozinha das Gerais, que tal “Tutu à mineira com lombinho assado”? Se naquela época era sinal de pobreza, hoje faz a festa de qualquer mesa imperial. Aqui vai a receita:
Lombinho mineiro
Ingredientes:
- 1 lombo de porco (1 1/2 kg)
- 1/2 limão2 taças de vinho branco seco
- Sal e pimenta do reino a gosto
- Manteiga pra pincelar
- Rodelas de limão (pra decorar)
Modo de fazer:
Coloque o lombo numa travessa junto com o vinho, o suco de limão, o sal e a pimenta. Deixe marinando por duas horas. Leve ao forno embrulhado em uma folha de papel alumínio. Quando espeTar o garfo e sentir que a carne está macia, retire o papel, pincele com a manteiga e deixe dourar. Sirva decorado com as rodelas de limão.
Tudo de feijão
Ingredientes:
- 2 xícaras de feijão
- 150 gramas de bacon
- 1 folha de louro
- Salsinha
- Farinha de mandioca
- 1 cebola grande picadinha
- 2 a 3 dentes de alho esmagados
- 1/2 kg de tomates sem pele
- 1 pimenta malagueta
- 2 copos de caldo de feijão
- 1 maço de couve
- Rodelas de ovo cozido
Modo de fazer:
Cozinhe o feijão em bastante água junto com o louro, o bacon e os talos da salsinha.
Quando estiver cozido, passe o feijão junto com o bacon no liquidificador. Antes, retire louro e os talos da salsinha. Leve o puré de feijão a uma panela. Tempere e vá acrescentando a farinha aos poucos para não empacotar.
Em outra panela coloque o caldo do feijão, a cebola, o alho, o tomate e a pimenta. Deixe reduzir bastante. Tempere com sal. No final acrescente a salsinha picada. Misture esse molho ao tutu de feijão. Decore com os ovos cozidos e sirva junto com a couve refogada rapidamente na manteiga. Dê apenas um susto nela pra que fique crocante.
Engavetar comida. Não sabia. Cada dia mais aprendendo com suas crônicas.
Gisele, sensibilidade é seu nome. Como sempre me deliciando com seus causos.
Adorei como sempre. Ansiosa pra saber o que será que a Gisele vai nos presentear semana que vem.