Por que a observação de aves cresce tanto e atrai cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo? As respostas variam de acordo com quem é consultado, mas o fato é que a cada dia mais gente compra binóculos, gravador e/ou equipamento fotográfico e sai de casa disposta a ver, ouvir ou fotografar as espécies mais diversas da nossa avifauna, seja um prosaico pardal, seja a raríssima rolinha-do-planalto, considerada extinta há 75 anos e reencontrada em 2016 no interior de Minas.
Para economistas, a atividade é lucrativa e desperta o interesse de investidores. Para especialistas em turismo, a observação de aves é o novo filão de ouro do turismo de natureza. Para adeptos da vida saudável, ajuda a manter a forma física. Já para defensores do meio ambiente, os observadores de aves contribuem para preservar a flora e a fauna. E quem trabalha como guia vê na geração de emprego e renda o maior atrativo do bird watching (termo em inglês).
Seja por qualquer uma das razões citadas acima, ou por todas elas, o fato é que a observação de aves não para de crescer e encontrou no Brasil um paraíso ainda pouco explorado. O país tem cerca de 2 mil espécies catalogadas e, apesar da crescente destruição ambiental, ainda preserva locais intocados, como trechos da Amazônia, da Mata Atlântica e mesmo do Cerrado, um dos biomas mais castigados pela ação do homem.
Um exemplo dessa diversidade foi a descoberta, anunciada em maio do ano passado, de exemplares da rolinha-do-planalto, espécie que os pesquisadores consideravam extinta desde 1941. A espécie foi encontrada em uma área de Cerrado no interior de Minas, e a localização exata é um segredo mantido sob sigilo total, pois a espécie está criticamente ameaçada de extinção e qualquer desequílíbrio no hábitat onde ela vive pode levar a seu desaparecimento.
Já na Serra da Canastra, também em Minas Gerais, vive outra espécie que mexe com a imaginação dos observadores de aves: o pato-mergulhão, também criticamente ameaçada de extinção. A Canastra é o último refúgio da espécie no Brasil, e estima-se que apenas cerca de 250 indivíduos vivam soltos na natureza. Alguns programas de reprodução da espécie em cativeiro começam a dar resultados, mas tudo ainda é muito tímido diante do tamanho da ameaça que é a destruição sistemática e crescente do Cerrado.
Diversidade em todo canto
Em termos de Brasil, a primeira referência que se tem quando se fala em observação de aves é a Amazônia. A presença de espécies de plumagem multicor, as grandes araras e papagaios raros, além de outras aves encontradas somente na região, transformaram o Norte do país em uma meca para observadores de aves de todo o mundo.
Um dos locais de confluência de observadores amadores, ornitólogos e biólogos é a cidade de Alta Floresta, no Mato Grosso, quase na divisa com o Pará. Diariamente, no único voo que liga a região a Cuiabá, capital do estado, desembarcam dezenas de bird watchers, brasileiros e estrangeiros, que se dirigem a uma das pousadas especializadas em observação de aves.
No Pantanal, tanto no Mato Grosso quanto no Mato Grosso do Sul, há inúmeras opções para observação da avifauna local. Dezenas de fazendas e refúgios oferecem essa atividade. Além disso, ao contrário da Amazônia, onde a floresta densa e alta é um dificultador para quem pratica birdwatching, a topografia e a vegetação pantaneiras possibilitam o avistamento e o registro das aves.
No Sudeste, as áreas de Mata Atlântica que ainda resistem no Rio, em São Paulo e no Espírito Santo são abrigo para um grande número de espécies. Nestes locais a quantidade de guias, hotéis e pousadas que oferecem serviços e hospedagem é grande e muito bem estruturado, sem contar que a distância é bem menor em comparação com a Amazônia ou o Pantanal.
BH, abrigo para aves raras
Quem anda apressado por BH sem prestar atenção nas praças, quintais e parques da cidade não imagina que entre prédios, árvores e jardins vivem pelo menos 365 espécies da avifauna, já oficialmente registradas na área urbana do município. Além dos tradicionais bem-te-vis, rolinhas, sabiás e pombas asa-branca, avistados com facilidade, a cidade oferece abrigo para aves raras e ameaçadas de extinção.
O falcão-peregrino, ave migratória do Hemisfério Norte, que anualmente voa para o Brasil, já foi avistado na praça da Savassi. É o rapinante mais rápido do mundo e uma das espécies mais admiradas por seu voo e por sua capacidade como caçador.
A poucos quilômetros da Savassi, a Serra do Curral, patrimônio nacional e símbolo de BH, é outro local onde a presença de aves é abundante. No parque que leva o mesmo nome da serra já foram registradas 145 espécies. A maior atração é a águia-serrana. Um casal mora no alto da serra há pelo menos 20 anos. Este ano, em junho, dois filhotes foram avistados voando com os pais.
Além dos rapinantes, o Parque Serra do Curral é abrigo de outras espécies ameaçadas de extinção, como o capacetinho-do-oco-do-pau e a cigarra-do-campo, que dividem espaço com aves que chamam a atenção pela plumagem colorida, como o campainha-azul, a saí-andorinha, saíra-amarela, tangarazinho, beija-flor-de-orelha-violeta, bico-de-veludo e sanhaçu-de-fogo,entre outras.
O Parque Municipal, no Centro de BH, é outro local onde ainda é possível avistar muitas espécies de aves, apesar da ameaça cada vez maior das centenas de gatos abandonados no local. Os felinos se alimentam de ovos, filhotes e aves adultas e são um risco real de extinção para a avifauna do mais tradicional parque urbano da capital.
Na Pampulha, a orla da lagoa tem uma grande diversidade de espécies. Entre as aves aquáticas, o mergulhão-caçador, a paturi-preta e as inconfundíveis garças são registrados frequentemente. Já aves migratórias, como o príncipe, de um vermelho intenso, e a tesourinha, aparecem apenas em determinadas épocas do ano e depois seguem seu rumo. Os jardins do Museu de Arte da Pampulha e o Parque Ecológico são pontos privilegiados para quem quiser ver, ouvir ou fotografar essas e outras aves.
O Museu de História Natural da UFMG, na Região Leste da cidade, o Parque Lagoa do Nado, o Parque das Águas, no Barreiro, o Parque das Mangabeiras e muitos dos 54 parques de BH também são bons locais para travar contato com a prática do birdwatching. Recomenda-se apenas os cuidados básicos com a segurança, evitando locais ermos e de difícil acesso. Riscos de roubos e de acidentes sempre existem.
Para quem quiser se aventurar no entorno da capital e cidades próximas, dois pontos merecem destaque: a Serra do Cipó, com centenas de espécies, entre as quais algumas endêmicas da região, como o lenheiro-do-espinhaço e o pedreiro-do-espinhaço, e a região de Nova Lima, a partir do Vale do Sereno. A Reserva Permanente do Patrimônio Natural (RPPN) do Jambreiro, pertencente à Vale e aberta à visitação pública, é um local onde podem ser avistadas algumas espécies de belas cores, como saíras, tangarás e beija-flores.
O que é preciso para passarinhar
Da mais simples à mais sofisticada, há diversas opções de binóculos, câmeras fotográficas e lentes para quem quer começar a observar aves. Roupas confortáveis, tênis apropriados para longas caminhadas ou perneiras/botas para proteção antipicadas de cobras completam a tralha de quem vai “passarinhar”.
As câmeras fotográficas recomendadas para o birdwatching se dividem em duas categorias: superzooms e DSLR, que usam lentes intercambiáveis. As superzoom são compactas, leves, com lentes zoom que podem alcançar o equivalente a 2.000mm de distância focal.
O preço varia entre R$ 1.000 e R$ 2.000 e os modelos mais fáceis de encontrar são da Sony, Canon e Nikon. A qualidade não é a mesma de uma DSLR, mas, para a publicação em redes sociais e impressões de até 28cm por 35cm, as fotos feitas com uma superzoom atendem bem às demandas da maioria dos fotógrafos.
Já as câmeras que usam lentes intercambiáveis são mais pesadas, bem mais caras e exigem alto investimento. Modelos mais simples e antigos podem ser comprados por cerca de R$ 1.000. Por sua vez, as câmeras ditas “profissionais” chegam a custar até R$ 16 mil. Canon e Nikon são as marcas mais usadas por quem faz fotos de natureza.
Quem optar por uma DSLR terá que comprar também uma objetiva de longo alcance, que tem custo elevado. Recomenda-se o uso de lentes com pelo menos 300 mm de distância focal, mas há objetivas que chegam a 800 mm. Os preços variam de R$ 400 ou R$ 500, para objetivas simples, zoom, básicas, a até R$ 60 mil, para uma lente Canon 600 mm F/4. O peso é outro fator que deve ser levado em consideração. A Canon 600mm F/4 pesa cerca de 5,3 kg.
Quem escolher uma lente dessas terá que estar em ótima forma para carregar mais de 6 kg de equipamento no mato ou em trilhas acidentadas. Nesse caso, recomenda-se o uso de tripé ou monopé, para assegurar a estabilidade do equipamento na hora da foto. O custo do tripé ou monopé oscila de R$ 150 a R$ 2.000, de acordo com a qualidade.
Quanto aos binóculos, há dezenas de modelos chineses à venda, com preços a partir de R$ 60 ou R$ 70. Mas há também modelos da Canon e Nikon, com ótica de extrema qualidade, e que chegam a custar R$ 1.300.
Comprar equipamentos usados, de boa procedência, é a solução mais indicada para quem não quer gastar muito para iniciar o hobby. Recomenda-se apenas comprar de vendedores de reputação reconhecida e evitar os golpes comuns em vendas on-line.
Parabéns meu amigo Alvaro pelo excelente texto e pelas maravilhosas fotos.
Com certeza teremos sempre informações e fotos de muita qualidade afinal vc tem o dom da escrita e da fotografia.
Forte abraço e estarei por aqui sempre te acompanhando.