Não sei como é com vocês, mas aqui em casa a gente anda praticando o tal ócio criativo. E dá-lhe prosa em torno da mesa. Os “causos” do Velho Osvaldo, se já eram puro deleite, agora viraram remédio pra curar a alma. E é dos “bão”, viu?
Ainda ontem ele nos divertiu contando sobre a noite em que a Camélia invadiu a pista de dança de um afamado cabaré de Pitangui. Isso faz tempo. Aconteceu quando ele ainda era um rapazinho.
A história começou quando Papai pegou a estrada rumo à cidade.
– O coração saltava pela boca só de pensar que pra chegar em Pitangui antes teria que passar pela curva da grota. Ali, volta e meia aparecia uma alma penada. O amigo Totonto do Agenor não me deixava mentir. Meu pai, o Nonô, também, não. Se eles já tinham visto, quem era eu para duvidar?
– Foi só chegar não grota que quase cai do cavalo, assustado que fiquei com um barulho que vinha lá da mata fechada. Pelo jeito não era assombração. Tava mais pra onça pintada. Segurei firme o Smith & Wesson. E ainda rezei dez Pai Nosso e umas cem Ave Maria. Depois acelerei a marcha e segui em frente até vencer a tal grota mal assombrada.
Mais um pouco e já dava pra ver a torre da Matriz do Pilar e as primeiras luzes da cidade. Pitangui estava bem perto.
Sem modéstia, Papai conta que como se cuidava, estava sempre bem trajado. Usava capa Ideal Três Coqueiros, chapéu Prada e sapato Fox cromado preto. O solado fino era pra ajudar na dança.
– E num é que impressionei mesmo? Cada moça bonita que só vendo. Dancei com todas. Tudo corria melhor que a encomenda. Até que o baile foi interrompido. Só se via cadeira virando, copo quebrando, gente correndo pra todo lado, moça chorando e a peãozada se aprumando pra defender o lugar.
Foi nesse ponto que o Papai tomou um fôlego, deu um sorriso e, finalmente, revelou o motivo de toda aquela confusão.
– Era o Geraldo do Isaias. Sabe-se o porquê, ele invadiu o salão montado na Camélia, uma belezura de mula que eu tinha vendido pra ele muito a contragosto.
Passado o susto, conta feita, prejuízo pago, a música voltou a tocar na vitrola. Logo os casais voltaram à pista de dança. E ainda teve várias rodadas de bebida. Claro que todas ficaram por conta do Geraldo. Tudo para comemorar aquela noite em que o salão de baile virou arena de peão.
Pra hoje, Papai promete mais. Até adiantou que hoje vai contar sobre o dia em que a minha bisavó Donana botou pra correr um peão que a desafiou . Tem também aquela do …. E ainda aquela …. Felizmente, o repertório do Papai é inesgotável e por aqui história é o que não falta pra ser contada.