A cerveja gelada do Bar do Joaquim dá de dez na breja de qualquer lugar estrelado. Quem dá a dica é o meu cunhado Marcel. Duas vezes por ano ele junta a família, deixa Brasília para trás e vem pra Conceição do Pará.
Por aqui, sempre há tempo para um pit stop no Bar do Joaquim. É de lei. Agenda obrigatória pra quem nasceu por aqui e pra quem foi adotado pela cidade. Não há programa melhor.
O cardápio, com DNA mineiro, agrada a gregos e troianos. Tem de maçã de peito a mãozinha de porco, tudo de lamber os beiços. Literalmente. E o pastel de carne da dona Terezinha? E a empada que faz a alegria de um político muito conhecido? Inesquecível.
Se a comida é boa e a cerveja está sempre gelada, a prosa do Seu Joaquim é da melhor qualidade.
Tem até aquela história do cliente que só bebia de 15 em 15 dias, que é quando o caminhão da cerveja Correinha chegava, vindo lá de Bom Despacho. Ai não dava outra: o cliente apontava pra carroceria e escolhia a caixa de cima.
O resto da história todo mundo já sabia: ele tomava uma pinga e, na sequência, entornava guela abaixo a cerveja quente. Não, uma. Tomava todo o engradado. Depois da última cerveja, já prá lá de Bagdá, quase meia noite, o tal cliente descia as escadas do bar. Descia é modo de dizer. Na verdade, ele, assentado, vencia degrau por degrau até chegar à rua.
E lá vem mais histórias, algumas de políticos bem conhecidos; outras de anônimos, mas todas com a narrativa deliciosa do Seu Joaquim, que não poupa nem a ele mesmo.
– Quando eu bebia, isso há mais de 20 anos, me apelidaram de “Três Golo”. Era uma pinga, um gole d’água e outro de café.
Mas, café com pinga?
– Uai, o melhor tira-gosto pra pinga é café.
E se a bebida virou história, com o cigarro não foi diferente.
– Fumei o derradeiro cigarro no dia 29 de setembro de 1973. O vício tava me dominando. Teve uma vez, indo pra Capuava à cavalo, me dei conta que tava sem o meu Continental sem filtro. E num é que no escuro vi quando alguém jogou um toco de cigarro na estrada? Nem pensei duas vezes. Arriei do cavalo,catei o toco e fumei ali mesmo.
Uma história puxa a outra. O bar nasceu na década de 1960, já foi do João Batista e do Toinzinho.
– Aqui ja teve até campeonato de mentiroso. Bão toda vida.
E dá-lhe risadas, mesmo que ele não tenha contado sobre quem ganhou o primeiro lugar.
A prosa tá boa demais, mas é hora de ir embora. O próximo encontro é só daqui a seis meses. E quer saber do que mais? O sabor da vida depende de quem a tempera. Pura verdade.
… do Pará. Como anda o Rio? Minguando, com certeza. Há 40 anos ia lá em conceção, tinha os melhores pesqueiros, o rio Pará impunha respeito, hoje é mais nome de cidades que rio. Rio é coisa rara, ver dá tristeza, vontade de chorar. Conceição do Pará, São Gonçalo do Pará, Pará de Minas. Saudade!