Jon Krakauer é um exímio contador de histórias. Basta ler, por exemplo, “Na Natureza Selvagem” ou “Onde os Homens Conquistam a Glória”. Ele impõe um ritmo nas suas narrativas que chega a ser alucinante.
Ele alterna trechos em que aprofunda suas questões ou busca elementos históricos com a pura narrativa dos fatos que quer contar. Até chegar em um ponto em que ele acelera e a leitura se torna compulsiva.
“No Ar Rarefeito” (Companhia das Letras) é mais um exemplo desse estilo. Para contar sua aventura ao escalar o Everest, Krakauer intercala o feito com a história do pico, dos primeiros alpinistas, da descoberta, da primeira medição. Tudo isso corre paralelamente à sua descrição da subida.
Subida que se revelou uma tragédia. Ele entrega o ouro logo no início, e deixa para explicar os motivos durante o livro, talvez seguindo as trilhas de Alfred Hitchcock, que adorava contar logo no início quem era o criminoso, para gastar a hora e meia mostrando como o crime aconteceu. Para o mestre inglês do cinema, não importava o que aconteceu, mas como aconteceu — “Festim Diabólico” é o melhor exemplo.
Falta de oxigênio
A sensação que se tem é de sentir o mesmo frio e a mesma falta de oxigênio que Krakauer sente, pois suas descrições são envolventes, próximas. A metade final chega a ser sufocante. Mais do que uma leitura sobre alpinismo e a aventura do autor, o livro revela a natureza obsessiva do homem. Homens que resolvem encarar o desafio a qualquer custo, sem medo de perder a vida, sem medir consequências.
Essa natureza é o que mais rico tem no livro. Ajuda a entender o que faz uma pessoa escalar um monte com temperaturas de -50 graus, com ventos de 160 km/h e sem oxigênio e enfrentar doenças múltiplas que se aconchegam à medida que o homem avança nos 8.840 metros de altura do pico do Everest.
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