Até agora tinha tentado evitar comentar sobre Inteligência Artificial (IA). Mas, confesso, fui vencida pela enxurrada de posts nas minhas redes sociais. Por aqui, chovem comentários de tudo quanto é lado. A maioria, encantada; eu, também. Outros, nem tanto. Porém, não há como ignorar os incomodados, quem está preocupado com o futuro. Nós, os humanóides, seremos descartados? São teorias da conspiração ou algo com que realmente devemos nos preocupar? Trazendo a farinha para o meu próprio saco, quem vai querer, por exemplo, ler um dos meus textinhos se a IA pode criar sujeito, verbo e predicado em milésimos de segundos? Pensando bem … Ah, mas você pode editar, pode usar como referência e coisa e tal … Tá! Pode. Mas …
Pra matar (ops!) a cobra e mostrar o pau, nos últimos dias fomos praticamente abduzidos pelo excesso de comentários acerca da campanha criada pela agência @AlmapBBDO em comemoração aos 70 anos da @VWBrasil. Eu, particularmente, amei. Chorei baldes na primeira vez que assisti. Memória afetiva gritou. Papai teve dezenas de Kombis. Brancas, azuis, de duas cores … palco de histórias memoráveis. Algumas, impublicáveis. Meus irmãos que o digam. Adolescentes naquela época, os quatro driblavam a vigilância dos nossos pais e usavam o carro para namorar. E mais eu não digo.
Teve também aquela vez que o nosso objeto do desejo era uma festa no Parque de Exposições de Pitangui. Depois de muito insistir, Papai autorizou que Guilherme, o único habilitado, nos levasse. Fez as recomendações de praxe: não beber, cuidar das irmãs e das amigas, ficar atento aos “garanhões” … Mamãe, que era contra e não se conformava – ela jamais teria autorizado aquela loucura, mas se meu Pai deixou, fazer o que? –, saiu-se com essa pérola:
– Seu Pai deixou, mas esse carro vai quebrar. Vocês vão ver.
Dito e feito. Depois dizem que praga de mãe não pega. Há poucos metros da entrada do Parque de Exposições o carro parou. Só saiu de lá guinchado. Quanto a nós, voltamos para casa com o rabo entre as pernas.
– Eu falei! Mas vocês insistem em não me ouvir. Bem feito! Isso é pra que vocês nunca mais me desobedeçam.
Superado o episódio, a nossa vida seguiu entre trancos e barrancos. Só quem já teve uma Kombi para saber.
Mas, voltando à IA, o comercial vem dando pano pra manga. Cláudio Chinaski, um querido que “persigo” nas redes sociais, chamou a atenção para a trilha sonora. Com conhecimento de causa, discordou do uso da canção de Belchior como trilha sonora. Para Belchior, contou o “Craudio”, “ser como nossos pais mostra o fracasso de uma geração que abandona a rebeldia e o desejo de mudar o mundo e passa apenas a repetir velhos conceitos e modos de vida. A letra retrata uma grande decepção, tanto com as novas quanto com as antigas gerações.
Ao ver o comercial da VW usando exatamente essa música para “louvar” antigas e novas gerações e para falar desse processo como uma continuidade, uma evolução do antigo em direção ao novo, com velhos e jovens se encontrando felizes em pistas e praias, percebo que não são apenas alguns comentadores que não entenderam a letra da música. Houve um tempo em que eu esperava mais de nossos publicitários. Não é o caso neste caso, mas que é um erro grotesco, isso é”.
Outro querido, o André Gabeh, comentou sobre o uso da imagem digitalizada da Elis Regina com o humor característico dos seus textos. “(…) Respeito a todos que amaram e entendo a emoção dos que ficaram tocados, mas eu senti um siricutico desbrilhisador. E nem estou falando de questões éticas, nem sobre o tanto que eu poderia militar sobre várias coisas e nem sou do tipo que acha que arte não pode cometer certas ousadias, nada disso. Acho que a IA fará maravilhas artísticas. Achei a cara de Elis estranha. Parecia um fantasma harmonizado por algum Dr. Hollywood do Umbral. Mas a ideia é linda, uma fofa, e eu adorei a Kombi nova que é um espetáculo. A Kombi antiga eu acho um desbunde de tanto charme, mas essa nova é uma graça também. Parabéns aos criadores. Mas tenho medo da Elis da Kombi.”
Gargalhando aqui. Ah, esse André! Amooo!
Fiquem bem. Tô indo porque vou ali ler mais comentários. A rede tá em polvorosa. O maior tititi. Não que eu goste de fofoca, de disse me disse, mas …
Que louco Gisele, eu não tinha visto! Muito bom o vídeo. Também achei o rosto da Elis um pouco estranho, mesmo assim a ideia foi boa.
Umm pouco assustador, né? As novidades estão acontecendo muito rápido.