Não faz amigos; reconhece-os

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Imagem - Pixabay
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Vinicius de Moraes é que tá certo. “Muitas vezes o encantamento por um amigo surge da identificação. Dizemos que os santos batem, e a sensação é a de que finalmente o mundo faz sentido…” E num é que é mesmo?

Há dias em que o mundo não tá lá essas coisas. Acontece comigo. Acontece com você também que eu sei. É nessas horas que aparece quem você menos espera e lhe estende a mão. Oferece o ombro ou lhe dá o colo como abrigo.

Nos últimos tempos comigo tem sido assim. É um cupcake que aparece sem avisar. É alguém que me acena pelo Whatsapp dizendo que sonhou comigo.

  • Oi, Gisele! Sonhei que estávamos trabalhando em uma lancha. Íamos para a terra quando tínhamos algo pra fazer e quando precisávamos nos deslocar, pegávamos a lancha que andava lentamente em alto mar para podermos descansar olhando a paisagem.

Primeiro choro. Coisa mais linda esse sonho. Fico comovida. Aí eu me recomponho e revelo a ela que aqui em casa temos um livro que desvenda o que há por trás dos sonhos. Herança dos tempos em que a Gilda tinha desenvolvido um lado esotérica.  Essa nossa irmã, hoje a mais pragmática da família, naquela época colocava tarô para a familiares e para os amigos. Até que um dia acertou na mosca. Chocada com seus poderes paranormais não deu conta da responsabilidade. Recolheu as cartas. A partir daí não se meteu mais com as coisas do além.  Aposentou-se precocemente. Nunca mais se falou nisso.

Ihhh. Primeiro, a Gilda vai me odiar por revelar esse seu lado Madame Mim. Depois, olha o foco, Gisele! Abstraindo de novo? Ta bom! Voltando ao ponto de partida, me comprometi com essa moça adorável que sonhou um sonho lindo comigo a procurar pelo livro, buscando desvendar o que há por trás dessa viagem marítima.

Sobre acolhimento ainda tem aquela infinidade de mensagens que recebo pelas redes sociais. Tem abraço presencial também. E aquele convite irrecusável:

  • Gisele, acabei de passar um cafezinho.

Como se precisasse de aviso. O perfume já me deixou em transe. Agradeço e lá vou aquecer o corpo e alimentar a alma com aquela mistura incrível de amor saborizada e cheirosa. Sei que aquele toque é puro carinho. Coisas de almas que se reconhecem de outras vidas.

Tem também aquele colega com cara e jeito de nerd. A primeira vista é assustador, só que não. O moço é de uma solidariedade comovente. É tanto carinho que transborda. Nada diferente da colega que a primeira vista tem cara de “Ihhh, meu Deus! Vai dar BO!”. Puro engano. Tem a outra que curte, comenta e ri das bobagens que posto. Sinal que está sempre por perto se eu gritar por socorro.

Todo esse papo sobre pessoas que se doam me lembrou de um texto que reli recentemente. Nele, Fabíola Simões fala sobre a amizade entre Nando Reis e Cassia Eller, encontro de almas que rendeu até música. Quem aí não conhece esses versos:

“Estranho é gostar tanto do seu All Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras,
satisfeito sorri, quando chego ali
E entro no elevador aperto o 12, que é o seu andar,
não vejo a hora de te reencontrar
continuar aquela conversa,
que não terminamos ontem, ficou pra hoje (…)”.

Fabíola diz que amizade é uma aliança contra a adversidade. Fecho com ela.

“Meu all star azul” tem o propósito de me lembrar os amigos por quem carrego paixões. Paixões movidas a gratidão, experiências, parcerias, risadas e lágrimas. Cada vez que sair por aí com meu calçado poético, sentirei que estou abraçando cada um dos meus amigos e carregando uma parte de nossa história em minhas andanças. No fundo imagino que eles gostariam de andar comigo, pois a lembrança de nossas afinidades me assegura nossas mãos dadas pelo caminho e, mais ainda, a certeza de que, como dizia Vinícius de Moraes: “A gente não faz amigos; reconhece-os”.

É isso aí. Um viva para os amigos.

5 COMMENTS

  1. Tô precisando de voltar para o meu lado exotérico. Ser muito pragmático tira um pouco da beleza das pequenas coisas. Ainda bem que tenho minha afilhada Sofia De Brot para me substituir. Coisa mais linda de Lulu e Marcel. Um misto de anjo e bruxa. Não se preocupe Gisele. adorei a lembrança. Sempre digo à Sofia que não estava preparada naquela época. Estava me precisando desenvolver mais meu lado espiritual mais um pouco. Disse a ela que um dia quem sabe, volto a colocar as cartas. Nada é para sempre né? Apenas a morte.

  2. Concordo com você, Gisele. Nossa amizade não foi feita, mas reconhecida. Sinta-se abraçada por essas poucas palavras que deixo por aqui. Grande abraço!!!!

  3. Fiquei comovida com seu texto! É verdade que os amigos a gente reconhece, mesmo que às vezes os afazeres do cotidiano nos distancie.

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