Mirem-se no exemplo da estudante Dávila Meireles

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A estudante Dávila Meireles com a mãe, Vilma Meireles, recebendo sua quarta medalha de Ouro da Obmep - Foto - Arquivo Pessoal
A estudante Dávila Meireles com a mãe, Vilma Meireles, recebendo sua quarta medalha de Ouro da Obmep - Foto - Arquivo Pessoal

Você não conhece a Dávila Meireles, uma jovem de 18 anos de Dores do Turvo, Zona da Mata mineira, mas vai, certamente, se orgulhar de sua história. Como acontece com milhares de estudantes nesta época do ano, ela recebeu na última sexta-feira, por volta das 18 horas, a informação de que havia sido aprovada no vestibular. Até aí, nenhuma novidade. O que chama a atenção é o caminho que ela percorreu e o tamanho de sua conquista.

Pra começo de conversa, Dávila foi aprovada em economia na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, que é uma das instituições de ensino superior mais respeitadas do país. Mas muitos outros também foram, alguém poderá dizer.

Mas Dávila faz parte de um pequeno grupo de 54 alunos de escolas públicas de todo o Brasil que foram convidados a fazer o vestibular da FGV. Como foi aprovada, ela e apenas mais dois outros alunos selecionados para economia terão bolsa integral até concluir o curso (a mensalidade gira em torno de R$ 5 mil), moradia no Rio de Janeiro próximo da escola, na Praia do Botafogo, e uma ajuda de custo de R$ 2 mil por mês para outras despesas.

“Fiquei muito feliz, mas meus pais ficaram muito mais”, conta Dávila ao BN, por telefone, no intervalo de uma das suas aulas na Escola Estadual Terezinha Pereira, em Dores do Turvo. Nesta escola, a jovem estuda desde o 6º ano do Ensino Fundamental. Os anos iniciais, do 1º ao 5º, ela fez numa escola rural, próxima da pequena propriedade rural dos pais, que fica a 22 km da cidade.

Até o ano passado, para pegar o transporte escolar da prefeitura, Dávila levantava religiosamente às 5h30. Pegava o ônibus às 6h e viajava por uma hora em estrada de terra (ora com muita poeira, em períodos de seca, ora com muito barro, em períodos de chuva, como agora).

Por volta do meio dia, pegava o ônibus de volta para casa. Mais uma hora na estrada. Logo depois do almoço, tinha a tarefa de ajudar a mãe, Vilma Meireles, na limpeza e arrumação da casa. E depois das tarefas domésticas, os estudos. Neste ano, para se preparar para o Enem e para o vestibular da FVG, ficou na casa de parentes em Dores do Turvo.

Alunos da escola Terezinha Pereira se preparando para uma das etapas da Obmep. Foto - Divulgação
Alunos da escola Terezinha Pereira se preparando para uma das etapas da Obmep. Foto – Divulgação

Nada caxias

E quem imagina que Dávila é daquelas estudantes caxias, que fica horas e horas debruçada sobre os cadernos e livros, se engana. “Eu estudo bem, mais não é assim, assim não”, explica ela. “As vezes, quando tenho prova, só estudo um dia antes”, conta. Mas a estudante é, de acordo com a diretora da escola, Ângela Campos, uma aluna dedicada, aplicada e focada.

Foi assim desde que ela chegou na escola Terezinha Pereira, em 2011, para começar o 6º ano, como lembra a diretora. Ali, Dávila iniciava sua trajetória vitoriosa na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). No primeiro ano, sem nenhuma pretensão, decidiu participar da disputa e ganhou uma medalha de bronze. “Nunca fui exatamente uma apaixonada por matemática, mas sempre tive facilidade com a matéria. Com a medalha que ganhei na primeira vez que participei, fiquei motivada e nos outros anos me preparei melhor”, afirma a estudante.

Nos três anos seguintes, em 2012, 2013 e 2014, Dávila faturou a medalha de Ouro. Entre os cerca de 25 milhões de estudantes de escolas públicas de todo o Brasil que participam da competição, apenas 500 ganham medalha de ouro. Em 2015, ela levou pra casa outra medalha, mas, desta vez, novamente de bronze. Achou que não era o bastante, estudou mais e no ano passado voltou a ser medalhista de ouro – que ela recebeu no último dia 16, em solenidade no Rio de Janeiro.

Na próxima quarta-feira, dia 22, ela ficará sabendo se ganhou mais uma medalha na edição de 2017, o seu último ano na disputa. “Acho que tenho chances”, diz ela com modéstia.

Aluna nota 10

 

Foi por conta do seu desempenho na Obmep que ela foi convidada pela FGV para prestar vestibular. Mas ela tem também excelentes notas nas outras disciplinas, como português. “Tenho um pouco mais de dificuldade em física e não gosto muito de história, mas me saio relativamente bem em todas”, diz a estudante.

E foi também por suas boas notas na escola, em todas as disciplinas, que ela, juntamente com um grupo de 15 estudantes do 3º ano do Ensino Médio da escola estadual Terezinha Pereira, recebeu uma bolsa de estudo de um cursinho em Ubá (distante 50 km de Dores), preparatório para o Enem.

De março a outubro, de segunda a sexta, o grupo pegava um ônibus às 17h30 rumo a Ubá e só retornava por volta de meia noite. Quando começou o cursinho, a estudante só tinha uma certeza. Queria um curso superior da área de exatas e chegou a pensar em fazer engenharia civil. Mas ao conhecer a Fundação Getúlio Vargas, no Rio, e conversar com alunos e com professores, se convenceu de que economia seria também uma excelente alternativa.

Próximo de sua formatura no 3º ano do ensino médio, e com a vaga garantida na prestigiada FGV, Dávila se prepara ainda para mais um desafio para fechar o ano. No próximo dia 25, em Belo Horizonte, ela vai participar da segunda etapa da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM).

Ela e dois outros alunos da escola de Dores fazem parte de um seleto grupo de 1.305 alunos de todo o Brasil, de escolas públicas e privadas, que foram escolhidos, entre 25 milhões de alunos, para fazer a prova. Os melhores colocados vão integrar um grupo que vai representar o Brasil em competições internacionais de matemática.

O que mais a mobiliza, entretanto, é a mudança para o Rio, o que deve acontecer em fevereiro do próximo ano. “Estou um pouco apreensiva, porque vou sair de uma cidade muito pequena para morar numa cidade muito grande, como é o Rio. E tem a distância da família”, diz ela. O pai, João Muniz Meireles, e a mãe, Vilma Meireles, também estão apreensivos, segundo a diretora Ângela Campos, mas ao mesmo tempo extremamente felizes.

E há mesmo motivos para celebrar a vitória da filha. João e a mulher também levantam muito cedo todos os dias, de segunda a domingo, para tirar o leite que vendem no laticínio da cidade, o principal sustento da família. Quando tem tempo, segundo a filha, o pai faz também trabalhos de pedreiro para complementar a renda. E tempo é que os pais estão buscando para preparar uma festa para comemorar, em família, o êxito da Dávila até o final do ano.

“A Dávila e os demais alunos bolsistas terão todo um suporte da fundação, inclusive ajuda de psicólogos, se necessário. Não tenho dúvidas que ela terá um grande futuro pela frente”, comemora a diretora, também eufórica com o sucesso da aluna.

Futuro brilhante

Ângela Campos, diretora da escola Terezinha Pereira
Ângela Campos, diretora da escola Terezinha Pereira – Foto – Divulgação

“Um dos nossos desafios aqui na escola é convencer os nossos alunos de que, apesar de estudarem numa escola pública, em uma cidade muito pequena, eles têm um grande potencial e podem conquistar o mundo. O sucesso da Dávila mostra a todos os nossos estudantes que, com dedicação, empenho, muito esforço e estudo, essa vitória está ao alcance de todos eles”, assinala a diretora.

Quem também está comemorando muito o sucesso da Dávila é o professor de matemática Geraldo Amintas, o grande responsável pelo sucesso da estudante nas olimpíadas. “A Dávila vai estudar em uma das melhores instituições de ensino superior do país. Isso é muito gratificante porque já sabemos que ela está com o futuro garantido. E o que fazemos na sala de aula é com este objetivo: ver o crescimento dos nossos alunos e trabalhar para que eles tenham um futuro brilhante, como estamos vendo com a Dávila”, diz Geraldo.

 

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