Há hojes que duram vários ontens

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Casal de canários-da-terra. Foto - redes sociais
Casal de canários-da-terra. Foto - redes sociais

Durante um bom tempo um casal de canarinhos fez companhia ao Papai na varanda da nossa casa.  O nosso “Velho Osvaldo” acompanhava a rotina dos passarinhos. Sabia quando o macho voava em busca de comida, quando os dois ficavam aninhados, arrulhando felizes dentro do ninho. Papai também foi o primeiro a tomar conhecimento do resultado dessa sinfonia romântica.

  • Há dois ovinhos no ninho. A família vai aumentar em breve, contou animado.

Só que a natureza deu um jeito de alterar o curso da história. Uma ventania forte derrubou o ninho e lá se foram os ovinhos. Não se sabe se pela tristeza provocada pela perda ou se pela necessidade de buscar um local mais seguro pra criar a família, a verdade é que os canarinhos abandonaram a varanda e se refugiaram do outro lado da rua. Agora vivem no telhado da casa da nossa avó.
Mas não pensem vocês que abriram mão da companhia do velho Osvaldo. As visitas são constantes. Não têm hora certa. Basta o Papai se acomodar na varanda que lá vem o casal. E aí é uma festa só. Tem cantoria, sobrevoo pelo telhado, caminhadas pela varanda e refeição no canteiro de azaleia.

  • Olha só quem “invem” ali, diz o Papai todo sorridente.

Na verdade, a observação é um convite sorrateiro para que a visita seja fotografada. Afinal, hoje em dia todo mundo tá sempre com um celular na mão, né mesmo?

A convivência do Papai com o casal despertou a minha curiosidade e lá fui eu para o Google. Descobri que o nome tem a ver com a origem: as Ilhas Canárias. Fiquei sabendo também que só  partir de 1500 é que foram introduzidos na Europa. E aí não deu outra. Conquistaram a nobreza e, na sequência, o população.

Por aqui, a fama é tamanha que até há expressões que remetem ao bonitinho. Ou você vai me dizer que nunca ouviu que fulano de tal “canta como um canarinho”?  E a nossa seleção que é apelidada de “seleção canarinho”?

Ah, o Google também me contou que no Brasil há oito espécies nativas desse passarinho encantador:  , canário-andino-negro, canário-da-terra-verdadeiro, canário-do-amazonas, canário-do-brejo, canário-do-campo, canário-do-mato e canário-rasteiro.

A espécie mais popular é o canário-belga, única espécie considerada doméstica. É também a única que não exige autorização do Ibama para ser criada em casa. Será que “criar em casa” é uma forma delicada do Ibama dizer “criar em cativeiro”? Se for, essa expressão não se aplica à nossa humilde residência. Por aqui, passarinho preso só os que movimentam o relógio. Presente da Lulu para o Papai. Nele coabitam doze espécies que cantam à cada hora cheia. Um detalhe importante: a cantoria ocorre só das seis às 18 horas.  Como na natureza. É quando o sol se põe e todos dormem.

Por falar em dormir,  tá na minha hora. Hoje foi um dia e tanto. Para os canarinhos também. Papai contou que fizeram vários sobrevoos procurando comida. Se estou reclamando? Nem um pouco. Acho que os canarinhos também não. Como diz o André Gabeh, “há hojes que duram vários ontem”. E esse hoje foi bem assim. Nasceu para ser eternizado.

8 COMMENTS

  1. Qualquer hoje fica mais poético com suas crônicas.Você tem o poder de transformar fatos corriqueiros em poesia colorida e nos fazer sentir e viver o momento relatado.
    Hoje, por exemplo, minha leitura teve trilha sonora de canto de passarinhos.
    Obrigada!❤️😘🐧🐦🦜

  2. Aí pelas Minas Gerais, o canário da terra também é chamado de canário chapinha e é muito admirado pelo canto rico e bonito e que compete com o canto do sabiá. Agora, quando junta seu lindo texto com meu incrível sogro seu Osvaldo vira uma maravilha. E Manoel de Barros aplaude.

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