Hoje, o nosso papo reto é sobre futebol. Quem me iniciou foi meu avô Nenê, um atleticano fervoroso. Não por acaso, toda a família também. Ou quase toda. A paixão pelo alvinegro é tanta que até tenho um parente bem próximo que é tão fanático, mas tão fanático pelo Atlético, que fica horas on line só pra acompanhar as obras da Arena do Galo. Cada viga levantada é um flash.
Quem é? Imagine! Não revelo o nome nem mesmo se você me oferecer uma dose de um legítimo scotch feito com grãos maltados. Daquele envelhecido por anos em barris de carvalho, nas adegas das Terras Altas.
Mas, voltando à origem, como toda regra tem exceção, eu e Papai somos a exceção que confirma a regra. Amamos o Cruzeiro. A Gilda não vale. É cruzeirense porque acha o uniforme lindo. Não discordo sobre o gosto dela. Até porque azul e branco são também as minhas cores do coração. Você deve estar ai se perguntando.
– Se a família é atleticana porque teve gente que fugiu à regra?
No meu caso, diria que tem a ver com o Tostão, meu crush na infância. O Papai, obviamente, tem outros motivos. Todos relacionados com estratégia de jogo, habilidade e qualidade dos jogadores. Nada que você, como torcedor, não saiba.
Na época em que o Tostão jogava eu tinha menos de dez anos. Nem por isso escondia minha “paixão” pelo astro da bola, o primeiro que efetivamente tirou a hegemonia dos times de São Paulo e Rio de Janeiro. Foi ele quem colocou Minas no lugar de destaque que sempre lhe foi devido.
Vovô não entendia muito bem porque eu recortava o caderno de esporte do Diário de Minas. O jornal era lido por nós dois, religiosamente, todos os dias, às 11h30. Vovô, na rede; eu, no assoalho. Era um ritual. Ele lia o primeiro caderno, matéria por matéria, linha por linha. Depois, me entregava o jornal, intacto, sem um amassado sequer. Eu lia. Em seguida, separava tudo o que tinha a ver com o Tostão. Depois guardava os recortes como relíquia.
Vovô Nenê nunca desconfiou que eu tinha um aliado nessa minha “saga amorosa”. Seu Inhozinho, um vizinho querido, pai da Aparecida, a minha melhor amiga na infância, ajudava a alimentar o meu estoque de preciosidades. Quando não me presenteava com jornais e revistas, passava horas me contando em detalhes como tinha sido o jogão do último domingo. Tostão era sempre o destaque. Enquanto isso, a coleção crescia na mesma proporção que a minha paixonite e admiração pelo craque.
Recentemente, conversando com o Jorge Santana, um querido que está por trás do blog Páginas Heroicas, fiquei sabendo que o Tostão não foi o primeiro mineiro a ser escalado para a Seleção Brasileira. Foi, sim, o primeiro a jogar com a camisa canarinho. Antes dele, outros dois jogadores chegaram a ser convocados. Um era do Siderúrgica. O outro foi o cruzeirense Niginho. Só que ele se machucou e acabou não jogando. Isso aconteceu em 1938.
Em 1966 Tostão disse a que veio e foi o autor do gol que derrotou a Hungria. Tostão voltou a disputar a Copa do Mundo em 1970. Não deu outra. Foi escolhido como um dos melhores jogadores da Copa. Nesse mesmo ano o Milan quis comprar o passe do jogador. Fez uma proposta de um milhão de dólares, hoje, algo em torno de 200 milhões de reais. Apesar do valor, o Cruzeiro não quis abrir mão do jogador. Tostão continuou no clube.
O tempo passou, tive e ainda tenho outros cruhs (ops!), mas a admiração pelo Tostão ainda é a mesma. O amor pelo Cruzeiro também. Esqueça a má fase. Não é exclusividade do time. O nome disso é má gestão. Mas ai já é papo pra outro momento.
Longe dos campos, Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, formou-se em Medicina. Tornou-se um excelente oftalmologista. Foi também comentarista esportivo. Intelectual, escreveu vários livros, um deles, uma autobiografia. Discreto, raramente é visto em público. Mas se a saudade apertar e a lembrança daquele tempo da delicadeza não der trégua, o ponto de encontro é a Filarmônica de Minas Gerais. Tostão está sempre por lá.
Tem também o Páginas Heroicas. Cruzeirense de verdade sempre está por ali, comentando, trocando ideias. Tostão é tema recorrente. E não é coisa só de quem vive entre as montanhas das Minas Gerais. O blog tem seguidores fieis até no exterior. Tem gente da Itália, França, Espanha e de lugares que você raramente vai ouvir falar.
Um deles é a Nova Caledônia, uma pequena ilha perto da Austrália, com pouco mais de 200 mil habitantes. Tem também um seguidor do Afeganistão, um mineiro naturalizado norte-americano, que se alistou no exército dos EUA. Detalhe importante: o soldado já está de volta à América são e salvo. Ah, ele é cruzeirense raiz.
Se quiser conhecer o Páginas Heroicas, é só clicar aqui.
Parabéns pela crônica. Ídolos como esse são raros hoje em dia.
Outros tempos. Outros perfis. foi-se o romantismo. Uma pena, né?
Amei…amei…
Perfeito!
Obrigada, Jacq! 🌹
Gisele, também tive minha “paixonite” no futebol: o goleiro João Leite do Atlético Mineiro! Muito lindo!!!😊😊
Adorei as histórias! Meu pai se aqui estivesse, iria amar também! Cruzeirense raiz!!
Parabéns, você sempre nos prende em suas crônicas pela emoção contida nas linhas e nas entrelinhas!!👏🏻👏🏻👏🏻😍🌹