Vovô Nenê era ferroviário. Quando nasci já estava aposentado. Todos os meses se deslocava até Belo Horizonte para receber seus proventos. Voltava para casa carregado de maçãs. Uma para cada neto. Não era uma maçã qualquer, dessas bem mixuruquinhas. Eram bem grandonas, perfumadas. Vinham embrulhadas em papel de seda roxo.
– Nossa, Gisele! Essa maçã não tem gosto de nada. Não tem sabor e nem suculência. Parece isopor.
Tem sabor, sim. De infância, de delicadeza, de puro amor.
Por causa das maçãs chorei em pleno sacolão da rua Tupinambás. As frutas da minha infância estavam bem ali, numa banca, lindas, majestosas, vestidas em seda como que para uma festa de gala. Chorei pelas ausências, pela infância perdida. Chorei de saudades.
Mas será que só eu tenho esse apreço por maçãs? Denise Godinho me contou que Agatha Christie, a rainha dos romances policiais, tinha uma peculiaridade: adorava comer maçãs durante um relaxante banho de banheira. Luiza Mealt, autora do livro “Mulherzinhas”, também compartilhava o gosto pelas frutas.
Aliás, comidinhas e literatura andam grudadinhas, tipo cutícula e unha. Como para toda regra há exceção, Denise lembrou que nem só de maçãs viviam os escritores. A Sylvia Plath, autora de “Redoma de Vidro”, encontrava inspiração ao preparar tortas de limão antes de se entregar à sua escrita intensa e emocional. Machado de Assis tinha preferência por cocadas, uma paixão que talvez estivesse se deliciando enquanto alimentava Capitu e Bentinho, personagens inesquecíveis de Dom Casmurro. Mas aí já é alimento pra outra prosa, em outra oportunidade.
Ah, já ia me esquecendo de contar. Voltando ao fio da meada, Vovô Nenê não foi o único ferroviário da família. Tio João também fez carreira. Aposentou-se como diretor da Rede Ferroviária Federal. Começou na Rede Mineira de Viação (RMV). Lulu seguiu os passos dos dois e se tornou ferroviária. Adorava o trabalho, mas renunciou ao ofício e escolheu a Psicologia como profissão.
Antes de ir, sugiro que você aproveite a chegada do Outono e vá pra cozinha preparar essa receitinha super fácil. De maçã, obviamente. Só que embrulhada em massa folhada.
Para começar, selecione as maçãs maiores e corte a tampa delas. Com uma faca, retire a polpa junto com as sementes. Deixe um pouco de polpa nas paredes da maçã. Abra uma massa folhada, coloque uma maçã no centro e corte a massa em tiras à volta da maçã. “Embrulhe” a maçã com tiras de massa, subindo umas sobre as outras.
Para não oxidar e trazer um pouco de acidez, polvilhe a polpa de maçã com suco de limão e frite na manteiga, acrescente duas colheres de açúcar de cana e canela. Recheie as maçãs com essa mistura deliciosa e leve ao forno a 200C por 30 minutos. Polvilhe as maçãs prontas com açúcar de confeiteiro. E se quiser e gostar acrescente uma bola de sorvete e sobre ela uma colher de caramelo macio.
Essa é uma das sobremesas da minha infância, só que um pouquinho mais sofisticada. No tempo da delicadeza as maçãs assadas não vinham pra mesa embrulhadas em massa folhada. Mas eram tão deliciosas quanto essas que me acompanham na maturidade.
Ficou com vontade? Já para a cozinha. Depois me conte aqui como ficou. Até mais!
Adoro Apfelstrudel! Viva as maçãs e as lembranças que elas despertam!
Viva!!!Obrigada por ler meus escritos. Abraços.
Lógico que vou fazer …bjs Gisa
Só faça. Depois me mande fotos e vídeos para que eu possa degustar de longe. Beijos.
Amei. E amo maçãs. De qualquer jeito. E suas crônicas tbm
Obrigada! Pessoas especiais apreciam sabores especiais.
Amei Gisele!Essa receita dever ser maravilhosa!!! Obrigada, minha querida por compartilhar memórias tão belas!
O agradecimento é meu. Sou muito grata pela sua presença aqui. Beijo.