Ando devagar porque já tive pressa

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Imagem - Pixabay
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O tempo tá passando rápido demais. Ainda outro dia era Carnaval e daqui a pouco já será Semana Santa. Não, não é só uma impressão minha. A Ciência tem explicação para isso. Essa sensação tem a ver com relógio atômico, com as marés, com a rotação da terra, enfim, com uma série de fenômenos que, por falta de conhecimento, não cabe a mim discorrer sobre o fato. Prefiro me ater ao que dizem os estudiosos do comportamento humano. Para eles, a velocidade do fluir da vida tem a ver com a idade e com a rotina.

Por falar em Semana Santa você já se perguntou o porquê de o padre partir um pedaço da hóstia consagrada e o colocar no cálice com o vinho?

Fui pesquisar e descobri que com esse gesto o padre reproduz o que Jesus fez na última ceia, quando partiu o pão consagrado e o distribuiu entre os seus discípulos.

-Uai, Gisele! Isso todo mundo já sabe. Qual é a novidade?

É que esse gesto simboliza a unidade dos fiéis, que ao comungarem do mesmo pão da vida – Jesus morto e ressuscitado para salvar o mundo – formam um só corpo, em comunhão não só entre si, mas também com Cristo. Significa que Cristo está inteiramente presente tanto no pão quanto no vinho consagrados, doando-se totalmente para nossa redenção.

O que eu quero dizer é que durante a missa nada daquilo que você assiste e participa é um mero ritual. Tudo faz sentido, tudo tem um significado profundo. Já deu para perceber que me encanto com esses rituais, né? Gosto do sagrado do mistério que envolve o culto da fé.

Lembro que quando criança, na Semana Santa, na casa dos meus avós e um pouco também na nossa casa, a rotina era substituída por uma sensação de tristeza e de vazio. Na Sexta-Feira da Paixão o chão não era varrido e nem se arrumava as camas. Música era proibida. Nada de ligar o rádio ou cantar a plenos pulmões. Tudo era silêncio. Uma reverência ao Jesus morto.

A parte boa é que não se comia carne vermelha. Só peixe. No Domingo de Páscoa o prato principal era e ainda é o Cundito. Hoje, se tem data especial, certamente vai ter Cundito. Nem precisa ser Semana Santa para que o bacalhau venha pra mesa cozido no azeite. Ihh, pensando aqui como será neste ano. O preço da iguaria está pela hora da morte. Os economistas culpam as mudanças climáticas pela alta. Dizem que o calor extremo na Espanha dizimou a produção de azeitonas, encarecendo demais o produto. É a tal da lei da oferta e da procura. Você sabe bem como é. Resumo da ópera: como 90% do nosso azeite vem de lá, aí você já viu, né? Haja dinheiro. Uma ida ao supermercado tem se tornado um suplício. E não é só o azeite. Temos que levar em conta o preço dos outros ingredientes. No prato tem batatas, pimentões de vários matizes, cebola, azeitonas pretas, alho e temperos.

Ah, melhor não pensar nisso agora. Vou deixar para sofrer depois. A compra desses ingredientes ainda vai demorar uns dias. Enquanto isso vou me ater ao que disse a adorável da Cris Lisboa. “Se por acaso eu perder a esperança, esquecer de resistir, acreditar em ideias autolimitantes de existência e, sobretudo, para se for preciso que me manter atenta e forte no precioso e assustador exatamente agora, o melhor é que eu me vire do avesso”.

É bem assim. Ah, e antes de ir vou deixar aqui a receita do Cundito, porque egoísmo nunca foi a minha praia. Tão lembrados que Jesus nos ensinou a partilhar o pão? Pois, então! Compartilhando a receita para que a Páscoa de vocês seja saborosa.

Pra começar faço tudo no olho. Portanto, não há medidas. É o tanto que o seu bolso der conta. O segredo está no tempero, no amor que você põe no prato.

O fazer é de uma simplicidade franciscana. Coloque bastante azeite na panela e vá alternando camadas de batata, tomate, pimentões, cebola, alho, bacalhau e azeitonas. Pra temperar, zimbro, pimenta do reino, páprica (uso em tudo porque amo) e outros temperos que gostar. Cubra as camadas com bastante azeite e cozinhe em fogo baixo. Leve para mesa quando tudo estiver bem cozido. Aí, não vai dar outro. Será um festival de “uis”, “ais”, de “credo, que delícia!”. Palmas para você, que nessa Páscoa vai ser eleito (a) cozinheiro (a) do ano. Ah! E não se esqueça de participar da missa de Páscoa.

Indo, porque o tempo corre e quem fica parado é poste.

1 COMMENT

  1. Uai, Gisele! Gostei tanto desse texto que vou compartilhá-lo. Obrigada pela receita! Adoro bacalhau, e azeite então nem se fala! Beijos no seu coração ❤️

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