De perto ninguém é normal

Nem sempre passar dos cinquenta tem a ver com maturidade. Esse processo, acredito, sofre a influência de diversos fatores. Experiências de vida é um deles. Aprendizados, convivência com outras pessoas também. E o que dizer do senso de responsabilidade, da autonomia sobre nossas próprias vidas e escolhas?
Entre erros e acertos – mais erros, admito -, não me considero uma mulher madura. Sou, sim, uma mulher encaixada no meu próprio tempo. Reconheço a minha posição no mundo e estou ciente das transformações e mudanças que ocorrem a todo instante. Luto bravamente para me ajustar, não só me adaptando, como também aprendendo com elas.
Mas não é assim para muitas pessoas. Basta que você corra os olhos pelas redes sociais para confirmar que na maioria dos posts a maturidade está associada à idade ou à aparência física, fatores que na minha visão não definem necessariamente a responsabilidade e consciência. Estar encaixado no tempo pode significar, entre outras coisas, aproveitar as oportunidades e possibilidades que surgem, mesmo que não estejam disponíveis para as gerações que vieram antes.
E sabe qual é o resultado prático dessa busca incessante pelo encaixe? É a necessidade e a urgência de sair da zona do conforto, de botar o cérebro na roda, de colocar o corpo em movimento. Deixar de lado o morno. Acelerando, porque por aqui a máquina é quente. Se faltar encaixe o mercado lhe expulsa sem dó nem piedade. Tá aí a Inteligência Artificial que não me deixa mentir.
Por falar nisso, passando os olhos por esse mundão cibernético, li uma frase que me traduz. Uma mulher (desconheço a autoria) dizia para não romantizar o morno, o que vale também para chuveiro, café e pessoas. Concordo muito. Tenho que confessar que lá em casa, essa história de morno é motivo de discórdia:

• Gisele, não tome banho na água quente desse jeito. O chuveiro tá parecendo uma sauna. Vai acabar ressecando a sua pele.
  Tem mais:

• Gisele, a conta de energia subiu 15 por cento. Não dá pra ficar esse tempo todo no chuveiro. Ainda mais com a água quente desse jeito.
  O pior é que sei disso tudo. Que água muito quente resseca a pele, que aumenta o gasto com energia etc e tal. Mas detesto meio termo.

E café morno, então? Deus me livre e guarde. Tem coisa mais deliciosa que um café bem novinho e fumegante? Com um pão de queijo, então? E com uma fatia de bolo. Humm!! E o que dizer das pessoas mornas. Das apáticas, sem brilho, sem glamour, sem pegada, daqueles que “não fedem nem cheiram”. De gente desse tipo quero distância.
Pensando nisso e para ser muito honesta, já vivi a minha fase morna. Atualmente estou em transição. Mas isso é papo para consultório de analista. O que posso dizer como uma legítima geminiana é que sou uma mulher de fases. Ah quer saber? Caetano é quem tem razão. “De perto ninguém é normal”.
Pra falar a verdade, se é quente ou se é morna, o ideal é que a pessoa não se rotule. Uma frase atribuída à Machado de Assis (autoria sujeita à verificação) diz bem assim: “Você é aquilo que ninguém vê. Uma coleção de histórias, estórias, memórias, dores, delícias, pecados, bondades, tragédias, sucessos, sentimentos e pensamentos. Se definir é se limitar. Você é um eterno parênteses em aberto enquanto sua eternidade durar”.
É bem assim. Nada de rótulo, nada de definição. Seguindo em frente porque por aqui a chapa é quente e atrás vem gente. Vamo que vamo!