Hora de dar a volta por cima

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Imagem - Pixabay
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Esse nosso minifúndio aqui, o Boas Novas, foi criado pelo amado Ricardo Campos com um único propósito: o de ser um depositário de notícias do bem. Gostei do desafio e cá estou há mais de três anos. Só que nos últimos tempos, confesso, ando catando energia boa aqui e acolá para não me perder dessa intenção.
Mas o que é de fato tristeza? Rainer Maria Rilke, numa passagem de seu livro “Cartas a um Jovem Poeta”, escreveu: “se estamos tristes é porque estamos grávidos de futuro”. A explicação pode estar aí. Estou desse jeitinho. Ando me sentindo meio sozinha. É que o lado de lá tem atraído gente demais. Lá se foram pessoas por quem devoto profundo amor. Isso me leva a gestar um novo futuro sem que nele esteja presente quem me deixou para trás.
Dia desses, em um lugar próximo ao fundo do poço, li uma frase da Cris Lisboa que incidiu em mim que nem uma luz. Cris disse que se por acaso a gente perder a esperança, esquecer de resistir, acreditar em ideias autolimitantes de existência e, sobretudo, se for necessário que a gente se mantenha atentos e fortes no precioso e assustador exatamente agora, há uma saída: nos virarmos do avesso.
Pensando bem, virar do avesso significa dar a volta por cima, ressignificar o que aparentemente já não tem significado algum. Foi aí que me deu um estalo e eu insisti naquilo que mais me dá prazer. Escrever, escrever e escrever.
Por que isso? Porque escrever traz luz para a minha alma. Vivo repetindo isso nas redes sociais. Não por acaso uma querida mais que demais, a amiga Ofélia Bering veio em meu socorro e me trouxe a resposta para o que tanto questiono. A explicação está em um texto assinado pelo Moacir Scliar que ela postou em minha timeline.

É um trecho do livro “Território da emoção: crônicas de medicina e saúde”. No texto, o psicanalista afirma que “escrever pode ser uma forma de descarregar a angústia e de colocar (ao menos no papel) ordem no caos do mundo interno”. Porque, segundo Scliar, “a palavra é um instrumento terapêutico, é o grande instrumento da psicanálise. “Shakespeare dizia que se associam na imaginação o lunático, o poeta e o amante, o que tem contrapartida no dito popular: “De poeta e de louco todos nós temos um pouco”.
Ainda extraído do texto de Scliar: “Kafka dizia que era um absurdo trocar a vida pela escrita. Mas ele também reconhecia que sua própria vida era absurda e, nesse sentido, estava optando por uma alternativa com potencial para redimi-lo E alerta: “Não precisamos chegar ao extremo de um Kafka. Toda pessoa se beneficiará do ato de ler e de escrever. É terapia, sim, e é terapia prazerosa, acessível a todos. O que, em nosso tempo, não é pouca coisa”.
E de novo Cris Lisboa (insisto na Cris porque adoro o que ela diz): “Escrever é exercitar o estado de presença, enlarguecer o infinito interno e equilibrar”. Pois, então.
Por falar em “enlarguecer”, pra trazer um pouco de alegria para essa página que hoje tá meio borocoxô, alguém aí se lembra da Sarajane?
“Vamos abrir a roda, enlarguecer /abre a rodinha, por favor, abre a rodinha (…)”
Ops! Enlarguecer? Essa palavra existe? Não só existe como está presente em vários dicionários. E a Sarajane, para quem não conhece, – atenção millennials e Geração Z – é considerada uma das pioneiras do Axé Music. Foi ela quem abriu caminho para artistas consagrados como Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Claudia Leite. Fez sucesso nos anos 80 ao misturar ritmos caribenhos com o regaee, samba e funk. Como eu sei tudo isso? Uai! Pesquisei no Google porque sobre a Sarajane eu só lembrava do “enlarguecer, abre a rodinha (…)”
Então, que enlarguecemos, que é pra deixar a luz do sol entrar. Chega de sombra. A vida pede mais.

7 COMMENTS

  1. Profundo, reflexivo, mas com um ótimo respaldo de alegria, quando recorreu ao Axé. Parabéns Gisa! Sempre com um ótimo texto, rico de conteúdo…

  2. Que bonita crônica, Gi! Muitas luzes pra vc. Conheci a Sarajane na casa de um amigo baiano. Viva Kafka, Scliar e Cris! Viva eu, viva Tú, viva o rabo do Tatu!!!!

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