Amor no canteiro de Niemayer

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Teve um dia que Papai saiu portão afora e foi até a floricultura da Rosilene (observe que a proprietário tem nome que remete à flor). Escolheu a muda que achou mais bonita. Matreiro, já tinha escolhido o vaso: um tronco cheio de marcas da idade. Sabia que iria agradar.

Daí convidou o Beto pra ser parceiro na empreitada e com a ajuda dele selecionou a terra mais fértil, o esterco mais rico e transplantou a belezura. A ela,  deu o nome de “Flor da Denisinha” . O porque do nome? Uai! Pra homenagear a filha, uma das companheiras de todas as horas. Um mimo pra DD, a nossa irmã querida.

E como que para se desculpar – como se  fosse preciso –  achegou-se a mim e confidenciou:

  • Você e suas irmãs também vão ganhar flores. Estou preparando um canteiro igual àquele que você gostou. Cheio de ondas que nem os prédios lá de Brasília. Vou plantar as palmas que a sua mãe tanto gostava. Uma pra cada filha.

Aí, já viu, né?  Espertamente usou o Niemayer e a Mamãe como referências. Justo os dois. Eta, “Velho do Rio” danadinho. Depois disso quem teria ciúmes?

E por falar em “velho” há um texto do Fabrício Carpinejar que guarda muito de nós e da nossa relação com o nosso “Papis” tudo de bom.

Carpinejar confessa que chama os melhores amigos de velhos. É o jeito que ele encontra na intimidade para que envelheçam juntos.

Seguindo o mesmo raciocínio, não nomeia os pais de idosos. Para Carpinejar, também penso assim,  os “meus velhos são como os confidentes que completam a minha origem”.

Muito lindo o que ele diz sobre os pais: “Na saudade, são os meus velhinhos. Nas brincadeiras irreverentes são os meus véios. Existe um telhado de mãos abençoando as suas cabeças.”

Para esclarecer melhor essa relação, recorre ao samba e aos sambistas: “O tratamento até combina com samba: Velha Guarda da Mangueira. O politicamente correto estragaria a melodiosa linhagem das gerações: Idosa Guarda da Mangueira. O pandeiro iria chorar, a cuíca faria greve.”

É o caso do “Velho Osvaldo”. Apesar dos mais de noventa, Papai recusa a pecha de idoso. É o típico caso de um corpo antigo que abriga uma alma jovem. Os dois vivem em eterno descompasso.

A explicação para esse incômodo do Papai está no texto precioso do Carpinejar: “Não tem amor dentro da palavra idoso. Não localizamos proteção dentro da expressão Terceira Idade. Encontramos nelas mais medo do que respeito. É o asilo do dicionário, com o alheamento da designação neutra, como se eles fossem de ninguém. Como se não participassem do calor de uma família, da mistura afetuosa entre implicância e reverência.” 
Nosso pai não se enquadra em nada disso. Idoso? Da Terceira Idade? Que nada.

E pra fechar com chave de ouro: ” A velhice não pode ser maquiada com a ideia de juventude, precisa expor a verdade, significa sabedoria (e sabedoria é vitalidade). Tão bonito ser alguém entrado em idade, mostra que está na vida há muito tempo. Sua visão é da alma.

É assim com o nosso “Velho Osvaldo”. Quem dera o nosso Hightlander fosse eterno. Que seja.

6 COMMENTS

  1. Uau!!! Que lindo Gisele!!! Seu Osvaldo é danado demais e quanta sensibilidade…meu Deus! E em se tratando das expressões ” idoso e terceira idade”, nada tem haver com ele, aliás com ninguém, né?

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