Denise adora plantas. É a nossa “menina do dedo verde”. Nessa Nossa Família muito unida, mas também muito engraçada, a Tia DD é conhecida também como a “mulher de soldado”. Não vai aqui nenhuma ofensa. A gente adora todas essas pessoas valorosas que nos protegem no dia a dia. É que a Vovó Cocota apelidava assim quem saia catando mudas por onde passasse. Se aplicava também a quem nunca voltava pra casa sem um raminho que fosse. A Denise é desse jeitinho. “Esculpida em Carrara”, no popular, uma legítima representante do “cuspida e escarrada”. Ou, como diria Caetano, “é a mais perfeita tradução” do ditado popular.
Quanto à Gilda, a pandemia trouxe essa nossa irmã de volta à Conceição do Pará. Há dois anos está trabalhando em home office. E num é que pra relaxar a Gilda adotou o mesmo hobby da Denise? Lembrando que moramos ao lado da floricultura. E aí você já viu, né? Tem vasinho pra tudo enquanto é lado. No caso da Gilda, a preferência fica para as ervas. Temos vasos de alecrim, salsa, cebolinha e manjericão. Limão e amora também. Ando pedindo um vaso de tomilho, meu tempero do coração. Vamos ver.
Se a Gilda prefere vasos, é toda organizada, metódica e tem um forte senso estético, o mesmo não se aplica à Denise. A DD simplesmente planta e deixa o resto por conta da natureza. Não por acaso o nosso quintal é conhecido como a “floresta da Tia DD”. Experimente perguntar pra Gabriela qual é o lugar preferido dela na casa do Vovô Osvaldo. A resposta está na ponta da língua.
- A floresta da Tia DD, uai!
A desordem botânica é tamanha que os galhos da clerodendro vermelha venceram a barreira da janela e invadiram o banheiro social. Eu achei lindo. Briguei com quem queria domar o avanço da flor. Obviamente, fui voto vencido.
- Isso aqui não é o Castelo da Cinderela nem a casa da Branca de Neve, pontua a Gilda com seu pragmatismo habitual. E pra fechar questão ainda diz:
- Já basta ter que aturar os passarinhos voando em bando pela cozinha, agora ainda vamos ter planta dominando o banheiro? Tá mais pra Castelo abandonado.
E nem adianta argumentar. No fim, a maioria concordou com ela. O mesmo vale para as goiabeiras. Estava achando aquilo lindo. Um espetáculo. As duas goiabeiras do quintal – uma produz frutos brancos e, a outra, vermelhos – estavam crescendo que era uma beleza. Aí veio a Gilda de novo.
- Beto, você não acha que esse excesso de folhas pode sufocar as goiabas e atrair as formigas?
- Você tem razão, Gildinha, vou desbastar um pouco pra entrar luz.
Voto vencido de novo. É dá-lhe tesoura de poda. Triste ver aquele monte de galhos no chão. Não sobrou quase nada.
Essa contenda parece que não é exclusividade só daqui de casa. Outra irmã, a Lulu, tem um vizinho que é biólogo. Ele e a mulher também não se entendem quando o assunto são as plantas. A mulher gosta do jardim organizado, bem podado, com os canteiros todos em ordem. O marido tem mais o estilo da Tia DD. Prefere que as plantas sigam a lei da natureza.
Papai não está preocupado com nada disso. Só quer saber de plantar capim e milho.
- Pra que isso, Papai? Vai dar trabalho.
- Que pergunta, heim? É pra fazer silo. A gente tem que estar preparado. Pode vir outro veranico por aí. Se ao menos eu tivesse uma Folhinha Mariana pra me orientar, lamenta ele, ignorando que basta uma “googlada” pra saber. Antigamente bastava observar os sinais da natureza, mas hoje …
Voltando à vaca fria, nem adianta argumentar com o Papai. Não há quem o faça mudar de idéia.
Lembrando que nesse ano, pra minha tristeza, a gente não teve horta. Por aqui está difícil achar quem cuide. Capinar, molhar, vencer as ervas daninhas, tudo isso com o sol a pino nas costas, é tarefa para os fortes. Papai Já foi um deles. Hoje não dá conta mais. A idade pesou.
Ah, ainda há pouco a Denise apareceu aqui em casa com outra muda. Ela disse que é losna, que é medicinal e coisa e tal. Então tá, né?
E pra quem anda triste porque já faz um tempo que não publico receita, hoje, pra combinar com a “selva da Tia DD” e com os vasos da Tia Gilda, vou ensinar a fazer compostagem. Receita do Tio Beto. Anote.
Como fazer uma composteira:
Separe um espaço no seu quintal ou jardim. Não precisa ser grande. Use restos de alimentos. Talos e casca de verduras e frutas não cítricas, cascas de ovo e borra de café são muito bem-vindos, assim como folhas e grama fresca e alimentos cozidos em pequenas quantidades. Para evitar o mal cheiro, cubra tudo com bastante folha seca e serragem.
Não se esqueça de regar a mistura. A umidade ajuda a acelerar a decomposição.
Quinzenalmente, revire o material para aerar tudo. Isso também ajuda a decomposição ocorrer mais rápido.
Ao final de algumas semanas, o resíduo vai se transformar numa terra escura e fofa, muito nutritiva para ser utilizada como adubo.
Importante. Nunca use carnes e fezes de animais. Podem gerar mal cheiro e contaminação do adubo.
