E você? Tem cheiro do que?

Hoje a minha memória está usando o seu perfume predileto. Não se trata de um cheiro qualquer. É algo meio dolorido, que mexe com a alma. Inquieta o coração. Cheiro de saudades.

Vovó Cocota “empoava” o rosto e o colo com Cashmere Bouquet, um talco delicioso. Vinha dentro de uma caixinha linda. De bônus trazia uma esponja macia, delicada. Mamãe usava Chanel. Sua marca, sua presença.

A verdade é que o repertório olfativo permanece mais tempo na memória das pessoas que o visual. A imagem fixa-se por alguns meses; o cheiro, por anos. E se apresentar algum envolvimento emocional, então? Fica pelo resto da vida. Vai ver que é por isso que ainda sou capaz de reconhecer o Lancaster, fragrância usada pelo meu primeiro namorado. E olha que isso faz tempo, viu? O nome dele? Melhor abafar o caso.

Tinha também aquela candidata que se banhava com Paris. Presença marcante, sempre. No caso dela, esperta que era, pra mexer com a emoção do eleitorado,  usava e abusava do Marketing Olfativo, ferramenta muito usada na Publicidade.

Perfume x eleitor? Ficou confuso? Você tem razão. Não se trata de algo simples. Não é só escolher um perfume bom e pronto? É preciso fazer uma análise da faixa etária, origem e hábitos do consumidor. Depois é necessário cruzar esses dados com o conceito e com o produto que se quer vender.

Quer um exemplo? Vovó Cocota jamais compraria algo em uma loja que cheirasse à Giovanna Baby. Comércios que têm as mulheres da terceira idade como público-alvo não devem ignorar notas olfativas que lembrem pó-de-arroz. É tiro e queda.

E como tudo tem um “lado B”, perfume também pode não ser algo bom. Notas olfativas associadas a momentos de dor, como cheiro de fumaça, sangue, velório e hospital, costumam provocar rejeição. E aí você já viu, né?  Todo aquele trabalho de construção da imagem, da marca vai para o ralo.

Mais um ponto a ser considerado: a quantidade. A regra é trabalhar no limite mínimo da percepção humana. Nem mais, nem menos. Evite que a fragrância se fixe na pele, na roupa ou no cabelo das outras pessoas.

Falando nisso, lembra daquela candidata? Além do cangote, antes de apertar a mão dos prováveis eleitores, a danadinha também borrifava o perfume nas mãos. Mas, como a gente não é político, nada de sair por ai deixando o nosso perfume nas mãos e no cangote dos outros. Não tem nada pior que “usar” um perfume alheio. Questão de elegância, de delicadeza. Pergunte para Constanza Pascolatto.

E pra encerrar esse nosso papo, sei que é algo muito pessoal, mas não me contenho. Momento revelação: na nossa pré-adolescência, a gente usava Contourrer. Na adolescência nos apaixonamos pelo Garrão. Recentemente reencontrei esse perfume em uma lojinha da Savassi. De vez em quando uso. Mas, hoje, não abro mão do Docce &Gabana Light Blue, um dos poucos mimos a que ainda me dou ao direito. Quanto às minhas outras irmãs, ihhh, melhor eu não contar aqui. Talvez o mistério faça parte da estratégia delas. Vamos deixar assim.