O que há por trás das palavras?

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Estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Foto - redes sociais
Estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Foto - redes sociais

Orgulho-me dos amigos e amigas que encontrei pela vida. Alguns são poetas. Carlos Diamantino é um deles. Você vai se chocar, mas, confesso: sinto inveja desse moço nascido lá em Manga, nas barrancas do Velho Chico. Por que o invejo? Uai, porque diferente do Diamantino, sou incapaz de alinhar ideias com sonoridade.

Acredito que Diamantino, ao orquestrar as palavras, tenha bebido antes na fonte de um outro Carlos, o Drummond de Andrade. Na obra “Rosa do Povo”, o mestre nascido em Itabira ensina o caminho das pedras que, acredito, o moço de Manga seguiu sem medo de ser feliz:

” (…) Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário (…)”

Sei bem como se dá esse nascimento. Parir a primeira palavra, a primeira frase é desafiador. Aí, meu Deus! Que angústia! A lauda branca assusta (ops!). A tela azulada desafia. Mete medo.

  • E aí? Como é? Cadê o sujeito + verbo + predicado? Grita raivosa e impaciente a tela azulada.

Aos angustiados Drummond pede um pouco mais de calma e, no mesmo poema, generosamente, indica mais um caminho para o desabrochar das ideias:

” (…) Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio (…)”
Mas nada de se apressar. Tudo acontece a seu tempo:

Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço (…)”

Não sei você. Também desconheço o processo criativo do Diamantino. Mas, se me arrisco e escrevo, é porque esse meu atrevimento está ancorado no amor que sinto pelas palavras. E quando as “bonitas” cantam? Ai é que me apaixono de vez. Quer ver? Que tal “saudade”? Linda, né? Tem mais: luar, entardecer, nostalgia, sabonete … Há muitas outras. Vivo campeando por elas nos dicionários. Sigo essa trilha a conselho do mestre Drummond:

” (…) Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave? (…)

Ainda, não, Drummond. Apesar do meu amor confesso pelas palavras, há pouca reciprocidade por parte delas. A maioria foge de mim como o diabo foge da cruz. Drummond, pela sua grandeza e sabedoria, não entrou nesse jogo. Matou a charada e apontou aonde as danadinhas se escondem:

” (…).Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.”

É bem assim. Alguém viu a minha chave por aí?

2 COMMENTS

  1. Palavras! Sozinhas buscam por outras que as façam compreender! Mas, você Gisele, para mim, transforma uma palavra em histórias intermináveis de prazer, de saudades, de infância, de vida!!
    Que bom termos nossas vidas entrelaçadas por palavras chaves que se encontram em nossos corações! A sua palavra chave, com certeza, também mora lá!
    Beijossss

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