Abrigada numa armadura de afetos

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Foto - Nicodemos Rosa
Foto - Nicodemos Rosa

Aqui em casa, vez ou outra, o pé de manacá renasce e inunda o nosso quintal de flores. O perfume, delicioso, se nos encanta, também é chamarisco pra centenas de lagartinhas coloridas. Em poucas horas as bichinhas devoram tudo o que encontram pela frente. Ao final do banquete sobram somente os galhos desnudos do pobre manacá.

Mas aí, não demora muito, a natureza opera outro milagre diante dos nossos olhos. O que era lagarta vira borboleta. Muitas. O quintal se colore com uma revoadas delas. Um deslumbramento.

  • Ah, tá bom. São bonitas. E o pé de manacá?

Esqueça o banquete. A borboleta é símbolo da felicidade, da inconstância, da transformação, da efemeridade e da beleza. E tem mais.  No espiritismo, é o símbolo da reencarnação; na Psicanálise, está ligada ao renascimento do pensamento, da imortalidade. E, na mitologia grega, personifica a alma, representada como uma mulher alada. Segundo a mitologia, quando alguém morria, a alma saía do corpo em forma de borboleta.

Dia desses, absorta nos significados, me vi apartando uma discussão entre duas das minhas irmãs. Denise saiu em defesa do manacá. Queria porque queria promover uma verdadeira guerra bacteriológica contra as lagartas.

  • Vou no Marcelino comprar um produto pra exterminar de vez com essa praga. O Beto me disse que uma mistura de fumo com água costuma dar certo. Ele recomendou também a calda bordalesa. A proporção é de uma parte de cal virgem para uma parte de sulfato de cobre e cem partes de água.

Gilda, contra a matança, apelava para conceitos estéticos e humanitários:

  • Não mate as bichinhas. Elas vão virar borboletas. É só esperar pelo tempo da natureza.

Em meio à discussão abstrai e foquei no casulo. Na segurança desse abrigo temporário a borboleta espera silenciosamente pela nova vida.  No Aurélio, abrigo é sinônimo de proteção, resguardo das intempéries, refúgio. Em outros dicionários, a definição não é diferente.

E num é que o mesmo conceito também se aplica à vida real? Abrigo é casa, família e amigos. Se você está perdido, sem rumo, lá vamos nós. Não dá outra. O abrigo está no colo, no ombro. Refugie-se ai. Não há tempestade que o derrote.

Nesses tempos sombrios o meu abrigo é aqui. Na casa da minha infância. Essa mesma. A que tem um pé de manacá no quintal. Li em algum lugar, não me lembro a fonte, que a gente sempre encontra conforto numa armadura de afetos e de amor. Talvez o amor seja mesmo como um local de descanso, um abrigo da tempestade. É como num casulo.  Torcendo aqui para que você também já tenha se abrigado no seu.

8 COMMENTS

  1. Família e casulo. Tudo haver. Quer refúgio melhor que essa? E apreveitando, continua a defender as pobres lagartixas, pois sei que edlas irão se transformar em lindas🦋 🦋🦋. Apesar de amar o pé de manacá que foi herdado do jardim da vovó Cocota.

  2. Que texto lindo! Reflexões belíssimas como a leveza do voo de uma borboleta e o perfume inebriante da flor do manacá! 🦋🦋🦋💜💜💜

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