Que me desculpem os terapeutas, mas …

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Passar roupa, para algumas pessoas, funciona como uma espécie de terapia
Passar roupa, para algumas pessoas, funciona como uma espécie de terapia

Nesses tempos esquisitos, pra dar conta de tanta estranheza, vale tudo.

Há quem vire noites maratonando séries; outros mergulham de cabeça naquela playlist dos anos 70 bem “chicletes”. Tem também quem já tenha lido todos os nove volumes de Outlander. Eu cozinho, faço bolos e … passo roupa. Isso mesmo. Passo roupas.

Não acredita? É verdade. Até entendo a sua desconfiança. Afinal, passar roupas está no “top five” das tarefas domésticas consideradas ingratas. Mas eu gosto.

Se bate angústia, crise de tristeza ou vontade de jogar tudo pro alto, lá vou me perder naquele vai e vem do ferro sobre o tecido. E se for de algodão, então? Gosto da maciez, do toque e do cheirinho de roupa lavada.

Gyslaine, outra adepta dessa “terapia”, não economiza nas dicas sobre como alisar e dobrar. Minha irmã é especialista em passar lençol com elástico. Aliás, se você descobrir quem é o autor dessa invencionice, favor me dizer. Merece penalidade máxima. Ainda bem que nesse quesito tenho a consultoria da Gyslaine e sigo o Padre Fábio de Melo no instagram. O padre é um mestre no assunto. Com a assessoria dos dois, agora já tiro de letra.

E como conhecimento nunca é demais, segue uma dica: pra que a roupa dure mais, é preciso que descanse no armário por no mínimo 48 horas depois de lavada. Esse é o tempo necessário para que as fibras do tecido voltem à sua posição inicial. O descanso aumenta em até 50% a durabilidade da roupa. Palavra de quem já trabalhou em RH de hospital e de hotel. No caso, a Lulu. Só pra esclarecer, a lavanderia dessa minha irmã também também é conhecida como “playground da Lulu”.

Como toda psicóloga, a Lulu tem uma explicação para esse fato.

  • Talvez eu relaxe lavando roupas pela solidão que há nessa tarefa. Sozinha na lavanderia, passo um bom tempo separando as peças pela cor ou pelo tipo de tecido. Medito e relaxo ao separar as peças: roupas do dia a dia, roupas que serão lavadas na máquina, roupas que terão que ficar de molho e aquelas que devem ser lavadas a mão.

Tá na cara que a Lulu herdou esse gosto da nossa mãe. Mesmo trabalhando fora e com auxiliares em casa, Mamãe gostava de lavar roupas. Gostava também de dependurá-las no varal. Não o fazia de forma aleatória. Tinha uma ordem. Ora pela cor, ora pela forma ou pelo tamanho. Calças, camisa, camisetas, vestidos e depois roupas de cama e mesa.

Você tá aí achando que somos uma família de mulheres malucas? Que nada! Tem até quem faça música pra nos homenagear. Solte o som, Lenine:

“ Ah! Lavadeira do rio/ muito lençol pra lavar/ fica faltando uma saia/ quando o sabão acabar/ mas corra pra beira da praia veja a espuma brilhar…”

Quer mais? O cineasta Pedro Almodóvar também bebeu dessa fonte. A primeira cena do filme “Dor e Glória” se rende às lavadeiras e nos presta uma bela homenagem.

Uai, viajei aqui. Da tábua de passar e do tanque para a canção do Lenine e o cinema de Almodóvar. Reflexo desses tempos. Não foi Caetano quem disse que de perto ninguém é normal? Pois, é! Indo. O tempo urge. Há uma pilha de roupas me esperando pra passar. Terapia pra tarde toda.

6 COMMENTS

  1. Lembrei de outro famoso, Luiz Melodia: “lava roupa todo dia, que agonia, na quebrada da soleira, que chovia, até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada, uma mulher não deve vacilar” . E a Lulu lembrou de uma das antigas: “lata d’água na cabeça, lá vai maria, lá vai maria, sobe o morro e não se cansa, pela mão leva a criança, lá vaia maria”. 👏👏👏

  2. Eu sou como sua mãe, gosto de cuidar das minhas roupas! Adoro o cheiro delas dependuradas no varal! Delicia de texto👏👏👏👏

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