Por conta especialmente da ação do homem, o rinoceronte branco do norte, ou rinoceronte de lábios quadrados do norte ( Ceratotherium simum cottoni ), é considerada pela ciência uma espécie funcionalmente extinta. Existem hoje no mundo apenas duas fêmeas do animal, o que significa que, em tese, sem a existência de um macho, elas não poderão procriar.
Mas após anos de pesquisa, os cientistas têm esperança de conseguir preservar o rinoceronte branco do norte. Pesquisadores que acompanham as duas fêmeas Najin e Fatu, que vivem no Quênia em um local vigiado 24 horas por dia por um forte esquema de segurança, conseguiram coletar óvulos de ambas, que vão se juntar aos espermatozoides do último macho da espécie, Sudão, que morreu em 2018.
O embrião será então colocado numa espécie de “barriga de aluguel” de uma rinoceronte branco do sul, que terá a missão de gerar um filhote de rinoceronte branco do norte, assegurando, assim, sua sobrevivência. A ideia dos cientistas é criar um mínimo de cinco animais, que serão devolvidos ao seu habitat natural na África.
Esta é a terceira tentativa de criar um filhote com o esperma congelado do último macho da espécie e os óvulos das duas fêmeas restantes. Em 2019, pesquisadores italianos anunciaram a criação de um embrião com o esperma do Sudão, mas por conta de problemas de saúde tanto de Najin quanto de Fatu, a fertilização fracassou.
Barriga de aluguel
Daí a ideia de tentar uma “barriga de aluguel” com uma fêmea que esteja em boas condições de saúde. Ainda não está completamente definida a data da fertilização, mas os cientistas afirmam que ela ocorrerá nos próximos meses. Caso os embriões vinguem, os recém-nascidos serão colocados sob os cuidados das duas últimas fêmeas vivas, para que elas transfiram a eles o modo de vida da espécie.
Todo o processo de coleta de óvulos e criação e preparação para a transferência de embriões foi chamado de BioRescue. As instituições que participam do projeto são o Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológico e Vida Selvagem, da Alemanha; a Avantea, da Itália; o Zoológico Dvůr Králové, da República Tcheca, o Ol Pejeta Conservancy, do Quênia; e o Serviço de Vida Selvagem do Quênia.
As duas rinocerontes fêmeas pertencem ao Zoológico Dvůr Králové, na República Tcheca, mas vivem na Ol Peteja Conservancy, no Quênia.
“Não sabemos quantos embriões precisaremos para conseguir um nascimento bem-sucedido de um novo filhote de rinoceronte-branco do norte. É por isso que todo embrião é tão importante e a cooperação a longo prazo entre cientistas, especialistas em zoológicos e conservacionistas é um elemento crucial”, disse Jan Stejskal, responsável pelos Projetos Internacionais no Zoológico Dvůr Králové.
Caçada cruel
O rinoceronte branco do norte foi impiedosamente caçado pelo homem nas últimas décadas. E tudo por conta de seu chifre, que em países asiáticos é tido como um santo remédio, que pode servir tanto para uma simples dor de cabeça ou até mesmo para curar um câncer. No mercado negro, um quilo de pó de chifre de rinoceronte é comercializado por 53 mil dólares, o que equivale a quase R$ 300 mil.
Esse comércio ilegal, que praticamente dizimou o rinoceronte branco do norte, movimenta, segundo especialistas, cerca de 20 bilhões de dólares por ano. Nas décadas de 1970 e 1980, o número de animais passou de 500 para apenas 15. Do início da década de 1990 até 2003, a população de rinoceronte branco se recuperou para 32 animais.
Mas a caça continuou, até que restaram apenas três rinocerontes brancos do norte: duas fêmeas e um macho, que morreu em 2018, aos 45 anos, de causas naturais.
Que as duas fêmeas Najin e a sua filha Fatu, que não podem mais ter bebês, possam ajudar a criar os filhotes de inseminação artificial, contribuindo para salvar a sua espécie.
O rinoceronte branco do norte é uma das duas subespécies de rinoceronte branco (o outro é o rinoceronte branco do sul). Antes das brutais caçadas, eram encontrados em abundância no noroeste de Uganda, sul do Sudão do Sul, na parte oriental da República Centro-Africana e no nordeste da República Democrática do Congo.
Com informações do jornal The Guardian, site GNN e Revista Galileu
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