O umbigo consagrado

Nasci doentinha. Muita gente achava que eu não iria vingar. Não me aprumava de jeito nenhum. Foi ai que a minha avó paterna, dona Liberalina, decidiu apelar para Nossa Senhora Aparecida e “negociou” com ela. Se eu ficasse boa e poupasse o meu pai de me embalar ao som de “alecrim, alecrim dourado …” e deixasse a minha mãe dormir nem que fossem apenas algumas horas por noite, teria como contrapartida: eu passaria a me vestir de azul e branco – as cores do manto da nossa Mãezinha – e quando completasse sete anos faria uma visita à casa dela, em Aparecida. Trato feito. Promessa cumprida.

Saúde em dia, tomei gosto pelo azul. É a minha cor preferida até hoje. Independente do que é ditado como o “pantone” do ano, minha opção ainda é o azul.

Ah, quanto à viagem, os sete anos chegaram e nada. Só fui visitar a Nossa Mãe aos 18 anos. Depois disso, quase todos os anos juntamos a família e os amigos na van do Júlio e lá vamos nós em direção à Aparecida agradecer à Santinha pela saúde e pela vida. E, de quebra, ainda nos hospedamos na Pousada Bom Jesus, a mesma que abriga os Papas em visita à Aparecida. Lugar bom para meditar, rezar, comer e descansar. Recomendamos.

Você deve estar ai pensando que esse tipo de promessa é exclusividade da minha família. Que nada. Acontece com mais frequência do que você imagina. Vanilce, uma querida que conheci pelas redes sociais, me contou que com ela foi bem parecido.

• Nasci com uma hérnia umbilical enorme. Mas, morávamos em Furquim, Distrito de Mariana. Não tinha como operar com a urgência necessária. Foi aí que, piedosamente, Mamãe entregou minha hérnia aos cuidados de Nossa Mãezinha Aparecida.

As semelhanças não param por aí. A mãe fez a promessa da Vanilce se vestir de azul e branco. E mais: o segundo nome dela seria Aparecida. Promessa feita, milagrosamente, para espanto dos médicos, e fortalecimento da fé da mãe em Nossa Senhora Aparecida, a Val ficou boa.. Ainda hoje, pasmem, o umbigo em questão é bem fundo e não apresenta qualquer sinal da hérnia.

Milagres a parte, no município do real nem tudo é um mar de rosas. Com a parte do vestuário cumprida, a mãe da Vanilce se viu em apuros. O que fazer com todas as roupinhas cor de rosa que a bebezinha ganhava? Como explicar o imbróglio se a promessa feita à Santa não podia ser revelada?

O alívio veio quando um Padre desobrigou a mãe da Val de cumprir a promessa. Em troca, recomendou muitas orações.

A vida seguiu seu rumo, até que anos depois a Vanilce decidiu colocar um piercing no umbigo. Só que não deu muito certo.

• Já furei meu umbigo de todos os ângulos possíveis, mas assim que o furo cicatriza o piercing sempre é expelido.

Tal fato levou a Vanilce a concluir que o umbigo dela é consagrado e que por isso não precisa de mais nenhum adorno.

A propósito, a minha amiga ainda não conhece Aparecida, mas já está programando uma visita tão logo a pandemia passe. Nós, também.