A pequena cidade mineira de Cedro do Abaeté, o segundo menor município do Estado em número de habitantes, tornou-se nacionalmente conhecida por ser a única do país onde não foi registrado nenhum caso de Covid-19. O que explica tal feito, uma vez que Cedro não está isolada do resto do Estado?
A principal razão foi a forte adesão da população, de pouco mais de 1.200 habitantes, às medidas sanitárias recomendadas pelas autoridades de saúde: uso de máscara, higienização constante das mãos e isolamento social. “A conscientização da população para a importância de adotar essas medidas tem sido fundamental”, afirma o enfermeiro Alexandre da Silva Cruz, da secretaria municipal de saúde.
A atuação rápida do poder público, entretanto, foi também fundamental. Logo no início da pandemia, a prefeitura municipal instalou barreiras sanitárias na cidade, estabelecendo um controle rígido para quem quisesse entrar em Cedro do Abaeté.
Os os veículos eram parados, a temperatura dos passageiros era medida, todos eram questionados sobre sintomas de resfriados e quem quisesse permanecer no município era obrigado a cumprir uma quarentena de 14 dias. Como a cidade é pequena, os agentes de saúde checavam se o visitante estava cumprindo as orientações.
Por decreto da prefeitura, os moradores foram obrigados a usar máscara nas ruas e em locais públicos e o comércio passou a funcionar com restrições, com horário limitado e acesso de pessoas controlado, para evitar aglomerações.
Fábrica de máscaras
A prefeitura decidiu também criar uma pequena fábrica de máscaras para distribuir à população. “Compramos o material e o pessoal da educação, que estava com as aulas suspensas, e da saúde, ajudaram na confecção. Os agentes de saúde distribuíram de casa em casa, inclusive na zona rural”, conta Cássia Maria dos Santos, secretária municipal de saúde. Até o momento, já foram distribuídas gratuitamente mais de 5 mil máscaras.
Para evitar a circulação dos moradores da cidade para outros municípios, a prefeitura adotou também outras medidas. Antes da pandemia, segundo a secretária municipal, um ônibus ia com frequência ao município vizinho de Abaeté levar um grupo de cerca de 30 pacientes para consultas especializadas.
Agora, os especialistas, como cardiologista, ginecologista, neurologista, urologista, pediatra e psiquiatra atendem na cidade. Com horário marcado, para evitar aglomeração no posto de saúde.
E para evitar a circulação das pessoas na própria cidade, a secretaria municipal criou o Plantão Saúde, que já atende regularmente pacientes com alguma doença crônica. Caso o morador apresente algum sintoma de resfriado, como febre ou dor no corpo, por exemplo, basta acionar o plantão que em poucos minutos um enfermeiro chega para realizar o atendimento.
A prefeitura também contratou o principal serviço de comunicação da cidade: a bicicleta do Flavinho da Dona Madalena, com uma caixa de som que ele mesmo instalou na traseira.
“Atenção moradores de Cedro do Abaeté, a luta contra o coronavírus ainda não acabou. Juntos, estamos mantendo esse vírus fora de nossa cidade; por isso, devemos continuar nos protegendo usando máscaras, álcool em gel, evitando aglomerações e respeitando os protocolos das flexibilizações”.
Esse é o recado que o Flavinho transmite diariamente à população com sua bicicleta, percorrendo todas as ruas da cidade por três horas, sendo uma hora e meia no período da manhã e uma hora e meia no período da tarde.
Ajuda divina
E a prefeitura está vigilante para não perder o status de única cidade brasileira sem casos de Covid-19. Como no restante do país, após alguns meses de medidas mais restritivas, houve uma certa flexibilização nas regras. Mas como os casos de infecção voltaram a aumentar nos últimos dias por quase todo o Brasil, o Executivo municipal voltou a endurecer as regras.
O comerciante Mauro Lúcio Vieira, que tem uma distribuidora de gás e água no centro da cidade, acha que o fato de não haver nenhum caso de covid na cidade é um mistério. Mas ele tem uma teoria: “temos muito espaço para pouca gente”, afirma ele, se referindo ao número pequeno de habitantes. Como há espaço de sobra, não há também aglomeração de pessoas.
Mas os moradores também acreditam numa ajudazinha divina na proteção contra o novo coronavírus. “Creio muito em Deus! E costumo dizer que moramos num cantinho do céu e que somos abençoados”, assinala Cássia Maria dos Santos, a secretária municipal de saúde. “Temos a proteção de Deus”, arremata o enfermeiro Alexandre, embora ressalte que a equipe da secretaria municipal de saúde e boa parte da população esteja fazendo sua parte.
A cidade da terra verde
Cedro do Abaeté está a cerca de 240 km de Belo Horizonte, na região Central do Estado. O primeiro nome, Cedro, é porque no município havia uma grande quantidade dessa árvore nobre, que hoje praticamente não existe mais. Abaeté é porque a cidade, antes de ser emancipada, em 1962, pertencia ao município vizinho do mesmo nome.
Está encravada no alto de uma serra, a um altitude média de 1.000 metros acima do nível do mar, o que torna o seu clima bastante agradável. Apesar de ser o segundo menor município de Minas em termos de população, não é uma cidade pobre. Tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,748, que é considerado alto (a medida vai até 1), apesar de a receita vir quase que exclusivamente do Fundo de Participação do Município (FPM).
A única escola da cidade é pública e oferece ensino infantil, fundamental e médio. A qualidade do ensino é boa, com Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em torno de 6 nos anos iniciais do ensino fundamental. A saúde também é pública, não existe hospital, clínica particular e toda a população é atendida num posto de saúde. Casos mais complexos são encaminhados para municípios vizinhos ou mesmo para Belo Horizonte.
Uma peculiaridade do município que chama a atenção dos visitantes. Na cidade existe uma grande concentração de uma terra verde (sim, verde mesmo!), popularmente conhecida como verdete. Trata-se de uma rocha rica em potássio, que é muito utilizado na agricultura.
A cidade é banhada pelo rio Indaiá, que é conhecido por fornecer diamantes de alta qualidade, uma das pedras preciosas mais valiosas do mundo. É também tradição a Festa do Carro de Boi, que acontece anualmente, atraindo “carreiros” de várias partes do Estado.
Mas a grande riqueza do Cedro é o seu povo. Gente simpática, acolhedora, que gosta de uma boa prosa, de contar causos, que recebe sempre de forma calorosa os seus visitantes.
“Pequena cidade acredita na ciência”
Sou de Cedro do Abaeté. Tenho parentes e amigos na cidade, que visito com frequência. No início da pandemia, até mesmo para preservar minha mãe, dona Nem, que é moradora e pertence ao grupo de risco por ter acima de 80 anos, deixei de ir. Mas como falo diariamente com minha mãe, acompanho de perto o que está acontecendo por lá.
Na minha opinião, a agilidade da prefeitura em adotar medidas de proteção para a população assim que foi anunciada a pandemia foi decisivo para impedir a contaminação dos moradores pelo novo coronavírus. Como foi também decisiva a adesão da população às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para manter o distanciamento social, o uso de máscara e a higienização das mãos.
Nós, cedrenses, acreditamos na ciência. E deu muito certo até agora. Mas o Cedro, que é mesmo uma cidade muito pequena, não é uma ilha. E a exemplo do que vem ocorrendo Brasil afora, já se percebe na cidade um certo relaxamento em relação às medidas de proteção, em especial por parte da população mais jovem. Há também um fluxo maior de pessoas entrando e saindo do município. E por toda a vizinhança, há casos de Covid.
Oxalá Cedro do Abaeté continue, por muito tempo, ostentando o título de única cidade brasileira sem nenhum caso de Covid-19. A prefeitura e a maior parte da população vão continuar fazendo a sua parte. Mas vamos continuar precisando também da ajuda divina!
Ricardo Campos
Cedrense, com muito orgulho
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Fico pensando em quantas cidades deixaram de tomar essas medidas de prevenção por considerarem exageradas ou desnecessárias para cidades pequenas. Me faz lembrar Noé construindo a arca e sendo chamado de louco. Que Deus continue protegendo vocês.
Morando fora do país a 30 anos sinto-me orgulhoso de ser cedrense.
Obrigado pela fantástica matéria.
Quanta mentira em uma só reportagem! Moro em Cedro, aqui ninguém usa máscara kkkkk essa barreira durou 1 semana de 9 as 3 da tarde. Povo de fora voou pra cá e só foram embora quando viram que a pandemia ia acabar. Tem é que rir mesmo
Tia Dona Ném está aguardando sua visita, primo! Depois da pandemia, claro! rsrs Forte abraço.
Saí do Cedro há 60 anos, mas o Cedro não saiu do meu coração. Vemos que quem garante esse resultado positivo é o povo, o morador, aquele que ama o lugar onde mora. Isso, claro, a partir das diretrizes, orientações e controle, vindos dos qestores da Cidade. Cedro dos ricos diamantes e da sua jóia maior,seu morador, não é Tia Dona Nen?Cedro, meu Cedro querido, parabéns.