“La vita è troppo breve per non mangiare e bere bene.” Ou seja, ” a vida é muito curta para não comer e beber bem”.
Por aqui, esse provérbio italiano é seguido à risca. A gente come porque está triste;. come pra comemorar, também come porque gosta. Lembrando que “comer e beber bem” não têm, necessariamente, a ver com quantidade. Aliás, tudo em excesso não é nem saudável, nem educado. Sinal dos tempos. Lembro da Vovó Cocota dizendo:
- Menina, como você está bonita. Engordou. Está corada, cheia de saúde.
Hoje em dia esse elogio soa como uma heresia. E haja dieta, “nutri” e “endócrino”. Desculpem-me a intimidade. É que aqui em casa a relação com esses dois profissionais é recorrente. Ambos, fazem parte da nossa rotina. Em nome da boa forma travamos uma luta constante com a balança.
Mas a gente não tá aqui pra falar de coisa ruim, não é mesmo? Somos viciados em boas novas.
Que tal uma viagem? Se, infelizmente, ainda não dá pra colocar o pé na estrada e prender asas aos ombros, por enquanto tem que ser assim. Então, a gente vai direto pra cozinha. Por aqui, fonte de inspiração é mato. Cadernos de receitas, revistas, blogs, Instagram, Facebook e … livros, muitos livros.
Por falar em literatura e viagens, um grande amigo até sugeriu um resgate da Provence. Adorei. Mas fica pra outro dia. Hoje, o nosso passeio é pela Itália. Mais precisamente pela Úmbria, região vizinha à Toscana, conhecida por suas cidades medievais e por seus cogumelos e vinhos.
Em um dos muitos livros que ando lendo, a chef de cozinha Marlena de Blasi e o marido Fernando, depois de muito pesquisar, escolheram morar em um antigo salão de baile instalado em um palácio medieval de Orvieto.
Enquanto espera pela reforma do imóvel, o casal tenta se aproximar dos vizinhos. Como estratégia, Marlena cozinha. Uma viagem sem volta ao coração de pastores, cozinheiras, comerciantes, condes e marqueses da região.
Vida vai, vida vem, o gran finalle desse encontro entre diferentes é um banquete. De entrada, Marlena serviu peras de inverno com pecorino e focaccia de nozes. Depois veio o primeiro prato: um umbrichelli com olivada. Traduzindo, uma ótima massa artesanal temperada com azeitonas negras maceradas em sal e rum.
Só depois dessa gostosura foi servido o prato principal: pernil de porco assado em fogo baixo com vinho tinto e ameixas. Pra acompanhar, polenta de castanhas assadas. Fechando essa refeição dos deuses, veio a sobremesa. Marlena surpreendeu com um ingrediente que, para nós, é inusitado: azeite. A iguaria conferiu sedosidade ao sorvete de açúcar mascavo servido com laranjas sicilianas carameladas. Hummm! Puro deslumbramento!
Já sei. Vocês estão pensando em reproduzir essa experiência sensorial? Que nem eu. Antes, melhor prestar atenção na recomendação da chef Marilena: “Lembre-se que as receitas importam menos que as pessoas que se sentarão à mesa. Muito menos.” Fica a dica.
A propósito, Marlena de Blasi não é apenas o personagem mais marcante de “A doce vida na Úmbria” (editora Sextante). Além de chef de cozinha, Marlena é jornalista, consultora de enologia e gastronomia e crítica de restaurantes. E junto com o marido Fernando organiza excursões gastronômicas pela Toscana e pela Úmbria. Quem sabe depois que tudo isso passar, heim? Alguém se habilita? Aceito companhias.
Texto maravilhoso e inspirador!
Gisele, você sempre nos brindando com seus artigos que nos fazem viajar pelo mundo e conhecer as delícias de cada local.
O menu da Marlena deu água na boca. Abaixo a anorexia!!! Abaixo a ditadura fitness!!! Viva a boa mesa!!! Comer e beber bem não resolve o coronarivus, mas melhora muito a quarentena. Aguardo a PROVENCE!