O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a IBM e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), decidiu analisar a voz de pacientes, com recursos da inteligência artificial, para identificar mais rapidamente suspeitos da Covid-19. O projeto foi batizado de Spira – sigla de Sistema de Detecção Precoce de Insuficiência Respiratória por meio de Análise de Áudio
Como a insuficiência respiratória é um dos principais sintomas da doença, ao analisar a voz da pessoa, por meio de técnicas de aprendizado de máquina, será possível identificar se há risco de que ela tenha sido infectada pelo novo coronavírus.
Se constatar que a pessoa apresenta insuficiência respiratória, o sistema emitirá um alerta para o profissional de saúde que está monitorando o paciente remotamente. Esse profissional entrará em contato com a pessoa ou um acompanhante para encaminhá-lo a um hospital.
“A ideia é identificar pela voz se uma pessoa que está falando ao telefone ou na frente da tela de um computador, por exemplo, apresenta um nível de insuficiência respiratória que indique a necessidade de ir imediatamente para um hospital para ser avaliada por uma equipe médica”, explica o professor Marcelo Finger, professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e coordenador do projeto.
Diagnóstico tardio
Segundo a professora Anna Shafferman, outra das pesquisadoras, o sistema será especialmente útil no diagnóstico da Covid-19 porque a doença tem progressão muito lenta. “Por isso, a maioria dos pacientes percebe muito tardiamente a piora do quadro e demora para ir a um hospital”, assinala a professora.
Ainda conforme a professora Anna, as pessoas que evoluem para quadros mais graves da doença começam a piorar só após o sétimo dia de infecção e entre o oitavo e o 11º dia ocorre uma piora súbita.
“No começo da epidemia, perguntávamos por que as pessoas demoravam tanto para procurar um hospital. Constatamos que isso se deve ao fato de não notarem que estão piorando. Por isso, a orientação é não ficar em casa esperando perceber que está com insuficiência respiratória porque essa percepção é muito tardia”, recomenda a professora.
Para desenvolver o sistema, os pesquisadores criaram um programa para coletar gravações de frases como “o amor ao próximo ajuda a enfrentar o coronavírus com a força de que a gente precisa”, lidas por pacientes com Covid-19 internados no Hospital das Clínicas.
As amostras de voz coletadas serão comparadas com as de pessoas sem a doença para identificação de padrões diferentes por programas baseados em inteligência artificial.
Doe sua voz
Por meio de técnicas de aprendizado de máquina, como de redes neurais, o sistema irá aprender a identificar se uma pessoa apresenta insuficiência respiratória pela quantidade de pausas, respirações e outros padrões presentes na voz ao proferir uma sentença, por exemplo.
O leitor, caso queira, pode contribuir com a pesquisa oferecendo sua voz. Basta acessar o site do projeto e gravar três frases: “O amor ao próximo ajuda a enfrentar o coronavírus com a força que a gente precisa”; “Batatinha quando nasce, espalha rama pelo chão”; “Parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida.”
É rápido e 100% anônimo. Mais de 7 mil pessoas, por enquanto, já deram a sua contribuição.
Com Agência Fapesp