Você também está com a sensação que o mundo está de cabeça pra baixo? É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que não há quem não questione: – O que está acontecendo?
Ai é que está. A resposta pode estar no passado. Até posso ouvir uma vozinha que vem lá no fundo, se repetindo como se um fosse mantra: “Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. E lá vou eu remeter ao historiador grego Heródoto para tentar explicar o até então inexplicável.
Esse meu link com História não é de agora. Sou uma apaixonada pelos feitos passados. Talvez por influência da minha mãe. Dona Nely era uma professora como poucas.
Nos últimos meses tenho me enveredado por essas incursões na história. Uma coisa puxa a outra. “Sombra das Romãzeiras”, de Tarik Ali, tem como pano de fundo a guerra entre mouros e cristãos. O livro me chamou a atenção sobre Isabel, rainha da Espanha que, por sua vez, tinha laços políticos e de parentesco com a família Bragança.
Daí para um mergulho na história do Brasil foi um pulo só. Já fui de Dona Maria I, a rainha que entrou para a história como louca, mas que de demente não tinha nada. Quem me contou sobre ela foi a historiadora Mary del Priore. A propósito, Dona Maria não era nem louca nem psicótica maníaca depressiva. Sofria de depressão severa, mal que hoje atinge a 6% dos brasileiros e a 8% dos portugueses.
A história de Dona Maria me levou ao filho, Dom João VI. O monarca português que passou à história como um glutão, uma caricatura ambulante capaz de comer até nove frangos por dia e de carregar coxinhas nos bolsos.
Glutão, sim. E injustiçado. A “difamação” possivelmente nasceu em Portugal. Naquele país, os liberais que lutavam contra o absolutismo no século XIX procuraram “sujar” a memória de tudo que lembrasse o antigo regime. Vem também do Brasil, onde as chacotas coincidiram com a campanha pela República, que também procurava varrer do mapa os valores da realeza. Tudo isso me foi lembrado pelo escritor e jornalista Laurentino Gomes. Fui conhecer esse “outro lado da moeda” em “1822”.
Nesse livro, escrito em formato de reportagem, Gomes conta que Dom João não foi preparado para ser rei. Teve de assumir o leme devido à morte de seu irmão mais velho, Dom José, e à doença da mãe, a rainha dona Maria I. Para complicar, a coroa portuguesa era ameaçada pela França de Napoleão Bonaparte e dentro do reino crescia o embate entre absolutistas e defensores do liberalismo, inspirados pelos ideais da Revolução Francesa. Dom João tinha inimigos por todos os lados, mas soube conduzir bem o jogo.
Na obra fica claro que a “fuga” para o Brasil não teve nada de impensada. Com a vinda dos Bragança e um séquito de 20 mil pessoas para o Rio de Janeiro, Dom João escapou da deposição e do aprisionamento pelas tropas francesas. Ao mesmo tempo, impediu que as colônias ficassem ao deus-dará, sob risco inclusive de desagregação.
Mal sabia Dom João que o inimigo estava dentro do Palácio. A esposa, Carlota Joaquina, foi a sua maior cruz. Além de traí-lo, a rainha tinha sede de poder. Uma exumação das vísceras do imperador confirmaram uma suspeita antiga: Dom João morreu envenenado por arsênico. Vai se saber por quem, né mesmo? Há suspeitas.
Se “1988” joga luz sobre o estrategista Dom João VI, desnuda por completa o nosso Dom Pedro I, o mesmo Dom Pedro IV de Portugal. Um personagem controverso que ao longo de dois séculos teve sua imagem moldada de acordo com a conveniência política da época. Foi de herói sem defeitos a boêmio, farrista e mulherengo. Essa dupla visão se repete em Portugal, onde reinou por apenas sete dias. Por lá, ainda hoje há divergências. Herói ou vilão?
Me alonguei demais. Me empolguei aqui. A história completa do nosso Dom Pedro fica pra outro dia.
Mas, para aguçar a sua curiosidade, vou deixar um spoiller porque sou dessas: Napoleão Bonaparte, que havia forçado a corte a se refugiar no Brasil, era admirado por Dom Pedro I, parente por duas vezes do imperador francês. Sua primeira mulher, Leopoldina, era irmã de Maria Luiza, segunda esposa de Napoleão. Quando Leopoldina morreu, Dom Pedro casou -se com Amélia, filha de Eugênio, por sua vez, filho de Josefina, primeira mulher de Napoleão.
Mas, como eu disse, isso já é uma outra história. Fica pra próxima. Até.
Pensei que tinha um pastel de Belém, um leitão alentejano, um arroz de pato ou um polvo à lagareiro no meio. Mas história pura… se bem que teve a caricatura do franguinho no bolso da casaca do D.João VI. A culinária acaba pintando de um jeito ou outro