Apesar do protesto de alguns ambientalistas, uma criatura das mais antigas do mundo, que sobreviveu aos dinossauros e que existe no planeta há pelo menos 450 milhões de anos, conhecida como caranguejo-ferradura, continua sendo fundamental na produção de vacinas, como é o caso das que estão em estudo contra a Covid-19.
O caranguejo-ferradura carrega no seu sangue azul uma substância que é vital para testar a contaminação durante a fabricação de qualquer coisa que possa entrar no corpo humano, desde vacinas e gotas intravenosas a dispositivos médicos implantados.
Seu sangue azul é um dos líquidos mais caros do mundo. Um litro costuma ser vendido por cerca de US$ 15 mil, o equivalente a R$ 80 mil. E ele tem a cor azulada por conta da presença do cobre, segundo os especialistas. No sangue humano, os átomos de ferro desempenham a mesma função, gerando a cor vermelha. Mas não é a cor que interessa aos cientistas.
Além do cobre, o sangue do caranguejo contém um produto químico especial que retém as bactérias por meio da coagulação. Esse componente é capaz de detectar a presença de bactérias, mesmo em quantidades extremamente baixas, e o agente de coagulação é usado para fazer os testes.
Esse elemento coagulante é utilizado em um método conhecido como LAL (Limulus Amebocyte Lysate), que serve para descobrir se algo destinado para uso médico está contaminado ou não.
Embora tenha surgido no mercado, dois anos atrás, uma substância sintética que poderia substituir o sangue do caranguejo, no caso das vacinas em estudo contra a Covid-19 o que está sendo usado é o sangue azul desse “fóssil vivo”. O produto sintético, alegaram recentemente cientistas norte-americanos, carece de mais estudos para comprovar sua eficácia.
Retirada do sangue
Desde 1970, cientistas têm extraído o sangue azul do caranguejo-ferradura para testar se equipamentos médicos e equipamentos intravenosos são seguros para o ser humano. Todos os anos, cerca de meio milhão desses animais são capturados no Atlântico para uso biomédico.
Para recolher o sangue, suas conchas são perfuradas e cerca de 30% de líquido do animal é retirado. Depois do processo, os caranguejos são devolvidos à natureza. Ainda assim, há protesto de ambientalistas mundo afora contra o seu uso para fins médicos.
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“É uma loucura depender de um extrato de animal selvagem durante uma pandemia global”, disse ao jornal New York Times Ryan Phelan, chefe da Revive and Restores, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com conservação da vida selvagem. Ele defende o uso de produtos sintéticos nessas testagens, mas os cientistas continuam preferindo usar o sangue azul do caranguejo fechadura.
Quem são
O límulo (Limulus polyphemus), também conhecido como caranguejo-ferradura-do-atlântico, não são crustáceos, mas sim algo mais próximo de um carrapato, escorpião ou aranha. Habitam a costa atlântica da América e os mares do Sudeste Asiático, chegam a atingir 51 cm e podem viver entre 20 a 40 anos.
Além da extraordinária capacidade de seu sangue, que também ajuda a detectar meningite e câncer, os caranguejos-ferradura podem suportar calor e frio extremos, bem como passar um ano todo sem comer.
Que a ciência descubra logo um método sintético eficaz que possa poupar o sangue azul do caranguejo-ferradura.