Mais uma vez , lá vem a prima me cutucar com a vara curta. Questionada sobre a última coisa que faria antes de morrer, respondeu que escreveria cartas. Assim, de bate pronto. Pááá.
Em um texto primoroso, essa prima querida conta que pensou nas pessoas que ela gostaria de falar coisas que nunca tinha dito. “Fiquei surpresa por nenhuma carta ser amorosa. Algumas eram honestas, outras, vi sendo abertas levando um punhal apontando pra garganta. Nada que deixasse a pessoa feliz ou que ela sentisse vontade de mostrar pra alguém. Imaginei que o único destino dessas cartas, depois de lidas, seria o fogo.”
Acostumada a lidar com as emoções humanas, por formação e por natureza, a prima foi na jugular. “Queimar – afirmou -, é uma metáfora boa para usar nas relações que foram ou que têm sido textos sem uma pontuação precisa.”
E ainda alertou: “Reparem. Essa minha iniciativa – de investir a última gota de energia antes da morte – me mostrou que eu tenho pendências. E eu nem sabia desses desajustes. Vocês vejam que na “véspera da minha morte” ainda estou descobrindo algo novo a tratar comigo (…).”
Esse tal de “tratar comigo” costuma doer. Mesmo no momento que antecede à morte. E sobre dores eu entendo bem. Como agora, por exemplo. Botar a cabeça pra fora ou – pra ser gentil comigo – emergir do ano sabático a que me permiti, dói. E muito.
Mas, voltando às cartas, certamente, a exemplo da prima, no meu caso, as amorosas certamente estão descartadas. Não tenho pendências nessa categoria. Quanto às outras, ainda há muito a relatar. Talvez seja essa a melhor hora para exorcizar alguns fantasmas, protagonistas que são de relações que deixaram várias interrogações. Ainda sem ponto final. Infelizmente.