A morte do apresentador Gugu Liberato criou uma grande comoção nacional. Comunicador talentoso, parecia pessoa dotada de ótima saúde. Um acidente doméstico, contudo, foi responsável por sua partida precoce, aos 60 anos.
Nas redes sociais, além das manifestações de pesar, surgiram outras, voltadas à reflexão das circunstâncias em que se deu a morte. Uma delas, a do médico geriatra Carlos Sperandio, radicado na capital paranaense.
Sperandio pergunta de que morreu Gugu Liberato, e ele mesmo responde: de uma decisão errada. “Ele acreditou ter condições físicas e cognitivas para subir em um lugar perigoso e negligenciou o risco da queda”. E emenda: “Erro na tomada de decisões e quedas são dois gigantes que causam muitas mortes todos os anos entre os idosos”.
Muitos de nós, que já passamos dos 60, sabemos bem o que é isso. Não é fácil, temos que admitir, aceitar, sem opor resistência, que nosso corpo passa a não ser mais capaz de acompanhar nossa mente, nossa vontade, nossos desejos. Não é fácil admitir o processo de envelhecimento e as limitações que ele impõe.
Sabemos todos que, à medida que o tempo passa, nossa máquina dá sinais de cansaço e precisa, dia após dia, de mais cuidados. Cautela, comedimento, moderação, em vários terrenos, deveriam ser palavras de ordem pra nós. Dificilmente são. Regra geral, as informações de que dispomos, e que deveriam orientar nossa conduta, não são introjetadas por nós. Mecanismo de defesa, que, não raro, pode nos custar caro.
O envelhecimento não deve produzir em nós uma sensação de incapacidade, de impotência, de perda de valor e valentia. Não devemos, por outro lado, ignorar que não somos mais jovens, que não temos mais 20 anos. Precisamos adequar nossa mente ao novo estágio de nosso corpo, inexorável, gostemos ou não. Precisamos aceitar as limitações que se impõem ao nosso corpo, pelo avanço da idade.
Aceitar as limitações não é nos dobrarmos a elas, nos apequenarmos. Saber que nosso cérebro tende a encolher, que nossos joelhos não têm mais a mesma força para suportar o peso que sobre eles recai, que nosso equilíbrio corporal e nossa massa muscular podem precisar de um reforço, nada disso significa sermos passivos diante do fim, que tende a estar mais próximo que o começo.
Aceitar as mudanças em nosso corpo é ter sabedoria pra curtirmos melhor, com mais qualidade, o tempo presente. É, também, apostar no futuro, tão bom quanto sejamos capazes de construí-lo, ainda que, pra isso, tenhamos que contar com uma boa dose de sorte.