2019 tem sido um ano tenebroso para os brasileiros que se preocupam com o meio ambiente e a saúde. Enquanto o resto do planeta, sobretudo a Europa, está restringindo o uso de agrotóxicos, o Brasil está se transformando no paraíso dos pesticidas. A boa nova é que pipocam no país, aqui e ali, experiências de produção de adubos orgânicos, salutares não apenas para a agricultura, como para a saúde humana e dos animais do campo.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o Brasil possui cerca de 300 insumos com certificação para atender ao mercado orgânico. O número é ainda bastante pequeno, se comparado a outros países (nos Estados Unidos são cerca de 5 mil), mas já é um começo e revela um caminho que tem tudo para ser exitoso no futuro.
Para se ter uma ideia dos riscos que estamos correndo com os agrotóxicos, apenas de janeiro a julho deste ano nada menos que 290 novos pesticidas foram autorizados. Segundo o Greenpeace, mais 500 novos pedidos de registro já foram acatados pelo governo. Dos que foram liberados este ano, 41% são altamente ou extremamente tóxicos, sendo 32% proibidos na União Europeia.
A Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, aprovou em julho um novo marco regulatório para classificação toxicológica dos agrotóxicos, flexibilizando os critérios e passando a enquadrar pesticidas antes considerados altamente tóxicos em categorias muito mais brandas.
Uma prévia do “Pacote do Veneno”, projeto de lei em tramitação na Câmara Federal, que concentra no Ministério da Agricultura o processo de aprovação, eliminando a competência da Anvisa e do Ibama e afrouxando de vez os critérios para a liberação dos pesticidas. O “Pacote do Veneno” já foi aprovado em comissão especial, presidida pela atual ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também por isto apelidada de “Musa do Veneno”.
A lógica financista da política de liberação desenfreada dos pesticidas é de tal ordem que o site oficial do Ministério aborda as experiências de produção de defensivos orgânicos não pela via da proteção à saúde, mas apenas como instrumento de redução do uso de insumos e custos da produção
Na contramão dessa política, no Norte de Minas, na comunidade Ribeirão, município de Indaibira, desenvolve-se um defensivo biológico feito de material ruminal, pó de rocha e caldo de cana de açúcar, com resultados muito animadores na melhora do controle de pragas, aumento e coloração das folhosas e frutos e até mesmo, no caso do café, aparente aumento da produção.
A experiência visa, segundo afirmou o engenheiro agrônomo Luís Antônio Gonçalves da Silva ao Movimento dos Atingidos pelas Barragens (
MAB), repassar aos produtores uma opção para produzir, reduzindo os impactos ambientais e problemas para a saúde.
A ofensiva dos agrotóxicos enfrenta, assim, não apenas a resistência de todos os que se preocupam com o bem estar da coletividade, como também uma resposta ativa, embora ainda muito limitada, de agentes conscientes no campo, sejam trabalhadores ou produtores rurais.