Um cálculo feito por pesquisadores brasileiros mostra que os 270 milhões de hectares de vegetação nativa preservados em propriedades rurais rendem ao Brasil R$ 6 trilhões ao ano em serviços ecossistêmicos, como polinização, controle de pragas, segurança hídrica, produção de chuvas e qualidade do solo.
O trabalho dos pesquisadores resultou em um artigo, que foi publicado pela
revista Perspectives in Ecology and Conservation e endossado por 407 cientistas brasileiros, de 79 instituições de pesquisa. Para fazer o cálculo, os pesquisadores usaram estudos de valoração de serviços ecossistêmicos, que foram aplicados aos 270 milhões de hectares de vegetação nativa dos biomas brasileiros.
Essas estimativas de 270 milhões de hectares preservados estão consolidadas e vêm sendo aplicadas há anos, inclusive pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês).
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Parte da solução
“Queremos mostrar que preservar a vegetação nativa não é um impedimento ao desenvolvimento social e econômico, e sim parte da solução”, explica Jean Paul Metzger, do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do trabalho.
O estudo feito pelos pesquisadores foi uma resposta a um projeto de lei apresentado no Senado, que pretendia alterar ou eliminar a exigência da Reserva Legal, estimada em 167 milhões de hectares (dos 270 milhões de hectares preservados – os outros 103 milhões de hectares, embora preservados, não são protegidos pela legislação). O projeto acabou sendo retirado pelos autores.
Impacto na lavoura
Um dos argumentos apresentados no artigo dos pesquisadores é o impacto de polinizadores na produtividade das lavouras de café. “Um estudo realizado pelo nosso grupo mostrou que a produção dos frutos de café é maior com a presença de abelhas, e que isso representa um ganho de R$ 2 bilhões a R$ 6 bilhões por ano no Brasil. Sem o trabalho das abelhas, continuaria tendo produção de café, mas 20% menor”, afirma o professor
Jean Paul Metzger.
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“Quem tem uma visão de curto prazo, como parte do agronegócio, pensa em três ou quatro anos de lucro pessoal, e depois o país fica com um prejuízo enorme. Essa filosofia tem de acabar”, afirma o professor Paulo Artaxo, membro da coordenação do Programa Fapesp de Mudanças Climáticas Globais, que também endossa o artigo.
Com informações da agência Fapesp