O bullying é um dos problemas que mais preocupam pais, professores e educadores. Muitas vezes, o ato acontece sem que a criança se manifeste, o que acaba gerando mais problemas ainda.
Pensando em criar soluções para reduzir o bullying e conscientizar as crianças sobre essa questão, uma escola de Belo Horizonte criou um projeto que não só combate essas atitudes agressivas, mas, principalmente, transforma o ambiente educacional.
A ideia das professoras Juliana Tofani de Souza e Vanessa de Salvo Castro Alves, ambas da 5ª série da Escola Municipal Desembargador Loerto de Abreu, foi minimizar o comportamento inadequado e evitar que essa agressividade se volte contra as próprias crianças.
O projeto Não ao Bullying instiga a reflexão sobre essa prática, promovendo a conscientização e a prevenção dessas situações em ambiente escolar. Em 2018, o trabalho foi realizado com cerca de 60 crianças com idades entre 9 e 14 anos.
Trabalhar com crianças dessa faixa etária é um enorme desafio e requer muita habilidade. Elas estão em período de transição da infância para a pré-adolescência e são muito críticos. E, principalmente em ambiente escolar, essas críticas podem extrapolar e acabar virando bullying.
Juliana diz que as alterações vividas nessa faixa etária interferem muito no comportamento dos alunos. “As turmas do 5º sempre foram um desafio. É um momento de mudanças na vida escolar e também no comportamento das crianças, que estão em uma faixa etária mais complexa, descobrindo novas vivências e interesses. A adaptação nem sempre é fácil.”
Convivência saudável
A professora explica que professores e pais devem saber lidar com as alterações de humor para garantir uma convivência saudável. “Nesse contexto de mudanças, estão presentes, muitas vezes, a indisciplina, a agressividade, a falta de compromisso, agravada pelo acompanhamento familiar precário e até mesmo por ofensas verbais ou físicas.”
Para o desenvolvimento do projeto Não ao Bullying, as professoras elaboraram propostas diversificadas envolvendo diferentes áreas do conhecimento, dinâmicas e materiais. A proposta visou explorar os recursos existentes na escola e das aulas de informática.
Durante o ano, os alunos também assistiram a filmes e vídeos sobre a temática, conversaram, entrevistaram, ouviram relatos e palestras com convidados que descreveram situações em que sofreram ou sofrem bullying.
Pensamento crítico e autonomia
A professora Vanessa fala que essas atividades contribuíram com as reflexões e conclusões sobre as ações cotidianas de cada um. “Hoje, o fluxo de informações é veloz e descontinuado. Existe uma sobrecarga de informações, que acontece por meio de comunidades virtuais e reais, o que pode facilitar, mas também pode trazer desacertos para a comunicação entre as pessoas e o entendimento errôneo do que é aprendido. Nosso projeto busca aguçar o interesse, o pensamento crítico e divergente, a criatividade, e incentivar a autonomia, envolvendo não só nossos alunos, mas também as famílias, os profissionais e outras turmas da escola”, diz.
Na avaliação das autoras do projeto, os resultados são gratificantes. Elas dizem que são perceptíveis melhoras nas relações interpessoais e avanços no desempenho escolar. “Os alunos estão mais maduros e autônomos, capazes de argumentar pontos de vista com fundamentação e de se posicionarem frente aos problemas de forma mais reflexiva e apaziguadora”, diz Vanessa. “A mudança de postura desses alunos trouxe reflexos positivos para toda a escola. O clima escolar melhorou e hoje as turmas do 5º ano participam do dia a dia da escola com mais interesse e harmonia”, afirma Juliana.
“Já sofri bullying”
O aprendizado é reconhecido pelos estudantes. Ketlen Cristine da Silva, de 11 anos, diz que olhava as pessoas com superioridade e só via defeitos: “Aprendi a respeitar a personalidade das pessoas e minha vida mudou. Agradeço pelo que fizeram por mim, pelo incentivo, pelo apoio de todos. Se não fosse por isso, acho que eu seria uma pessoa pior”.
Também para Vitória Alves do Santos, também de 11 anos, a convivência com os colegas se tornou mais harmoniosa. “O que achei mais importante no projeto foi que as professoras se empenharam muito para ajudar a gente a parar de fazer bullying com os colegas. Já sofri bullying e sei como é ruim. Os alunos me chamavam de chimpanzé, de macaco e isso diminuiu muito depois desse projeto”, diz.
Com informações da Prefeitura de Belo Horizonte