Conheça histórias e tradições do artesanato mineiro

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Artesanato mineiro usa o capim dourado em sua criação

Em Minas Gerais, materiais como cerâmica, madeira, pedra-sabão e fibras vegetais dão vida a belíssimas peças, que decoram casas e estabelecimentos no mundo inteiro. Muita gente conhece e logo identifica, por exemplo, a famosa cerâmica do Vale do Jequitinhonha, as detalhadas peças de pedra-sabão de Ouro Preto ou a rica prataria feita em Tiradentes e São João del-Rei. Essas são algumas das vocações do artesanato mineiro.

Por exemplo: pouca gente sabe, mas, além da tradicional cerâmica do Jequitinhonha, conhecida mundialmente, a região também produz peças a partir do capim dourado, uma espécie de sempre-viva da família euriocaulaceae. O vegetal, que tem cor e brilho únicos, é a principal matéria-prima para a confecção de bijuterias, luminárias, artigos de decoração e outros.

Em Raiz, povoado de Presidente Kubitschek, a 50 km de Diamantina, no Alto Jequitinhonha, a comunidade se une para cultivar e transformar a planta. “A gente já trabalhava com ela e a chamávamos de capim de cheiro. A gente achava que era igual às outras espécies, então fazíamos apenas arranjos. Até que um técnico da Emater descobriu que se tratava do capim dourado, que é muito bonito e valorizado. Com ele, a gente consegue fazer o artesanato mineiro”, diz a presidente da Associação Comunitária de Raiz, Erci Ezelda.

Desde a descoberta, os artesãos melhoraram de vida, com aumento do faturamento. “Hoje, somos 23 pessoas trabalhando com o capim dourado, e melhorou muito para nós. O artesanato aqui é muito tradicional, a gente aprende dentro de casa. Eu mesma aprendi com minha mãe e hoje vivo do cultivo das sempre-vivas e do nosso artesanato, que a gente vende em Diamantina e em feiras em todo o país”, comenta Ezelda.

Tradição familiar

Já as esculturas e entalhes em pedra-sabão de Ouro Preto encantam os mineiros e também os turistas. Há mais de 50 anos, os irmãos Bretas trabalham com o material na região. “Nos anos 60, meus dois irmãos trabalhavam com argila em Cachoeira do Campo. Viemos para Ouro Preto, eu com 5 anos de idade, e conhecemos a pedra-sabão. Tinha um artista incrível aqui, o Bené da Flauta, que fazia miniaturas, bichinhos. Meu irmão começou a fazer também, coisas pequenas, cinzeiros, escudos de time. Eu entrei só dando acabamento. Sem perceber, lá para 1967 a gente já estava trabalhando profissionalmente com isso”, diz o artesão Eli Bretas, de 64 anos.

“O começo foi de muitos sacrifícios. A gente fazia as peças, botava em um balaio e ia para o centro da cidade vender. Mas criamos família, construímos nossas casas com a pedra-sabão.” Bretas conta que cada irmão imprime suas características ao material: “O Vicente, por exemplo, faz esculturas impressionantes. Ele trabalha com a forma humana e confere a elas um movimento que você nunca imagina. Eu, por outro lado, trabalho com o abstrato e o barroco.”

Em 50 anos de trabalho, as peças da família estão espalhadas pelo mundo, e, pelo trabalho, eles foram homenageados na Feira Nacional do Artesanato, que aconteceu em dezembro, em Belo Horizonte.

Tecelagem

Em pequenas cidades, como Arinos, Buritis, Bonfinópolis de Minas, Uruana de Minas e Chapada Gaúcha, os bordados e o tingimento natural de fios são uma tradição do artesanato mineiro que atravessa décadas.

Após a colheita e descaroçamento do algodão, ele é limpo, as fibras desembaraçadas e os nós desfeitos. Daí ele vai para a roda, onde, com a habilidade e os movimentos precisos das fiandeiras, vai tomando forma de linha. Os novelos depois são tingidos com pigmentos naturais, como folhas e serragens de ipês, jatobás e outras árvores. Todo o processo é artesanal e confere tonalidades diferentes ao fio.

Já no tear, é hora de deixar a prática e a criatividade tomarem conta: o instrumento dá forma a mantas, caminhos de mesa, tapetes, cortinas, bolsas e diversos outros produtos que são a cara de Minas Gerais. “Desde 2006, trabalhamos com seis grupos de artesãs, de diversos municípios aqui da região. Os bordados das árvores do Cerrado são nosso carro chefe”, conta Luciana Vale, uma das fundadoras da Central Veredas, ONG que se organiza por meio de uma rede solidária de atividades artesanais. São mais de 200 associados, que dedicam sua vida ao artesanato.

O bordado é um dos principais artesanatos mineiros | Foto: Neimar Costa/Seedif

Em outra região histórica de Minas, a tecelagem também é uma das vocações do artesanato mineiro, além do estanho. Quem passa pelas redondezas de São João del-Rei pode conferir os produtos da atividade, tradicional por ali. Artesã na cidade de Resende Costa, Ester Vieira, 69 anos, fica pelo menos seis horas por dia no tear. “Desde 1968 eu faço artesanato. Minhas filhas querem que eu pare de trabalhar, mas eu não consigo. Sem isso eu não seria feliz”, afirma.

Formada em Turismo, Ester nunca quis exercer a profissão de formação. “Para mim não tem feriado, não tem dia santo nem nada. Aprendi com a minha avó e desde então teço diariamente. Tenho paixão pelo que faço. Hoje, tenho uma neta que, com nove anos, já tecia tapete com a maior facilidade.”

Ainda em São João del-Rei o estanho garantiu reconhecimento internacional ao artesanato local. São castiçais, cálices, copos, vasos que mais parecem obra de arte. Produzidas desde os anos 60, quase nada mudou no processo de fabricação das peças, que até hoje mantêm características artesanais. A cidade é a principal produtora de peças em estanho do país.

Porcelana

Muita gente não sabe, mas Minas Gerais tem também a única fábrica de porcelana azul e branca do Brasil. A cidade de Monte Sião fabrica, desde 1959, todos os tipos de louças e bibelôs sempre nas cores azul e branca, inspiradas nos azulejos portugueses. O processo de produção é totalmente artesanal: a matéria-prima é moída, são feitos os moldes e depois, manualmente, é aplicada a pintura de cada peça.

“Nossas peças se assemelham muito a antigas louças portuguesas, então as pessoas quando visitam a fábrica ficam surpresas ao descobrir que são produzidas em Monte Sião, e que são feitas e pintadas a mão. Acontece muito também de alguém comprar algo nosso, presentear, e quem vê ou ganha acha que é importado, que veio de fora, quando na verdade é produzido artesanalmente aqui em Minas”, conta Ricardo Talarico, auxiliar administrativo da Fábrica de Porcelana Monte Sião.

Radiografia do artesanato mineiro

Estima-se que existam 300 mil artesãos em Minas Gerais, que alimentam um mercado de mais de R$ 2 bilhões por ano. Para diminuir a informalidade do setor, os profissionais podem se cadastrar no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) e obter a Carteira Nacional do Artesão, documento que facilita a participação em eventos especializados, como feiras, exposições, treinamentos e outros.

Com informações da Agência Minas

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