Em 2018, apenas uma seleção campeã do mundo não participou do Mundial da Rússia. A Itália foi a maior decepção das eliminatórias europeias e foi eliminada na repescagem pela Suécia. Os italianos, tetracampeões do mundo, também fizeram feio nas Copas de 2010 e de 2014, quando foram eliminados na primeira fase. Um fiasco total depois do título conquistado em 2006 sob a batuta do zagueiro Fabio Cannavaro.
Motivos mais do que suficientes para impulsionar algumas decisões por parte da federação italiana. Será que o desempenho medíocre estaria ligado à formação? Pode ser que sim e, por isso, algumas ações começaram a ocupar o espaço nos debates pela reformulação do futebol italiano. Ações que poderiam muito bem ser repetidas por aqui. Vou explicar agora quais são.
A primeira delas é reformular a divisão dos direitos de TV para privilegiar os clubes que mais escalarem jogadores formados nas categorias de base. A ideia é destinar 10% do valor, algo hoje em torno de 120 milhões de euros por temporada, de acordo com o jornal “Gazzetta dello Sport”.
Um claro incentivo para o trabalho de formação e uma constatação de que existe uma dificuldade clara em revelar atletas. O reflexo, obviamente, chega à seleção italiana, que recorre de forma cada vez mais às naturalizações, como a do volante brasileiro Jorginho. A proposta será votada pelo parlamento da Itália.
De acordo com o jornal italiano, se a proposta for aprovada, serão levados em conta os minutos em campo somados pelos jogadores de 15 a 21 anos em três edições da Série A, a primeira divisão local. Outro critério é considerar apenas os atletas que tenham, ao menos, três anos no clube, independentemente da nacionalidade.
De acordo com o site Trivela, na atual edição da competição, apenas nove jogadores atenderiam os critérios citados acima — eles estão espalhados por sete clubes. Em tese, seriam esses que dividiram a bolada. O site explica também que a divisão das cotas de TV reserva 20% dos valores para a audiência e para a média de público. Essa parte seria reduzida a 10% para receber a nova proposta.
Equipes reservas
Outra ação que pode trazer benefícios para o futebol italiano é a utilização de equipes reservas. Na próxima temporada, a federação vai permitir que os times B dos clubes da elite atuem na Série C, a terceira divisão local. A Espanha, por exemplo, usa esse modelo, enquanto a Inglaterra tem uma liga separada para os reservas.
A ideia é permitir que esse espaço também seja utilizado pelos jogadores mais jovens, que terão mais chances de desenvolvimento e de amadurecimento. Tudo isso é reflexo de pesquisas que mostram que a manutenção de jovens nos clubes é bem baixa.
As equipes reservas vão ter que atender critérios exatamente para tentar amenizar isso. Entre os 23 jogadores relacionados para os jogos, 19 deverão ser nascidos a partir de janeiro de 1996 (ou seja, 23 anos em 2019) e 16 devem estar inscritos há pelos menos sete anos em um clube italiano. E, se jogarem cinco partidas na mesma temporada na Série A, não podem voltar para a equipe reserva naquele mesmo torneio.
Como seria no Brasil?
Levando em conta que o Brasil não vence uma Copa há 16 anos (vai completar 20 em 2022), um investimento em jovens não seria uma má ideia. A cada ano que passa, os clubes brasileiros perdem jogadores cada vez mais novos e, por mais que a realidade na Itália seja completamente diferente, ações semelhantes por aqui poderiam causar um bom efeito e bons resultados.
Por que não valorizar e incentivar a permanência dos jovens por aqui? Quando falamos de colocar dinheiro no bolso, todos os olhos crescem. Por que não criar métodos para que os talentos fiquem por mais tempo no Brasil? As cotas de TV seriam um bom caminho, assim como a adoção de times B em competições adequadas.
Por aqui, nunca funcionou bem os campeonatos sub-23 ou de aspirantes. Pode ser que estejam faltando novas ideias. Se a Itália, que não ganha um Mundial há menos tempo que o Brasil, já atestou isso, quem sabe não chegou a hora de o pessoal daqui rever alguns conceitos?
Nosso futebol já deixou de ser há algum tempo sinônimo de qualidade incontestável e passou da hora de fazer o nível crescer. Investir e valorizar os jovens pode ser uma das soluções.
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