Desconheço mulheres que sejam totalmente despreocupadas com a balança. Umas se preocupam por questões puramente estéticas, outras para garantir saúde e algumas se preocupam porque aprenderam que se preocupar era necessário. Eu ainda não me decidi se me encaixo totalmente em uma das três possibilidades, mas sei que, quando estive na França, os quilogramas me importavam menos que o fato de possuir apenas um estômago.
Sou aficionada por pães. Gosto tanto que, para mim, dispensam inclusive acompanhamentos. Ontem, naquelas conversas de bar, falávamos sobre peso e padarias.
Comentei que casei me sentindo um hipopótamo de tão gorda, mas que esse sentimento passou no momento que comi o primeiro croissant em Paris durante a lua de mel.
Qualquer justificativa era válida para degustar um pão diferente: “Ah! Estamos andando a pé… essas calorias vão ser queimadas facilmente”, “Não sei quando terei a oportunidade de comer novamente”, “Estou em lua de mel, preciso estar bem disposta”, “A quantidade de pão é proporcional à minha felicidade momentânea”.
O fato é que eu queria ter uns dez estômagos para aproveitar todas as possibilidades de panificação que a Europa me apresentava.
O livro “Cozinha Italiana Completa” (de Antonio e Priscilla Carluccio, ed. Globo), que está na minha prateleira há alguns anos, foi revisitado hoje para trazer uma receita. Os autores relatam que, no período pós-guerra na Itália, as famílias faziam suas massas em casa e levavam para os padeiros assarem.
A ideia era aproveitar a caloria dos fornos das padarias, logo após findada a fornada de pães matinais. O pós-guerra foi um período de escassez de recursos, então, madeira, farinha, ovos, os ingredientes básicos para um bom pão eram preservados como relíquias.
Fico imaginando a riqueza de sabores possíveis nesse período. Cada casa tinha sua colônia de micro-organismos específicos que dariam um sabor na fermentação característico daquela família. Paraíso para um entusiasta da panificação.
A receita de hoje é para os padeiros não profissionais que vivem dentro de cada um de nós: um buccellato Lucchese. Um bolo simples, com mais cara de pão, que é uma especialidade em Lucca, na Toscana. O legal desse bolo é sua durabilidade longa, desde que conservado em um recipiente com tampa.
Aproveitando a oportunidade, nesta semana teremos em Uberlândia mais um jantar literário, com o menu “Manoel de Barros: Voar Fora da Asa é Preciso”. As reservas podem ser feitas até o dia 21 de novembro. Mande um Whatsapp para o número (34) 99190-0067 ou nos procure em nossas redes sociais, na página do Facebook e no perfil no Instagram!
Receita do buccellato Lucchese
Ingredientes
- 500 g de farinha de trigo
- 175 g de açúcar refinado
- 60 g de manteiga sem sal (temperatura ambiente)
- 2 ovos batidos (separe um pouco para pincelar sobre o bolo)
- 1 xícara de chá de leite com 25 g de levedura de cerveja ou 10 g de fermento fresco (se estiver em Uberlândia o pessoal da B3 Beer pode ajudar)
- 60 g de uvas passas (se você for da turma que demoniza a pobre fruta, substitua por damascos picados)
- 15 g de anis
- 1 pitada de sal
Misture todos os ingredientes para massa (exceto frutas, sal e anis) até obter uma massa macia e uniforme. Adicione as frutas, o sal e o anis. Misture bem e deixe descansar por 2 horas enquanto cresce.
Corte pedaços com as mãos e modele em forma de salsicha. Com uma faca (ou estilete), faça cortes diagonais no topo de cada bolo. Pincele com ovo e deixe descansar novamente por mais 1 hora.
Asse por 1 hora em forno pré-aquecido a 190°C.
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