Dizem que crônica é um gênero essencialmente brasileiro. Pois esta seleção de três coletâneas acrescenta um argumento forte a esse indício. Os cronistas brasileiros ajudam a criar a sensação de que esse tipo de texto é algo inerente ao país.
A proposta desta coluna é indicar, a cada semana, três livros de um determinado tema. Estes exemplares da crônica mostram a força do gênero e como ele vem marcando a história brasileira.
Boa leitura!
Bom Dia Para Nascer, de Otto Lara Resende
Pouco mais de 20 anos depois da primeira edição, o livro foi relançado pela Companhia das Letras com nova seleção, feita por Humberto Werneck. São textos que o jornalista mineiro escreveu para a “Folha de S. Paulo”, as crônicas da página 2, que tratavam do Rio de Janeiro. Mas não só.
Otto Lara Resende escrevia sobre política, pessoas e fatos cotidianos com a leveza que seu texto imprimia sem deixar de lado uma certa ironia, um olhar mais crítico sem precisar lançar mão de palavras fortes ou ser tão direto que qualquer interpretação ficaria aniquilada. Um dos grandes exemplares da crônica, leitura obrigatória para quem gosta do bom texto.
200 Crônicas Escolhidas, de Rubem Braga
Lançada em 2013, na comemoração do centenário do nascimento do cronista, a coletânea é o melhor item da série que marcou a efeméride — há volumes sobre natureza e entrevistas feitas em Paris, além de textos escritos na 2ª Guerra Mundial. A edição comemorativa da Record é pobre em periféricos — a capa dura é o único item. Merecia mais — um posfácio, pelo menos.
A seleção foi feita pelo próprio autor, com base numa pré-edição de Fernando Sabino. Se não há acréscimo, resta o principal, o texto de Braga, as observações raras e bem costuradas, leves e muitas vezes líricas. É biscoito fino.
O Homem ao Lado, de Sérgio Porto
Primeiro lançamento da obra do cronista pela Companhia das Letras, que vai colocar no mercado títulos de crônicas sobre futebol e de seu pseudônimo, o humorista Stanislaw Ponte Preta. O projeto é tocado por Sérgio Augusto, que escreveu a apresentação do título inaugural. A maioria dos textos da seleção foi publicada na revista “Manchete”, na década de 1950.
Está lá o humor que marcaria seu duplo, mas está lá, principalmente, como em todos os outros nomes acima, o observador, que consegue tirar de um fato banal uma certa poesia. A crônica que dá título ao volume é o exemplo mais contundente, e estar na abertura é a melhor prova de que Porto era, mais do que um cronista, um grande contador de histórias.
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