O presídio de Sete Lagoas vai receber em março do próximo ano o projeto Luz para a Liberdade, uma ação inédita no país que vai usar bicicletas estacionárias para gerar energia elétrica. A iniciativa, desenvolvida pela Cemig , com o aval da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas e da Vara de Execuções Penais do município, vai gerar uma economia de até 5% na conta de luz do presídio e ainda vai ajudar a reduzir a pena dos presos.
Mais que o benefício financeiro, entretanto, o projeto representa uma esperança para a população carcerária de Minas, uma vez que a ideia é estendê-lo para o sistema prisional do Estado. Além de proporcionar ao detento uma atividade física, em um local onde a regra costuma ser a ociosidade, vai ajudar a reduzir a pena dos condenados. Pela lei, a cada três dias trabalhados, há uma redução de um dia na pena do preso.
A ideia, como explica o responsável pelo projeto, o engenheiro Márcio Eli Moreira de Souza, é usar, em Sete Lagoas, cinco bicicletas, que vão trabalhar de 8 a 12 horas por dia. Nesse período, as pedaladas dos presos serão convertidas em energia elétrica, que será comprada pela Cemig e o valor será usado para reduzir a conta de luz que é paga mensalmente pelo presídio.
Os detentos que vão pedalar as bicicletas estacionárias no presídio de Sete Lagoas, que tem capacidade para cerca de 450 homens, serão selecionados após exames médicos e de aptidão física. De acordo com o engenheiro Márcio Eli, os presidiários poderão trabalhar em dois ou três turnos, cada um com quatro horas de duração.
Cada preso vai pedalar por 15 minutos, com um intervalo de 45 minutos para descanso. Como são cinco bicicletas, serão 20 presos por turno, com cada um pedalando, no total, 1 hora. Com dois turnos, de acordo com o engenheiro Márcio Eli, a economia na conta de luz pode chegar a 3%. Se houver um terceiro turno, totalizando 60 presos pedalando 12 horas diárias, a economia pode chegar a 5%.
A intenção da Secretaria de Estado de Segurança, como conta Márcio Eli, é expandir o projeto para outros presídios do Estado. Já há uma demanda, segundo ele, para que o Luz para a Liberdade seja implantado nas Apacs, um modelo de prisão em que os próprios detentos são responsáveis pela segurança. Nessas unidades, o número de bicicletas pode ser maior e, consequentemente, a redução na conta de energia também.
Inspiração
O engenheiro Márcio Eli, que é do departamento de Engenharia e Normalização da Cemig, conta que o Luz para a Liberdade foi inspirado num projeto desenvolvido pelo presídio de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas. Lá, inicialmente com duas bicicletas estacionárias, os presos produziam energia para iluminar parte de uma praça da cidade.
“Pensamos em criar algo parecido, mas com mais tecnologia”, lembra Márcio Eli. No segundo semestre de 2015, o engenheiro e sua equipe começaram o trabalho para tirar a ideia do papel. A primeira missão foi estabelecer as negociações com o Judiciário, que concordou em financiar a iniciativa com recursos de um fundo destinado à Vara de Execuções Penais, e com a secretaria estadual de Segurança Pública, que administra o presídio.
Com o dinheiro assegurado, no total de R$ 150 mil (embora não tenha ainda sido liberado), a equipe da Cemig começou a buscar parceiros que pudessem desenvolver a tecnologia para transformar as pedaladas nas bicicletas em energia elétrica e desenhar o modelo da bicicleta estacionária.
Por se tratar de um equipamento que estará dentro de um presídio, há todo um cuidado com a segurança. As bicicletas não podem, por exemplo, ter nenhuma parte removível, uma vez que há risco de que ela possa ser usada como uma espécie de arma.
Coube à empresa paulista PHB desenvolver o equipamento para converter as pedaladas em energia e injetá-la na rede da Cemig. A MIB Mecânica Industrial, de Contagem, ficou encarregada de desenvolver o protótipo da bicicleta.
“Com a liberação dos recursos por parte da Vara de Execuções Penais, o que esperamos para fevereiro ou março, já estaremos prontos para iniciar o processo de produção de energia dentro do presídio usando as bicicletas estacionárias”, afirma o engenheiro Márcio Eli.