Projeto de dança em Araguari exporta talentos e transforma vidas

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Giuliano Antonio, aluno do projeto Adote um Artista, hoje dá aulas de sapateado em escola de Washington - Foto - Divulgação

Araguari – A praça Nilo Tabuquini, em Araguari (a 570 km de Belo Horizonte), em frente à Paróquia Bom Senhor Jesus da Cana Verde, a igreja Matriz, é o endereço de um recanto que já entrou para a história da cidade.

No entorno da praça, considerada por historiadores como o berço da cidade, surgiram as primeiras construções urbanas, como a igreja, que data do século 18. E a história desse recanto começou a ganhar vida nova dois séculos depois, em 1978, quando a bailarina e coreógrafa Alexandra Gebrim Nader, hoje com 53 anos, decidiu realizar o sonho de criar uma escola de balé, a primeira da cidade.

No número 139 da praça nascia o Studio de Dança e tia Alexandra, como é conhecida na cidade, foi a responsável por corrigir posturas e ensinar muitos “pliês” e “tendus” a suas alunas e alunos. Ao tentar se lembrar de quantos já se passaram por ali, após 38 anos de escola, perde-se nas contas.

Mas qual o diferencial da escola de dança da tia Alexandra, já que em quase toda cidade do estado e do Brasil existe um estúdio de dança? Em 2004, a bailarina resolveu dar um outro significado para sua escola e criou a Fundação Artística Mineira Pró-adolescente (Fama). O objetivo era levar a dança para jovens de baixa renda, para que ela pudesse ser um instrumento de transformação em suas vidas. E daí nasceu o projeto Adote um Artista.

Desde a criação do projeto, 13 anos atrás, Alexandra diz que mais de mil jovens passaram pelo Adote. E o que mais alegra a bailarina é ver como a dança impactou a vida da grande maioria dos seus alunos. Além de não pagarem nada pelas aulas (balé clássico, jazz, sapateado e street dance), a Fundação dá para as crianças que entram no Adote, a partir dos 9 anos de idade, uniforme e o material cênico.

“O projeto é mais um filho que tive. Tenho um carinho muito grande por ele e sinto que, por meio deste trabalho, os alunos têm mais chances de serem felizes, de talvez terem um futuro diferente e, quem sabe, de vislumbrar a possibilidade de crescer, a oportunidade de  inserção no mercado de trabalho e outras perspectivas na vida”, diz Alexandra Gebrim.

Das crias dessa gestação que tanto se orgulha, muitos “filhos do projeto” hoje ajudam na formação de outros “filhos” e assim a família não para de crescer. Giulianno Antônio, Júlio Cesar, Nayara Muniz, Gabriela Oliveira, Géssica Andrade dos Santos, Ana Laura Morais, Iorranya Rodrigues, Marcos Paulo Jorge, todos de origem humilde, são alguns dos exemplos de alunos do projeto social que viraram professores e hoje em dia ensinam e inspiram crianças e adolescentes que estão começando na dança.

Oportunidade no exterior

A bailarina Nayara Muniz ganhou um trofeu de dança no Rio e recebeu como prêmio uma bolsa de estudos nos Estados Unidos. Foto - Divulgação
A bailarina Nayara Muniz ganhou um troféu de dança no Rio e recebeu como prêmio uma bolsa de estudos nos Estados Unidos. Foto – Divulgação

Nayara Muniz é uma dessas alunas que virou mestre. Ela conta que viu sua primeira apresentação de dança da escola da tia Alexandra quando tinha 9 anos. Ficou tão encantada que convenceu a mãe a levá-la até ao estúdio para ver se conseguia aprender a dançar. A mãe concordou, mas havia alertado a filha que, talvez, não fosse possível arcar com as despesas do curso. Lá chegando, ficaram sabendo do projeto Adote um Artista e ela pode se matricular.

Hoje professora, os olhos de Nayara brilham quando o assunto é sapateado. Ela fala com entusiasmo, por exemplo, do troféu que conseguiu ganhar no Desafio TAP Rio 2015, considerado o maior evento de sapateado do Brasil. “Nesse desafio, concorri com 16 sapateadoras do Brasil, outras dos Estados Unidos e Argentina, mas consegui levar o troféu para casa e ganhei uma bolsa de Estudos da Chloé Arnold e da Maud Arnold em Washington, em um festival de sapateado que se chama DC Tap Festival”, conta.

De aluna do projeto social a professora, além de vários outros prêmios, Nayara já teve a oportunidade de se apresentar em várias partes do Brasil e reconhece a importância que o Adote um Artista teve em sua vida. “O projeto mudou a minha vida porque, se ele não existisse, talvez eu não teria conhecido o sapateado e chegado até aqui. Tenho certeza de que ele tem a mesma importância na vida dos meus alunos”, diz ela. Sua ida para os Estados Unidos está prevista para o início do próximo ano.

O sapateador Giuliano Antonio, outro filho do projeto da tia Alexandra que a enche de  orgulho, também coleciona vitórias. Filho de uma bailarina da escola, mas também de família humilde, desde agosto deste ano ele está em Washington dando aulas em uma escola de sapateado. Foi também professor da escola de tia Alexandra e, junto com Mariana Izidro, outra bailarina do mesmo projeto, criou o TAP Show, um evento anual que é realizado em Araguari e que já está na sua quarta edição.

Os “filhos do projeto” vão de crianças a jovens adultos que encontraram na dança e na oportunidade que lhe deram um caminho diferente para seguir. Se puderem continuar dançando por ele, será muito difícil que mudem de rota.

 

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