No “modo” vivendo e aprendendo

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Soldado brasileiro preparando o que teria sido o primeiro tiro brasileiro na Segunda Guerra. Foto Lawrence-V.-Emery
Soldado brasileiro preparando o que teria sido o primeiro tiro brasileiro na Segunda Guerra. Foto Lawrence-V.-Emery

Por aqui, quando se tem entendimento sobre alguma coisa a gente diz que sabe de cor.  Você já parou pra pensar nessa expressão? De cor? Quem me cutucou com a vara curta foi a escritora Cris Lisboa. E num é que ela também tinha esse estranhamento?

Voltando à vaca fria (outra expressão a ser decifrada), curiosa, a Cris foi à cata de explicações para saber, de fato, o que é esse tal de “de cor”.

“Saber de cor” significa saber bem, recorrendo à memória. O termo vem da palavra latina “cor”, que significa “coração: e “conhecimento”. Ainda hoje, em francês, se diz saber “par coeur” (“saber de coração”). No fundo, “saber algo de cor” é saber algo de forma profunda, quase intuitiva, como se viesse do coração.  Tá lá no livro Nas Bocas do Mundo –Uma Viagem pelas Histórias das Expressões Portuguesas, do Sérgio Luís de Carvalho. Trocando em miúdos, “saber de cor” é ter sempre em mente um fato marcante, algo que nos tocou o coração.

Só nesse início de prosa já recorri a duas expressões corriqueiras. Se a gente analisar à luz do dia (epa!) as duas não fazem muito sentido. “Vaca fria”? “Trocando em miúdos”?  ” (Trocando em miúdos pode guardar …” Ah, esse Chico Buarque que mexe demais comigo!)

Mas, de novo, a tal “vaca fria” nada mais é que retornar ao assunto principal em uma conversa, discurso ou discussão. Ocorre quando se é interrompido por divagações em temas periféricos. Vivo fazendo isso. Mas como é que a vaca entrou nessa história?

Originalmente, a expressão nada tinha a ver com as vacas. Fui “googlear” e descobri que segundo o professor Ari Riboldi, autor do livro “O Bode Expiatório'”, essa é a tradução de uma expressão muito usada na França. A “revenouns à nous moutons”, ou seja, voltemos aos nossos carneiros. A frase fazia parte da peça teatral “A farsa do Advogado Pathelin”, que tratava sobre um roubo de carneiros. Riboldi só não explica como é que a “vaca fria” do nosso português passou da gastronomia para a situação descrita na farsa francesa. O jeito é passear pelo Google de novo. Lembrando que a velha “Barsa”, tão útil na nossa infância, continua dormindo empoeirada na estante daqui de casa. Será que o Bernardo e a Juju sabem o que é “Barsa”? A conferir.

Voltando ao estranhamento, você  tá achando que parou por aqui, né mesmo? Que tal “chorar as pitangas”? E “pão duro”? Já se pegou usando ” acabar em pizza”? E a “cobra vai fumar”? Tem mais. “Amigo da onça”, “santo do pau oco”, “pagar mico”,” picar a mula”, ” rodar a baiana”. Isso só pra citar algumas.

Sobre a “cobra vai fumar”, o assunto voltou a baila (“voltou a baila”? Eu, heim? ) porque o Bernardo publicou uma foto de um pracinha com a legenda “A cobra vai fumar”. A foto veio com uma explicação,  sobre a qual há controvérsias.  A Sofia, nossa historiadora preferida, socorreu o Bê e deixou tudo bem explicadinho:

  • A foto é real, mas o fato não foi bem assim. Isso de que era mais fácil a cobra fumar do que o Brasil ir pra guerra é uma frase atribuída ao Getúlio Vargas. E não foi pra difamar nada. Era só porque o Brasil realmente não tinha preparo militar pra ir pra um embate do porte da Segunda Guerra Mundial. Mas é claro que com o tempo isso foi mudando (…)  E essa foto é bem interessante porque retrata o primeiro tiro do Brasil na guerra.

Pois, é! Vivendo e aprendendo com os mais novos. Por falar em novidade, meus sobrinhos estão usando “mitou”, “lacrou”, ” acabar em pizza”. Sobre essas expressões, prefiro não comentar. Deixo as explicações para a nova geração dos Bicalho Resende.

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