O nosso vizinho Paraguai, apesar de estar cercado por países, como o Brasil, onde a pandemia do coronavírus vem provocando grandes estragos, é um exemplo no controle da Covid-19. Até o início dessa semana, o governo paraguaio registrava só 1.379 casos de infectados e 13 mortes.
Que lições o Paraguai pode dar ao Brasil, que é o segundo país do mundo em número de mortos pelo novo coronavírus, com mais de 53 mil óbitos? A primeira delas: o governo do país, ao contrário do brasileiro, entendeu o risco que o vírus poderia representar para os paraguaios, que tem uma população muito pobre e um sistema de saúde precário.
Antes mesmo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretasse estado de pandemia, o Paraguai decidiu adotar medidas drásticas como prevenção. Ainda no início de fevereiro, quando não havia nenhum caso de covid registrado, o presidente Mario Abdo Benítez suspendeu os vistos para todos os cidadãos da China, bem como para qualquer estrangeiro que viajasse para o país asiático.
Em 10 de março, três dias antes da confirmação de dois casos da doença no país (um do Equador e outro da Argentina), o presidente paraguaio decidiu decretar o isolamento preventivo em todo o país. As aulas foram suspensas, foram adotadas restrições para eventos públicos e privados e declarado toque de recolher à noite.
Poucos dias depois, o governo decidiu aplicar medidas mais rigorosas e decretou quarentena total. A população precisou ficar trancada em casa e só podiam sair para comprar comida e remédios, em caso de emergência ou se fossem trabalhadores essenciais.
“Ao contrário de outros governos, como o México ou o Brasil, o Paraguai conseguiu enviar uma mensagem clara e agiu de forma consistente, o que permitiu à população respeitar as decisões e agir com responsabilidade”, explicou Juan Carlos Portillo, diretor-geral de Serviços de Saúde do Ministério da Saúde Pública e Bem-Estar Social do Paraguai.
Fronteiras fechadas
Outra decisão tomada pelo governo paraguaio que ajudou a evitar a disseminação do vírus foi o fechamento de suas fronteiras com a Argentina e o Brasil em 24 de março. No ocasião, o presidente Mario Abdo Benítez chegou a dizer o Brasil era “a principal ameaça” na luta contra a pandemia. Os estragos feitos pelo coronavírus entre os brasileiros mostra que o paraguaio, infelizmente, tinha razão.
As fronteiras, até hoje, continuam fechadas. A cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, faz fronteira seca com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero. De um lado da rua, é Brasil, do outro, Paraguai. O governo paraguaio decidiu, então, estender uma cerca de arame farpado ao longo da fronteira para evitar o trânsito de pessoas.
Outra decisão foi a de enviar soldados para a região de fronteira para impedir a entrada tanto de automóveis quanto de ônibus por comerciantes ou residentes brasileiros. “Enquanto houver evidências de que a situação no Brasil não esteja melhorando, não há motivos para abrir as fronteiras”, justificou o representante do ministério da Saúde. Isso porque, segundo ele, “se o Brasil espirrar, o Paraguai terá uma pneumonia”.
Aspectos geográficos
Pesou também no fato de o Paraguai não ter tantos casos de covid alguns aspectos geográficos. O país não tem saída para o mar e sua capital, Assunção, tem menos tráfego aéreo do que grandes cidades. como São Paulo e Buenos Aires.
O tamanho da população também ajudou. O país tem cerca de 7 milhões de habitantes e sua densidade demográfica é de apenas 17 pessoas por quilômetro quadrado. Em São Paulo, por exemplo, um dos estados mais afetados pelo coronavírus, a densidade demográfica é de 7.300 habitantes por quilômetro quadrado.
Mas baixa população não significa, necessariamente, sucesso no controle do novo coronavírus. No Panamá, por exemplo, com pouco mais de 4 milhões de habitantes, foram registrados, até meados deste mês, 22.587 casos de Covid-19 e 470 mortos.
Flexibilização
O sucesso das políticas implementadas pelo governo paraguaio para tentar conter a propagação do coronavírus está permitindo que as regras comecem a ser afrouxadas. No início de maio, foi estabelecida a chamada de “quarentena inteligente”, que foi dividida em quatro fases. Algumas medidas de confinamento foram relaxadas e algumas atividades econômicas puderam ser reabertas.
No último dia 15 de junho, passou a ser permitida a compra de ingressos para teatro e drive-in, bares e restaurantes, bem como academias e centros esportivos, foram reabertos, mas com capacidade limitada, uso de máscara e distanciamento social. Essa fase vai durar até a próxima semana, início de julho.
O governo do Paraguai sabe, entretanto, que não se livrou em definitivo do coronavírus e, portanto, vai continuar em estado de alerta. “A complacência, a sensação de triunfo pode ser nosso pior inimigo”, diz o representante do Ministério da Saúde. O que significa que, caso o vírus volte a dar sinais de que pode retornar, medidas mais restritivas serão adotadas.
Com BBC Brasil