Ano que se vai, recheado de turbulências, crises, violência física e verbal, desesperança e um certo receio de ver como será 2019. O país pós-eleição ainda é uma incógnita, por isso, conhecer mais este Brasil se torna praticamente uma tarefa obrigatória.
Na última edição da coluna Bússola neste 2018, indico três livros que revisitam a história do Brasil por meio de gêneros e caminhos diferentes. Conhecer as profundezas deste país talvez seja uma forma de enxergar um futuro mais promissor.
A coluna deseja a todos uma ótima passagem de ano!
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Brasil — A História Contada Por Quem Viu
Organizado por Jorge Caldeira, o livro (ed. Mameluco) pega personagens, testemunhas de época, para dar sua versão dos acontecimentos. De anônimos a nomes fundamentais para o país, os fatos ganham uma visão particular, de quem participou do momento narrado.
É uma delícia ler o padre franciscano Vicente do Salvador contar que em 1627 a “autoridade pública não tinha nenhum interesse além de colher suas rendas e direitos”.
Um frei revela que Tiradentes pediu para o carrasco apressar sua execução, Lima Barreto escreve sobre a abolição da escravidão, Euclides da Cunha fala sobre o velório de Machado de Assis (“No fastígio de certos estados morais concretizam-se às vezes as maiores idealizações. Pelos nossos olhos passara a impressão visual da posteridade…”), Cláudio Abramo comenta a inauguração de Brasília, surgem reportagens sobre o sequestro da poupança em 1990 e a entrevista de Pedro Collor.
Longe do academicismo, o livro capta os momentos cruciais e periféricos pelo olhar vivo, próximo, e reconta com um sabor improvável esta história por vezes tão esquecida.
Vultos da República
Esta é uma coletânea de perfis publicados pela revista “Piauí”, publicada em 2010. Capta nomes importantes a época, com políticos ligados ao PT e PSDB, que polarizavam a disputa naquele ano.
Como não podia deixar de ser, os perfis passam pelo mensalão, com o histórico perfil do caseiro Francenildo, e pelos fundos de pensão de Sérgio Rosa, além de visitar Márcio Thomaz Bastos.
O livro, da coleção Jornalismo Literário da Companhia das Letras, mais do que um recorte, reflete um país enfiado num jogo de egos. Talvez seja a leitura ideal para abrir o horizonte e compreender o que aconteceu.
O Brasil em Movimento
“O maior impedimento é a burocracia”, interrompeu um dos engenheiros enquanto entrávamos no carro para almoçar na cidade, “a burocracia brasileira”.
Poderia ser um declaração dada por alguém que estivesse trabalhando em qualquer obra privada ou estatal hoje, mas não. O trecho é parte de “O Brasil em Movimento” (Benvirá), relato das viagens que John dos Passos fez ao país em 1948, 1958 e 1962 pela revista “Life”. Ele visitava, na época da declaração acima, as obras da ferrovia do rio Doce, que iria se transformar no principal canal de transporte de minérios. Iria conhecer depois obras no interior do Paraná e da construção de Brasília.
O livro é cruel. Passos tenta entender o modo de ser do brasileiro, principalmente da classe política, suas entranhas e vícios. O relato, de forma impressionante, é atual.
Destaco mais alguns trechos:
“Esses céticos estavam aplicando para os brasileiros o velho ditado que costumava ser utilizado para os turcos: sempre construir, raramente terminar e nunca consertar.”
“As estradas eram ruins. O serviço ferroviário não podia ser pior. Os governos estadual e nacional estavam muito distantes. Deu um soco na mesa e soltou uma frase frequentemente repetida: ‘O Brasil cresce à noite enquanto os políticos dormem… Iniciativa!’.”
“Não há como ver a cidade sem ser de carro. Em Brasília, um homem sem carro é um cidadão de segunda classe. Os habitantes mais pobres terão de desenvolver rodas em vez de pés.”
“Os prédios já concluídos permaneceriam como mais um monumento à mania brasileira de projetos grandiosos postos em marcha precipitadamente.”
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E não se esqueça: esta quinta-feira (27/12) é o último dia para concorrer a um kit de 3 livros. Neste post, a gente explica como funciona a inscrição, que é supersimples. Aproveite, são três livros excelentes que vão chegar na sua casa.