Esta é a semana em que se celebra a Consciência Negra, cujo ápice é o dia 20 de novembro, data que homenageia Zumbi. Por isso, as indicações da coluna Bússola são de três autoras negras brasileiras, que compõem um bibliografia reflexiva e necessária.
Boa leitura!
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Olhos d’Água
Conceição Evaristo foi saudada como grande autora na Flip-2017 e cotada para assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, mas a escritora mineira ainda navega à margem no mercado editorial brasileiro. Aos 71 anos, seu trabalho aparece mais em coletâneas do que em obras próprias.
“Olhos d’Água” (Pallas) reúne 15 contos de temática única (e necessária): os problemas diários que a negra enfrenta no Brasil. Cada conto funciona quase como uma minibiografia de uma mulher. Como o título do prefácio, retirado de um dos contos mais fortes (“A Gente Combinamos de não Morrer”), explicita: “Minha mãe sempre costurou a vida com fios de ferro”.
Conceição Evaristo é capaz de com poucas palavras imprimir um senso de urgência e uma secura na garganta. As mulheres estão lá. Jovens, adultas, idosas, com seus dilemas naturais e os enfrentamentos que têm de vivenciar obrigatoriamente, por serem mulheres, negras, pobres. Sua literatura é dramática e, até agora, incapaz de sensibilizar o Brasil — e esse é um problema nosso.
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada
Assim como acontece com Conceição Evaristo, falta a Carolina de Jesus o reconhecimento no Brasil. Este livro, lançado pela Ática, é mais conhecido no exterior do que por aqui. Ela é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras dos últimos tempos.
Boa parte de sua vida foi passada em uma favela em São Paulo, e Carolina trabalhava como catadora de papel para sustentar os filhos. Nos poucos intervalos de descanso, escrevia diários.
Seu livro mostra como era viver em uma favela na década de 1950, sendo mulher e negra. Leitura fundamental para estes tempos.
Úrsula
Este livro é considerado como um dos primeiros romances escritos por uma mulher no Brasil. O feito é maior ainda quando se leva em conta que Maria Firmina dos Reis era negra, nascida no Maranhão. Em 1859, época da publicação do livro, era um desafio e tanto superar tantas barreiras.
O livro conta a história de Tancredo e Úrsula, que se apaixonam enquanto têm que lidar com obstáculos para viver seu amor. Apesar do tom romântico, Maria Firmino discute criticamente a escravidão, ao retratar a crueldade que imperava na época.
O relançamento da Penguin-Companhia das Letras tem introdução e contextualização histórica, o que ajuda a compreender a importância do romance.
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