Nada melhor do que um feriado para colocar algumas coisas em dia, não é mesmo? Para a turma que vai ficar em casa, largada no sofá e com o controle remoto na mão, chegou a hora de colocar os filmes de futebol em dia.
E nem preciso dizer que a Netflix é uma opção e tanto também para os fãs de esporte. Aproveitando o ensejo, vou indicar três pérolas que ainda estão no catálogo e que merecem ser vistas por quem ama futebol.
I Believe In Miracles
Imagina um clube que se habituou a frequentar a segunda divisão, subir e logo na primeira temporada ser campeão nacional na elite? É um feito para poucos, não é? E quando esse mesmo clube conquista nas duas temporadas seguintes o título continental? Milagre ou uma história de cinema, não é?
Mas isso aconteceu com o Nottingham Forest, da Inglaterra, e é o tema deste documentário sensacional. O próprio título já diz tudo.
Lançado em 2015, reúne imagens incríveis da segunda metade da década de 1970, quando aconteceu o feito. São cenas de jogos, da torcida ensandecida e da própria cidade, famosa pela lenda de Robin Hood. Mas são os depoimentos de quem fez história que chamam a atenção. Personagens não faltam, como o treinador Brian Clough, o goleiro Peter Shilton, John Robertson e Martin O´Neill, entre outras lendas do futebol inglês.
Para situar o leitor, o Forest, fundado em 1865, é um dos mais antigos clubes de futebol do mundo. Na década de 1970, além de frequentar a segunda divisão (onde está atualmente, inclusive), não tinha uma sala de troféus recheada. Na prateleira, duas FA Cups, a Copa da Inglaterra, conquistadas em 1898 e em 1959. De destaque mesmo na elite, apenas um vice-campeonato, na década de 1960.
Terceiro colocado na segundona em 1977, o Forest levantou o seu único título inglês em 1978, o que lhe valeu a vaga na então Copa dos Campeões, a atual Champions League. E, em 1979, contra todos os prognósticos, foi campeão europeu. E quem disse que um raio não cai no mesmo lugar? O Forest foi bi em 1980. Quem acompanha o futebol europeu sabe o tanto que é difícil conquistar a Champions League duas vezes seguidas. Imagina para um clube desse porte.
A incrível trajetória (para mim, a maior de um campeão europeu) está disponível no Netflix. Não perca.
Forever Pure
O protagonista deste documentário é o Beitar Jerusalem, clube de Israel que se notabiliza, entre outros feitos dentro de campo, pelo seu racismo — o filme não deixa de mostrar como ele é institucionalizado de uma forma geral também no país.
A história, triste, expõe o preconceito. Seus torcedores, especialmente uma parte conhecida como “La Familia”, se orgulha de o Beitar ser um clube que jamais teve um jogador árabe em seus elencos. Isso iria mudar em 2012, quando seu novo presidente, de origem russa e candidato fracassado a prefeito de Jerusalém, decide trazer alguns novos jogadores para o elenco.
Sim, é o que você imagina. Dois jogadores muçulmanos, originários da Chechênia, são contratados. O desenrolar da história é possível imaginar, mas o documentário, lançado em 2016, mostra de forma direta (e cruel) todo o martírio dos dois atletas em Israel. Tudo apresentado na cara e com as devidas doses de excesso: nacionalismo, racismo, intolerância religiosa… Enfim, um soco no estômago.
The Real Football Factories
Esta é uma série indicada para quem se interessa pela história do hooligans, os arruaceiros que tomaram conta dos estádios ingleses entre as décadas de 1970 e 1990 e espalharam não só confusão como também muita violência por todo o país e também na Europa.
Em seis capítulos, sendo cinco dedicados para a Inglaterra e um para a Escócia, o documentário entra fundo nas questões sociais que ajudaram o fenômeno a se desenvolver. Diretamente ligado ao caos social que a Inglaterra viveu no final dos anos 1970, o hooliganismo foi a válvula de escape para muitos jovens que não tinham qualquer oportunidade de trabalho.
Os capítulos mostram diversas rivalidades espalhadas pelo Reino Unido. Quem apresenta, o ator Danny Dyer, se infiltra nas organizações para ver de perto como tudo acontece. E o buraco é bem embaixo.
Para se ambientar e também ter a exata noção sobre com quem estava mexendo, Dyer teve o auxílio de um dos mais famosos (e temíveis) hooligans que se tem notícia: Cass Pennant, torcedor do West Ham, um dos clubes retratados nesta série. Você também vai ver como o bicho já pegou quando se encontravam fãs de Liverpool, Everton, Stoke City, Millwall, Chelsea e Tottenham, além dos torcedores escoceses e daqueles que acompanham a seleção da Inglaterra.
A série, que é icônica, foi lançada em 2006, quando os ecos do auge do hooliganismo ainda eram muito recentes. Hoje, apesar de ainda existirem alguns problemas, a realidade é bem diferente e a situação mais controlada. O próprio sistema de policiamento inglês aprendeu a lidar com a violência nos estádios e arredores e hoje é um dos mais eficientes e exemplares do mundo.
O sucesso dos episódios britânicos impulsionou a produção de capítulos ao redor do mundo, em locais como Sérvia, Turquia, Argentina e Brasil. Esse material, exibido pela ESPN no país há alguns anos, ainda não está disponível via Netflix, mas vale uma busca para os fãs mais ávidos que, tenho certeza, vão adorar esses primeiros capítulos.
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