Esse “nada como um dia depois do outro” dá uma animada na gente, né mesmo? Traz esperança. Afinal, você há de convir comigo que sobreviver nesse ringue da vida real é só para os fortes. Mudar o curso das coisas não anda lá uma tarefa muito fácil. Por aqui a gente vai vivendo entre tarecos, bolos e biscoitos. Já contei que a cozinha é meu playground?
Pois, então! Vira e mexe estou lá dentro, imersa entre batedeiras, tigelas (há quem as chame de bowl), fouets (também conhecido como batedor de massas e claras), fornos e fogões, farinhas, manteigas fermentos e muitas lembranças do tempo da delicadeza.
Por falar nisso, o pedido insistente do Beto e as indiretas da Jacqueline são meio caminho andado para remexer nos cadernos em busca do tareco perfeito e da brevidade que derrete na boca. O tareco já saiu. Quanto à brevidade, ainda estou devendo. Aliás, esses nomes são bem interessantes.
– Ah, Gisele, que falta de assunto! Lá vem você de novo com essa história de nomes de comidas que fazem festa no céu da boca. Há poucos dias foi a vez do fubá mimoso, do amor aos pedaços e afins.
Verdade. Mas juro que não é falta de assunto. Por aqui acontece de tudo. E esse tudo sempre rende pano pra manga. Haja história para contar. A verdade é que se a palavra tareco traz sonoridade, faz “crec crec” na memória, a brevidade, como diriam “blogueirinhos e blogueirinhas, “mexe com o meu emocional”. Brevidade, logo penso, tem a ver com finitude, de algo feito para não durar. Em se tratando de amor, brevidade pode não ser exatamente uma palavra agradável de se ouvir. Será que o ou a cara metade vale a pena? Vai saber, né? No fim das contas, a perfeição só existe mesmo na nossa imaginação, nos doramas e nos kdramas.
Mas, se por outro lado, a metade da laranja for dispensável, essa brevidade virá a calhar.
Viagens à parte, de volta ao ponto, falando sobre o objeto de desejo da Jacqueline, no caso, a quitanda, conheço brevidade desde sempre. Vovó fazia com frequência; Mamãe, também. A receita está na nossa família há gerações. Brevidade nada mais é do que um bolinho leve e aerado, que derrete na boca. Pode também ser um bolão. Isso se você assar em uma forma maior. O tamanho e o formato vão depender do gosto do freguês. A receita é simples. Leva pouquíssimos ingredientes, entre eles, o polvilho azedo ou amido de milho (maisena), açúcar e ovos.
Ninguém conhece ao certo de onde veio. O que se sabe é que o bolinho nasceu nas cozinhas coloniais. É brasileiríssimo. A receita pode variar de região para região. E mesmo que você não seja um confeiteiro ou confeiteira de mão cheia, a sua brevidade terá pouquíssimas chances de dar errado. Vai muito bem com café ou no chá. Combinação perfeita para as tarde outonais. Puro encantamento. Eu adoro esse tempinho morno, com essa luz de fim de tarde absolutamente linda.
Pensando aqui que toda essa conversa sobre brevidade, chá, café e tardes outonais tem tudo a ver com o aparelho de porcelana que herdamos da Mamãe. Está guardado a sete chaves. Nunca é usado. Está sempre à espera de uma ocasião especial que nunca chega. E o medo de quebrar uma peça? Está completinho. Além das xícaras de chá e de café, tem pratos de sobremesa, sopeira, tigelas, travessas, pratos rasos e fundos. É lindo. Os tons de rosa se misturam a frisos dourados. Mas não pense em nada over (melhor, brega, né? Vai que a tal da Cíntia Chagas, por um acaso qualquer, resolva se envolver nessa prosa. Fugindo de tretas). O aparelho é chic e discreto. Mais que isso, é uma preciosidade. Tem o DNA da Mamãe em cada detalhe.
Dito tudo isso, planejando aqui em assar uma fornada de brevidade para agradar a Jacq. Vou servir as belezuras nas peças do aparelho da Mamãe. Aproveitando que as tardes ainda são outonais. Inverno já está dando as caras.
Indo. Mas antes, pra você não achar que sou do tipo que esconde receita, que sou que nem aquela sua amiga que “esquece” ingrediente, deixo aqui como presente o passo a passo da nossa brevidade. Na verdade, são duas receitas: uma com maisena, mais econômica, pois leva poucos ovos, e, a outra, com polvilho doce, essa com muitos ovos. Só faça. Depois me conte. Até a próxima. E que seja breve.
Brevidade de maisena
2 xicaras de maisena
1 xícara de açúcar
3 ovos
1 colher de manteiga
1 colher (sobremesa) de fermento
Bata tudo junto até que se formem bolhas. Leve ao forno em forminhas untadas.
Brevidade de polvilho
1 kg de polvilho doce
1 kg de açúcar refinado
14 ovos
Bata tudo junto até que se formem bolhas. Leve ao forno em forminhas untadas. Não coloque muita massa nas forminhas, pois crescem muito.
Só faltou na receita saudade…
E num é que minha brevidade saiu, aerada e com sabor de saudade…
Amei?
Obrigada, JacqCustosa!
Muito bom!
Muito obrigada, JR! Sua passada d’olhos pelo meus escritos me faz muito feliz. Beijo pro cê.
Muito obrigada, JR! Sua passada d’olhos pelo meus escritos me faz muito feliz.
Não tem como eu ler seus escritos e não me transportar lá para ” o tempo da delicadeza”E junto com aromas,sabores vem aquela saudade,que até dói ,das histórias contadas pela dona Nely.Aí a magia ficava completa.Tudo tinha outro tom,outro sabor,pura poesia e amor
Obrigada,Gisele, por abrandar, um pouco, esta saudade imensa❣️😍❤️
Que delícia Gisele! Vou fazer, depois te conto! Muito obrigada 😘