Não sei você, mas eu tenho uma forte conexão com o sagrado. Gosto dos ritos, das celebrações, dos cânticos. Tô ali, assistindo missa, compenetrada, até que o celebrante diz algo. Uma palavra, uma frase. É o que basta para que esse meu velho, combalido e machucado coração bata descompassado. É um tal de tum, tum, tum que nem te conto. E assim, em cada missa, encontro um pedaço de mim mesma, um fragmento da minha fé que se fortalece e se renova.
Foi o que aconteceu em 2021. Durante a celebração de Corpus Christi, Padre Adriano nos brindou com preciosidades. Na homilia, ao falar sobre a diferença entre o alimento físico e o alimento espiritual, Padre Adriano inspirou-se em Santo Agostinho. “Se o primeiro é necessário para o nosso corpo, o segundo é vital para o nosso sentido existencial. Se um nos mantém vivos, o outro nos dá a vida”.
Não satisfeito, provocou, citando a minha querida Adélia Prado – “Tô com fome. Eu queria uma missa agora.” O Padre concordou com a poeta. Assegurou que o alimento espiritual sacia a nossa eterna busca, o nosso desejo, a fome que a gente tem de Deus. Para encerrar, Padre Adriano resgatou o Salmo 42:
“Como a corça anseia por águas correntes, / a minha alma anseia por ti, ó Deus. / A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. / Quando poderei entrar/ para apresentar-me a Deus? / Minhas lágrimas têm sido o meu alimento/ de dia e de noite, / pois me perguntam o tempo todo: “Onde está o seu Deus?” / Quando me lembro dessas coisas, / choro angustiado. / Pois eu costumava ir com a multidão, / conduzindo a procissão à casa de Deus, / com cantos de alegria e de ação de graças / em meio à multidão que festejava. / Por que você está assim tão triste, / ó minha alma? / Por que está assim tão perturbada / dentro de mim? / Ponha a sua esperança em Deus! / Pois ainda o louvarei; / ele é o meu Salvador e / o meu Deus. / A minha alma está profundamente triste; / por isso de ti me lembro / desde a terra do Jordão, / das alturas do Hermom, / desde o monte Mizar.”
E assim, a partir daí, os domingos se tornaram ainda mais especiais para mim. Hoje, além das missas que alimentam a minha fé, me sustentam, preparam e fortalecem o meu espírito para a semana que se anuncia desafiadora, me abrigo nos almoços em família. Uma homenagem aos nossos pais e irmãos que já se aninharam no colo de Deus. Não dançamos mais debaixo da mangueira. O nosso bailarino agora dança em outros salões. Ficamos sem par. E dançar sozinha é muito chato. Ou alguém sabe bailar ao som de um bolero sem um cavalheiro que conduza a dama? Papai fazia isso com muita elegância e ritmo.
Poderia me estender aqui sobre os nossos domingos. Falar sobre a comilança, sobre as bebidas (quanto aos excessos, o melhor é abafar o caso), lembrar dos reencontros, das conversas bobas que terminavam e ainda terminam em muitas risadas. E por que não sobre as brigas? Qual é a família que não discute, né? Por aqui, essas desavenças costumam render muitos memes. Ainda bem que a gente não perdeu o jeito e ainda sabe rir de si mesmo. Aliás, como diz o Petrônio Souza, “coisa boa desta vida é passageira, hoje é domingo, amanhã, segunda-feira”. Eu concordo muito. A segunda tem enorme potencial de piorar se a gente não fizer o domingo valer a pena. E essa frase não é minha, mas cabe direitinho nessa prosa. Aqui em casa a gente se esforça, apesar de naquela mesa estar faltando ele, ela e eles. Tem dado certo. Indo. Até a próxima.
Parabéns querida. Lendo como se fosse os domingos daqui de casa. Sensacional!
Obrigada! Casa mia, casa tua.
Adorei! Quantas lembranças boas me chegaram agora! Obrigada amiga!
Quem lhe agradece sou eu, minha querida!
Você como sempre arrasa, e eu com o coração cheio de satisfação, tive o prazer consedido por Deus de bailar com o melhor.
Um privilégio, né mesmo? Beijo pro cê, amada minha.
Que lindo! Tocou profundamente a minha alma! Obrigada Gi!❤️