Em conexão com os domingos sagrados

7
578
"Naquela mesa está faltando ele..." Foto - redes sociais

Não sei você, mas eu tenho uma forte conexão com o sagrado. Gosto dos ritos, das celebrações, dos cânticos. Tô ali, assistindo missa, compenetrada, até que o celebrante diz algo. Uma palavra, uma frase. É o que basta para que esse meu velho, combalido e machucado coração bata descompassado. É um tal de tum, tum, tum que nem te conto. E assim, em cada missa, encontro um pedaço de mim mesma, um fragmento da minha fé que se fortalece e se renova.
Foi o que aconteceu em 2021. Durante a celebração de Corpus Christi, Padre Adriano nos brindou com preciosidades. Na homilia, ao falar sobre a diferença entre o alimento físico e o alimento espiritual, Padre Adriano inspirou-se em Santo Agostinho. “Se o primeiro é necessário para o nosso corpo, o segundo é vital para o nosso sentido existencial. Se um nos mantém vivos, o outro nos dá a vida”.
Não satisfeito, provocou, citando a minha querida Adélia Prado – “Tô com fome. Eu queria uma missa agora.” O Padre concordou com a poeta. Assegurou que o alimento espiritual sacia a nossa eterna busca, o nosso desejo, a fome que a gente tem de Deus. Para encerrar, Padre Adriano resgatou o Salmo 42:
“Como a corça anseia por águas correntes, / a minha alma anseia por ti, ó Deus. / A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. / Quando poderei entrar/ para apresentar-me a Deus? / Minhas lágrimas têm sido o meu alimento/ de dia e de noite, / pois me perguntam o tempo todo: “Onde está o seu Deus?” / Quando me lembro dessas coisas, / choro angustiado. / Pois eu costumava ir com a multidão, / conduzindo a procissão à casa de Deus, / com cantos de alegria e de ação de graças / em meio à multidão que festejava. / Por que você está assim tão triste, / ó minha alma? / Por que está assim tão perturbada / dentro de mim? / Ponha a sua esperança em Deus! / Pois ainda o louvarei; / ele é o meu Salvador e / o meu Deus. / A minha alma está profundamente triste; / por isso de ti me lembro / desde a terra do Jordão, / das alturas do Hermom, / desde o monte Mizar.”
E assim, a partir daí, os domingos se tornaram ainda mais especiais para mim. Hoje, além das missas que alimentam a minha fé, me sustentam, preparam e fortalecem o meu espírito para a semana que se anuncia desafiadora, me abrigo nos almoços em família. Uma homenagem aos nossos pais e irmãos que já se aninharam no colo de Deus. Não dançamos mais debaixo da mangueira. O nosso bailarino agora dança em outros salões. Ficamos sem par. E dançar sozinha é muito chato. Ou alguém sabe bailar ao som de um bolero sem um cavalheiro que conduza a dama? Papai fazia isso com muita elegância e ritmo.

Poderia me estender aqui sobre os nossos domingos. Falar sobre a comilança, sobre as bebidas (quanto aos excessos, o melhor é abafar o caso), lembrar dos reencontros, das conversas bobas que terminavam e ainda terminam em muitas risadas. E por que não sobre as brigas? Qual é a família que não discute, né? Por aqui, essas desavenças costumam render muitos memes. Ainda bem que a gente não perdeu o jeito e ainda sabe rir de si mesmo. Aliás, como diz o Petrônio Souza, “coisa boa desta vida é passageira, hoje é domingo, amanhã, segunda-feira”. Eu concordo muito. A segunda tem enorme potencial de piorar se a gente não fizer o domingo valer a pena. E essa frase não é minha, mas cabe direitinho nessa prosa. Aqui em casa a gente se esforça, apesar de naquela mesa estar faltando ele, ela e eles. Tem dado certo. Indo. Até a próxima.

7 COMMENTS

  1. Você como sempre arrasa, e eu com o coração cheio de satisfação, tive o prazer consedido por Deus de bailar com o melhor.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here