Há quem ame, há quem odeie. A verdade é que são várias razões por que tenha gente que adore uma festança, enquanto há quem fuja dos “parabéns para você”. Eu, por exemplo, disfarço bem. Mas, a verdade é que sou meio tímida. Se pudesse pularia a data. Dias antes, sinto uma certa angústia, ansiedade. Não sou especialista, mas acho que aí entra o componente da ansiedade social. Li que a ideia de ser o centro das atenções pode causar ansiedade.
Em casa, Mamãe sempre fez questão de comemorar nossos aniversários. Família grande, filhos pequenos. Com jornada tripla de trabalho – era dona de casa, mãe e professora – o jeito era apelar para a criatividade. Assim, em maio, a nossa querida organizava uma festa para comemorar em um só balaio os aniversários dos filhos nascidos em abril e maio. Havia quem protestasse. Eu gostava, porque as atenções eram divididas com a Jacq, com a Denise, com o Osvaldinho e com o Beto.
Cresci, amadureci. Estou envelhecendo, mas essa sensação não mudou. Ainda fico querendo saltar a data. Mas esse desejo passa logo. É que nesse dia, a onda de amor que recebo é tão intensa, tão grande, que o desejo de isolamento milagrosamente se vai. É como uma chuva de verão. Passa logo.
Ihhhh! Posso até sentir o seu estranhamento.
- Uai! A Gisele fala pelos cotovelos, enfrenta as tempestades, costuma dar a volta por cima, chuta o balde, escolheu ser jornalista. Como pode dizer que é tímida?
Entendo você. É estranho mesmo. Mas não fique aí pensando que tem a ver com envelhecimento, com rugas, pele flácida, ossos frágeis, perda de memória. Não se trata disso. Apesar de até hoje não ter encontrado nada de positivo nesse processo, convivo em paz com a idade que tenho. Sei de muita gente que esconde a data. A passagem do tempo pode ser desconfortável para quem se sente ansioso ou insatisfeito com esse processo. Alguns são até famosos. Lembra da Glória Maria (que Deus a tenha. Fale do corpo, mas não fale do espírito)?
Outras pessoas podem se sentir pressionadas por atenderem apenas às expectativas que, muitas vezes, nem são suas, como marcar a data com uma grande celebração, por exemplo. Há também quem espere receber presentes que nunca chegam ou de ser lembrada por pessoas que nunca dão as caras. Tudo isso pode ser estressante. Há também quem associe a data a eventos negativos ou traumáticos em suas vidas. Isso pode fazer com que evite comemorações. Nada disso se aplica a mim. No meu caso é timidez mesmo.
Você deve estar aí se perguntando por que estou dizendo tudo isso. É porque preciso contar que nesse ano não foi diferente. Passei pela fase de querer me esconder, mas me curei rapidinho. O primeiro gesto veio do outro lado do planeta. Um dia antes, quando na Austrália já era 22 de maio, uma mensagem em tempo real de uma amiga querida me preparou para o que viria na sequência.
Horas depois, já no dia seguinte, fui acordada por uma ligação de alguém que é puro amor. Teve também café da manhã de hotel preparado por uma irmã amada, temperado com abraço de urso do irmão querido. E antes que tomasse fôlego, mais abraços de urso de outro irmão e de duas irmãs que viajaram 120 quilômetros só para passar o dia comigo. Mais tarde almoço italiano em um restaurante escolhido a dedo, porque era o preferido da Mamãe e Papai. E como a gente tem DNA de formiga, caminhada curta até uma confeitaria francesa. Ao longo da tarde, centenas de mensagens nas redes sociais, telefonemas, recortes de amor que tornaram o meu dia especial.
À noite, antes de alimentar o meu lado “dorameira raíz”, junto com a lua cheia, recebi a ligação da minha irmã de Brasília. No meio da prosa ela diz que está indo pra cozinha preparar a “pasta e fagioli”, que nada mais é que aquela sopa de macarrão com feijão, a minha preferida. Diz que é pra ela se sentir mais próxima da aniversariante do dia. Dou conta disso? Amor demais, né? Por fim, churrasco coreano regado a muito soju e sakê, porque a gente tem um pezinho na Ásia.
E ainda teve presente de Deus. Miguel, mais um sobrinho neto, chegou horas depois. Lindo, imenso e saudável, como são todos os bebês dessa nossa família grande e barulhenta.
Agora, alimentada pelo amor da família e dos amigos, começo mais uma volta em torno do sol. Sou só gratidão. Obrigada pelo carinho, pelo afeto, pelo abraço, pela palavra, pelo gesto, pelo amor compartilhado.
Pois, “de amor andamos todos precisados! Em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente! Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando”.
A você, a cada um, a todos, o abraço mais forte e o beijo mais carinhoso que eu tenho em mim.
Obrigada, mil vezes obrigada!
Lindo e cheinho de. demonstração de sensibilidade o seu texto.Como sempre você com esta linda capacidade de lidar com as palavrasComungo com você nas reações e sentimentosMe sinto meio assim também,quando a homenageada sou eu
Mas concordo plenamente que amar e demonstrar é essencial
Bom demais poder desfrutar da leitura da sua mágica com as palavras
-Obrigada!Parabéns,de novo!
Muito obrigada, minha querida! Beijos abraçadinhos pro cê.
Tá mudada minha querida. Antes era assim: onde está a Gisele? Viajou, como assim viajou no dia do aniversário? Pois é, me dou de presente uma viagem, eu mereço rsrsrsrsrsr Mudou hein .Bjs
É bem assim mesmo. Depois da pandemia as viagens ficaram mais raras, nem por isso perdi o desejo de colocar asas nos ombros e rodinhas nos pés. Beijo pro cê.
Como vc descreveu bem essa estranha sensação de véspera de aniversário. Sou assim tbm. Deve ser da genética.
Deve ser mesmo. Rss. Beijo pro cê.
Gi, você é uma pessoa muito, muito especial, merece todo carinho do mundo!!!!