A natureza nunca para de nos surpreender, né mesmo? O manjericão, por exemplo, se floresce é para alertar que seu ciclo está chegando ao fim. Quer maneira mais encantadora de um ser vivo se despedir da vida?
- Isso significa que ele vai morrer?
Se você não está atenta aos sinais da natureza lamento lhe informar que sim, seu pezinho de manjericão está com o pé na cova, está com os dias contados. Mas, se ao contrário, você está atenta às miudezas, pode partir para o abraço e comemorar. Ele pode sobreviver, sim. Mas isso só vai ocorrer se você der uma mãozinha à mãe natureza. Começou a floração? Xô preguiça! Pode as hastes floridas. Depois é só deixar a natureza agir. Aposto que você vai se surpreender, porque dias depois lá está o seu manjericão todo faceiro. Lindo, renovado, cheio de energia, perfumando o ambiente e trazendo aquele sabor incrível aos seus pratos. Sua pizza vai agradecer. Seu molho pesto, sua salada e a sua massa preferida também.
Papai era mestre em identificar sinais como esse do manjericão. Ele sabia, por exemplo, se a chuvarada estava prestes a cair. Como? Uai, gado deitado todo amontoado no alto da serra, cupinzada alvoraçada, bando de cigarras cantando a plenos pulmões. Tudo isso são sinais de que a chuva não tarda. O poente se cobriu inteiro de rosa? Lá vem friaca.
Você nunca soube disso? Fique triste, não. Você não está só. Muita gente não sabe.
- Essa Gisele diz cada uma! Que serventia tem para minha vida esse tipo de conhecimento? Basta um clique pra saber sobre o tempo, se vai chover, se vai fazer frio…
Pode até ser, mas a verdade é que a gente aprende todos os dias. Não importa se é com a ancestralidade, se é com o uso da Inteligência Artificial. Nunca pense que você sabe tudo. Somos uma obra inacabada. Talvez esteja aí a graça da vida. A incompletude nos desafia a ter sede de conhecimento.
A propósito, você sabe de onde vem a expressão “isso me custou os olhos da cara”? Você não vai acreditar, mas tem origem em um fato ocorrido no século XV. Surgiu durante a invasão espanhola às Américas. Refere-se ao preço pago pelo conquistador espanhol Diego Almagro. Ao tentar invadir uma fortaleza inca no Peru, o espanhol perdeu um olho. Depois da disputa, ao apresentar-se ao imperador espanhol Carlos I teria afirmado: “Defender os interesses da Coroa espanhola me custou um olho da cara”. O conquistador continuou espalhando seu feito e o custo dele para quem quisesse ouvir. A frase, de tão repetida, chegou aos ouvidos dos soldados – e, deles, foi para a boca do povo.
Como eu sei disso? Ah! Tenho sede de conhecimento. Do inútil também. Tem a ver com as minhas incompletudes. Fiquei sabendo desse espanhol cheio de marra por um post da Maria Beltrão.
Ah, você sabe por que somente o espanhol usado na Espanha é falado com a língua presa? O Jô Soares contou a razão disso em uma entrevista. O Rei Felipe da Espanha nasceu com “anquiloglossia”, nome científico que se dá ao frênulo (freio) encurtado, algo popularmente conhecido como “língua presa”. Pois, então! Em honra ao rei a Corte passou a falar como ele, ou seja, com a língua presa. Querendo demonstrar sofisticação, os burgueses passaram a imitar o jeito de falar da Corte. E a plebe, para não ficar, para trás, incorporou o jeito língua presa de falar.
- E o que eu tenho a ver com isso?
Absolutamente nada. É só mais um conhecimento inútil para alimentar o seu papo em mesas de boteco, para aqueles momentos em que o assunto esgota, todos se calam e passam a mirar em um ponto no infinito. Constrangedor sempre. Ai você lança a pergunta: Você sabe o porquê do espanhou falar com a língua presa? De onde vem a expressão ” essa conta vai nos custar os olhos da cara”. Ai o assunto flui, você pede para descer mais uma cerveja. A noite está ganha com promessas de novos encontros.
Só mais uma coisa: essa história da língua presa me lembra da moda do “gerúndio” que grassou como uma praga aqui na “terra brasilis”. Quem nunca ouviu um famigerado “vou estar pesquisando seu caso” ou “vou estar completando sua ligação”? Credo! Deus me livre e guarde! Chega a doer os ouvidos. Um dia alguém da elite disse essa barbaridade, outro alguém ouviu e adotou, outros copiaram até que chegou ao telemarketing. Ai, valha-me todos os santos e santas! Só Deus na causa. Gente, por caridade, esqueça o gerúndio. Nada de “estar falando” a torto e a direito.
– Mas é errado falar no gerúndio?
Não é não. O gerúndio pode e deve ser empregado. Mas atenção: reserve para expressar uma ação em curso ou uma ação simultânea a outra. Por exemplo, “Chegando a hora de encerrar o seu ciclo, o manjericão floresceu”. Fim da aula de português. Obrigada. De nada.
Ihh, prolixa de novo. Eta cérebro sem freio. De um assunto pulo para outro. Quando dou fé ja falei demais. Indo.
Ah, mas antes, um pedido: nunca descarte as flores do manjericão. São lindas e perfumadas. Quando podo o canteiro ou o vaso uso as hastes floridas para enfeitar o meu altar. Santa Rita, São José, Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora da Conceição e todos os santos que disputam espaço na minha crença agradecem o mimo e retribuem a gentileza com milagres diários. Coisas que acontecem na nossa vidinha cotidiana e que a gente não consegue explicar. Pois, então! Essas miudezas têm o dedo deles. É só ficar atenta aos detalhes e ter fé. Dias melhores virão. Acredite
Que crônica engraçada, uma das melhores dos últimos tempos, adorei sua criatividade e sua curiosidade para descobrir sobre esses ditados populares. Quanto ao uso do gerúndio concordo plenamente com você.
Obrigada!!!!
” amo manjericão”
Obrigada, Lucianara! Seu comentário chega como um sopro, trazendo energia para esse meu dia que foi assim, como diria, meia boca. Beijo pro cê.
Muito legal parabéns
Obrigada pelo elogio! Obrigada por ler meus escritos.