Não é de hoje que a lua encanta a humanidade. Nos últimos dias ela tem se mostrado exuberante. Desconheço quem fique imune a tanta beleza e magnetismo. Senhor Carlos, um taxista que me atendeu num fim de tarde, início da noite, não economizou nos elogios:
- “Diferente do sol, todos só falam bem da lua. Pra proteger a pele é preciso usar filtro solar. Mas, me diga, você já ouviu falar em filtro lunar?”, perguntou o meu interlocutor. Sem argumentos, concordei. Foi o que bastou para que o senhor Carlos continuasse a dissertar entusiasmado sobre a lua.
Lembrou que o satélite interfere diretamente nas marés, que orienta o produtor rural sobre o que e quando plantar, dá as cartas quando se trata de cortar o cabelo… “É tão importante para quem mora na roça que até dá nome para passarinho”, disse ele, referindo-se ao Mãe da Lua, uma avezinha que vive pacificamente no cerrado. -“O Mãe da Lua não faz mal a ninguém. Deve ser por isso que tem esse nome”, concluiu o senhor Carlos.
E não é só o senhor Carlos que se interessa pela lua. Apesar do ceticismo de alguns, a verdade é que ela é o único satélite natural que já foi visitado por um ser humano. Em 1969 a Nasa, agência espacial americana, enviou uma missão à lua, eternizando Neil Armstrong como o primeiro homem a pisar na superfície lunar.
Na sequência desse fato histórico vários cientistas continuaram buscando entender as dinâmicas que tanto impactam na vida dos terráqueos. Isso sem falar em vários fenômenos que ocorrem em parceria com outros corpos celestes, como o eclipse lunar, a lua vermelha e a super lua.
Pesquisando no Google li que a lua também serve como uma proteção extra ao planeta Terra. “Funciona como um escudo protetivo contra a queda de asteroides e cometas. Também tem influência na inclinação do eixo terrestre, assim como no movimento de rotação, que permite a sucessão entre os dias e as noites terrestres”.
Ciência à parte, a lua foi e ainda é uma eterna fonte de inspiração de poetas, músicos, compositores e dos apaixonados de plantão. “Lua adversa”, poema de Cecília Meirelles que me traduz, é um deles:
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…
Vinícius de Moraes é outro. O poetinha inspirou-se na lua para criar a sua canção de ninar:
“(…) Dorme, meu amor
Como no céu a lua
Tu serás sempre meu
E eu só tua (…)
E para falar sobre a solidão, a Florbela Espanca apelou pra quem mesmo? Pra lua, uai!
“Eu tenho pena da lua
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha! (…)
Do contra, Manuel Bandeira escolheu desmistificar a bonita:
“(…)
Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
-Satélite.”
Do outro lado do Atlântico, Fernando Pessoa falou sobre a lua sob a ótica de várias pessoas.
“A Lua (dizem os Ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma ideia se perde.
(…)
A Lua (dizem os Ingleses)
É azul de quando em quando.
Pensa que acabou? Que nada! A lua sempre deu pano pra manga. Há até quem ouse matá-la. Você acredita? Miguel Torga, por exemplo.
“Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento (…)”
E quem não conhece a Ismália? Eu simplesmente amo esse poema de Alphonsus de Guimaraens.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
(…)
Poderia ficar aqui por horas. Só citei alguns poemas. Há também uma relação infinita de músicos que cultuam a lua. A lista vai de Inezita Barroso a Caetano Veloso, de Billie Holliday a The Police, passando por Benito de Paula, Skank, Paula Fernandes, Paralamas, Melin … Não dá pra dimensionar quem e quantos são os apaixonados. Mas vou parando por aqui. É que a lua vai nascer daqui a pouco. E não dá para perder esse espetáculo.
Ontem quando ela nascia silenciosa e exuberante fiquei sem palavras…
Só agradeci ao nosso bom Deus tamanho espetáculo.
Expressou tudo o q sinto c relação a lua.
Divinamente linda.🙏
Esse poema da Cecília Meireles diz muito sobre todas nós.
É a nossa cara, né?
Não resisto a lua cheia. Há alguns dias, estive na casa da minha irmã em Oliveira. Ao anoitecer, saiamos para o jardim,perfumado pela dama da noite, para contemplar a lua cheia.